Portas Abertas • 6 out 2004
Enquanto o Haiti sofre uma série de desastres nacionais, um porta-voz da comunidade cristã da nação da ilha disse que os cristãos estão enfrentando riscos ainda maiores.
Mais de 1.500 pessoas morreram nas enchentes causadas pela tempestade tropical Jeanne. Isso aconteceu depois que os Estados Unidos foram obrigados a situar uma Força de Paz na ilha a fim de apagar a violência política que sucedeu a expulsão do presidente Jean-Bertrand Aristid, em fevereiro.
Haitianos, entretanto, encontraram pouca paz no Haiti. A delinqüência excessiva transformou a ilha em uma nação sob o comando de gangues criminosas. A onda crescente de crimes, desde a saída de Jean-Bertrand Aristide, custou a vida de um dos mais proeminentes cristãos da ilha, no começo desse mês.
Assalto foi o aparente motivo da morte de Jean-Moles Lovinksky Bertomieux, de 43 anos, no dia 13 de setembro, um ministro batista haitiano que mantinha um programa de rádio cristão. Jean estava a caminho de seu trabalho na Port-au-Radio Caraibes Prince para transmitir seu popular programa "Morning Manna". A polícia prendeu três homens envolvidos com o assassinato.
Dezenas de milhares de pessoas compareceram no funeral de Jean, no dia 19 de setembro, em um anfiteatro próximo ao Palácio Nacional. "Ele era grandemente apreciado pelos haitianos, tanto evangélicos como não-evangélicos", disse Boxley Boggs, diretor internacional da missão UFM International.
De acordo com reportagens, muitos dos que foram ao funeral de Jean estavam lá a fim de chamar atenção para a crescente onda de crimes e para exigir do governo uma reação.
"Crime é algo que não se pode controlar no Haiti", disse Julio Volcy, um pastor haitiano que vive nos Estados Unidos. "Todos na igreja são afetados, incluindo os evangélicos, porque nós somos parte da sociedade. Estamos lidando com uma guerra espiritual e o diabo fará qualquer coisa para nos deter", Julio disse. "Temos que estar de joelhos a todo instante e constantemente na Palavra de Deus".
Enoc Lucien, plantador de igrejas e pastor da Livre Igreja Evangélica de Cap Haitien, disse que lacunas da lei podem levar ao aumento de ataques contra cristãos."Isso poderia acontecer se alguém usasse o caos como uma plataforma para ferir os cristãos," Enoc disse. "Às vezes, nós temos pessoas que se salvam, mas suas famílias querem feri-las ou afastá-las deles".
Paul Shingledecker, um missionário da Missão Evangélica Mundial, que serviu no Haiti por 23 anos antes de sair do país em dezembro, disse que gangues armadas têm assediado o Haiti. "Eu conheço várias pessoas que foram roubadas, incluindo missionários, nas últimas semanas", disse Paul, que retornou para o Haiti no meio de setembro, como um consultor temporário da estação de rádio cristã Rádio Lumiere, ou Rádio Luz.
"Isso afeta todo mundo no Haiti. Qualquer um corre risco e não serão apenas os evangélicos. Há muitas armas por aí. Às vezes a situação assusta", Enoc disse. "É imprevisível, é frustrante, mas essa é a vida no Haiti".
Enoc estima que ele tenha sido assaltado uma dúzia de vezes em 2003, a maioria por alguém armado. Ele lembra-se de uma semana na qual ele foi atacado três vezes. Miraculosamente, ele conseguiu escapar de cada assalto.
Reportar roubos às autoridades é inútil. "No Haiti, se você não tiver sido morto, não foi um crime", Enoc disse. De acordo com ele, o roubo nunca foi considerado um crime. Um ladrão é simplesmente "alguém tentando achar uma maneira de sobreviver", ele disse.
Isso afeta seu ministério. Enoc costuma realizar de dois a três cultos por semana em uma igreja que ele plantou, mas os cancelou porque não pode mais ir até aquela área de noite.
O Haiti mantém o não invejável recorde de ser a nação mais pobre do hemisfério norte. A renda per capta anual, no país de 8,2 milhões de pessoas, é de 310 dólares.
Boxley, que viveu no Haiti por 14 anos durante sua carreira missionária, une-se a muitos observadores do Haiti, que acreditam que a desgraça do país e a fatalística visão de mundo advêm da escuridão espiritual. "A raiz de tudo é o vodu. O espiritismo é muito real e bastante poderoso, e não se precisa viver muito tempo no Haiti para perceber isso. È muito fatalístico. As pessoas pensam: Eu não tenho o controle da minha vida. O haitiano comum sempre pensa sobre como aplacar esse estado de espírito pelo sacrifício".
Alguns observadores acreditam que o infortúnio do Haiti pode ser ligado a uma revolta de escravos em 1791, durante a qual os rebeldes solicitaram assistência contra seus senhores franceses dedicando o país a espíritos vodus.
Curandeiros são geralmente as pessoas mais respeitadas em aldeias haitianas porque seus batuques têm o poder de conjurar espíritos. Muitos haitianos - e muitos estrangeiros familiares ao Haiti - vêem o vodu como "patrimônio cultural".
De acordo com a Operação Mundo, 22 por cento do Haiti é evangélico. A Operação Mundo nota que os evangélicos são abertamente contra o vodu. Como resultado, os cristãos geralmente enfrentam perseguição mística em forma de bruxarias e magias.
Apesar do recente crescimento da violência, Boxley diz que gangues e outros problemas sociais que afligem constantemente o Haiti eram piores com o presidente Jean-Bertrand Aristide, incluindo a perseguição de cristãos.
Apesar dos riscos, Enoc disse que as pessoas estão correspondendo ao Evangelho. Ele citou uma igreja plantada em agosto em uma cidade a 32 km ao sul de Cap Haitien. Pelo final de setembro, duzentas pessoas a estavam freqüentando.
"À medida que pregamos o Evangelho, pessoas estão achegando-se a Cristo e estão mudando", ele disse.
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