Estado de emergência não anima líderes cristãos

Portas Abertas • 9 jul 2004


Líderes cristãos do estado central nigeriano de Plateau afirmam que a imposição de um estado de emergência naquele local não dará fim ao conflito religioso violento entre muçulmanos e cristãos.

De acordo com o reverendo Alexander Lar, presidente da Igreja de Cristo na Nigéria, a maior denominação cristã em Plateau, o estado de emergência chegou tarde demais a fim de impedir a quase completa obliteração das igrejas, realizada por militantes muçulmanos da cidade de Yelwa e da área do governo local de Wase.

"Para alguns de nós que temos enfrentado estas crises desde 2001 até o momento, sentimos que foi uma apunhalada em nossas costas", Alexander contou à Compass, na cidade de Jos. "É como se nós não estivéssemos fazendo nada em Plateau. Por que o estado de emergência agora e não antes, quando tudo foi destruído? Essa é a nossa pergunta, porque para nós, muitas vidas foram destruídas".

Conflitos violentos entre as populações muçulmanas e cristãs na Nigéria nos últimos três anos resultaram em mortes de, pelo menos, dez mil pessoas (alguns líderes cristãos apontam uma estatística de vítimas acima de 25 mil pessoas), em desalojamento de mais de milhares e na destruição de propriedades que valem milhões de dólares.

As duas legislaturas do congresso nigeriano aprovaram o estado de emergência para o estado de Plateau, em seguimento aos ataques contra muçulmanos na cidade de Yelwa, em 2 de maio, na qual uma estimativa de 350 pessoas morreram nas mãos de milícias cristãs. Muçulmanos na região nordeste da cidade de Kano organizaram um ataque em represália na semana seguinte, que terminou com centenas de outras vítimas cristãs.

Concernente a implementação do estado de emergência, o presidente nigeriano Olusegun Obasanjo demitiu o governador civil de Plateau, Joshua Dariye, e nomeou o general militar aposentado Chris Alli como o único administrador para supervisionar os negócios do estado, durante o período de seis meses.

A ação trouxe críticas imediatas dos líderes cristãos por todo o estado de Plateau. No mês passado, o Dr. Benjamin Kwashi, bispo da diocese da igreja Anglicana de Jos, contou aos representantes na reunião do Nono Sínodo da igreja, na cidade de Bukuru, que, ao contrário das exigências amplamente publicadas pelas fontes do governo e da mídia, a crise no Plateau não surgiu das lutas sobre o controle de terras de fazendas e de áreas de assentamento tradicional, mas de outras diferenças religiosas e políticas entre muçulmanos e cristãos. "Se as crises não forem religiosas, como as igrejas seriam afetadas?" questionou Kwashi.

"Apesar disto, nós solicitamos que o estado de emergência seja revisto, a fim de dar espaço ao processo democrático para tentar novamente o governo do povo de Plateau," adicionou Kwashi, que serve como Conselheiro sobre Negócios da Juventude para o presidente Obasanjo.

No final do Sínodo, em 20 de junho, ministros anglicanos anônimos endossaram com unanimidade uma declaração que dizia, em parte, que "Nós informamos no ano passado o ataque às igrejas nas áreas de Wase, Kadarko e Yelwa e nós mencionamos claramente que, embora os agressores muçulmanos alegassem terem sido provocados por assuntos que envolvem áreas de fazendas, tradicionais de assentamento, ou mesmo por assuntos sócio-políticos, que não tinham a ver com a igreja, os cristãos foram as primeiras vítimas do ataque violento muçulmano".

Em uma entrevista na revista Insider Weekly, o reverendo Yakubu Pam, presidente da sede local do estado de Plateau da Associação Cristã interdenominacional da Nigéria, chamou o estado de emergência "injustificado".

"Como cristãos, nós olhamos para isto como simplesmente um trabalho na agenda de algumas pessoas", afirmou Pam. "Nós não estamos felizes com isto. Isto é uma grande injustiça. As pessoas ainda continuam a serem mortas. Por isso, nós ainda estamos em estado de perigo", adicionou ele.

O General Alli trabalhou como administrador militar em Plateau e é bastante aceito pelos residentes do estado. Alli dirigiu-se ao culto da igreja em Jos no mês passado. Suas observações foram relatadas no jornal The Guardian. "Nós vimos destruição o suficiente", Alli contou à audiência. "Eu quero lhes dizer que o que aconteceu nos últimos três anos fez com que Plateau retrocedesse fisicamente, economicamente e socialmente mais de dez anos".

Alli estima que a crise religiosa causou tanto dano que custará ao governo mais de doze bilhões de naira (.6 milhões de dólares) para reconstruir a infra-estrutura do estado. Ele concluiu dizendo que a paz não pode ser imposta em Plateau por ordem militar ou coação, mas somente se a polarização dos muçulmanos e cristãos for, de alguma forma, controlada.

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