Portas Abertas • 18 dez 2004
Aldeões em uma pequena ilha Indonésia que recentemente se uniram para procurar seu pastor desaparecido, encontraram uma camiseta vermelha com três furos de bala nela, na praia próxima a casa dele.
Até o momento, o reverendo Jarok Ratu, de 35 anos, oriundo do vilarejo de Labuang, distrito de Namrole, na ilha Buru, ainda está desaparecido - dez dias após um grupo de homens não-identificados o seqüestrarem nas primeiras horas de 03 de dezembro. Ratu pastoreou a Igreja Pentecostal local.
Um porta-voz da sede da Kepolisian Daerah Maluku, uma unidade policial em Ambon, que controla Maluku e as províncias do norte de Maluku, disse que a polícia estava questionando um suspeito que tinha conhecimento sobre o seqüestro, informou o jornal Sinar Harapan.
O suspeito foi detido às duas horas da última sexta-feira. Alguns planos foram feitos para transferir o homem de barco para a ilha próxima de Ambon a fim de realizar maiores investigações.
A polícia, até o momento, recusou identificar o suspeito pelo nome. "Nós temos uma suspeita que ele é um dos perpetradores", disse o major Endro Prasetyo, um porta-voz da sede da polícia provincial.
Conforme Prasetyo, a polícia interrogou pelo menos cinco testemunhas a respeito do seqüestro. As autoridades enviaram quatro detetives para a ilha de Buru para investigar o caso.
O prefeito da ilha de Buru, Husni Hentihu, disse aos repórteres que ele havia designado uma equipe de investigação especial para examinar o seqüestro.
O reverendo Henry Lolaen, presidente da Igreja Pentecostal local da província de Maluku, afirmou que os membros da igreja Ratu procuraram o pastor no dia posterior ao seqüestro, mas somente encontraram a camiseta vermelha que Ratu estava vestindo. Havia três furos de bala na parte frontal da camiseta, mas nenhuma mancha de sangue.
A senhora Ratu afirmou que seu esposo foi levado por um barco a motor. Ela não viu o barco porque aquela noite estava muito escura, mas ela pôde ouvir o som do motor.
Ela disse que oito homens chegaram diante da porta de sua casa às duas horas da madrugada, usando máscaras e carregando uma arma. Eles bateram na porta e quando ela foi aberta, apontaram a arma para Ratu e para a sua esposa e lhes exigiram dinheiro.
Lolaen explicou que Ratu há pouco recebeu uma doação significante do Governo da provincial de Maluku, do prefeito da ilha de Buru, e de um número de organizações não-governamentais (ONGs), para a construção de um novo prédio para a nova igreja. A quantia total da doação era de, aproximadamente, dez milhões de rupiah (.086 dólares).
Outras igrejas na província de Maluku também receberam fundos para a construção de novos prédios ou para consertar prédios danificados."Há uma possibilidade que o seqüestro esteja relacionado aos fundos", disse Lolaen.
Conforme as informações do jornal Sinar Harapan, Ratu disse aos invasores que ele já havia depositado os fundos em duas contas bancárias, no Banco Mandiri e no Banco Negara Indonésia. Os invasores, então, exigiram-lhe a caderneta de depósito bancário que, mais tarde, foi encontrada em uma rua do vilarejo de Labuan.
Os seqüestradores então, levaram Ratu e disseram para a esposa dele que eles somente "o tomariam emprestado" e pretendiam libertá-lo.
Uma informação da agência de notícias Komintra declarava que o seqüestro poderia estar relacionado à violência sectária que teve início na área, há dois anos. A maioria dos residentes no distrito de Namrole é muçulmana, enquanto, aproximadamente 25 por cento é cristã.
Em 03 de dezembro, uma ONG estrangeira informou que havia muitas igrejas na ilha. Atualmente, somente três permanecem: uma igreja Aliança, uma igreja Assembléia de Deus e a igreja Pentecostal do pastor Ratu.
Uma fonte independente em Ambon confirmou que Labuang é um dos poucos vilarejos na ilha de Buru que ainda tem sua própria igreja. Labuang está entre dois vilarejos muçulmanos e também é um porto, onde balsas e barcos de pesca freqüente mente param para carregar e descarregar mercadorias.
Neste ínterim, em 4 de dezembro, uma informação da Diocese do Centro Cristão de Amboina declarou que a luta havia começado entre os dois vilarejos muçulmanos no norte da ilha de Ambon, em 1º de dezembro, resultando na morte, por agressão, de Ismael Wael, proveniente do vilarejo de Wakal e em ferimentos de outras quatro pessoas.
Assim, em 2 de dezembro, residentes de Wakal vingaram-se, atacando o vilarejo de Mamua, queimando quinze casas e destruindo outras dezenas. Um segundo ataque de um grupo de homens mascarados que tentaram invadir o vilarejo de Wakal pela praia foi impedido por uma equipe da polícia móvel.
O Centro de Crise apontou que os conflitos sectários de 1999 a 2000 deixaram marcas nas ilhas de Maluku. As pessoas atualmente recorrem, com mais freqüência, para a violência sempre que o conflito surgir.
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