Extremistas hindus atacam igreja

Portas Abertas • 16 jun 2005


Cerca de duzentos extremistas hindus atacaram uma igreja em Moti Chowk no distrito de Durg durante um culto evangélico no último dia seis desse mês.

Esses extremistas fazem parte da Bajran Dal, braço jovem da Vishwa Hindu Parishad (ou Conselho Mundial Hindu). Estavam fortemente armados, e, segundo testemunhas oculares, foram acompanhados por dois oficiais da polícia.

O pastor Jaichand Dongre e outros membros da igreja foram atacados fisicamente. A multidão também invadiu a igreja, pegando Bíblias e outras literaturas cristãs, além de instrumentos musicais.

Nove membros dessa igreja - sete homens e duas mulheres - foram levados até a delegacia.

De acordo com fontes locais, eles foram acusados de "atrapalhar o sossego alheio", conforme a Seção 151 do Código Penal, que declara: "Qualquer um que conhecidamente se reúna ou permaneça em assembléia de cinco ou mais pessoas comprometendo o sossego público, depois que tal assembléia receber ordem de se dispersar, deverá ser punida com prisão de até seis meses, ou multa, ou ambos".

Dongre e sua congregação se reuniam pacificamente em pleno acordo com os artigos 19 e 25 da Constituição Indiana. O Artigo 19 promete o direito de liberdade de expressão e de se reunir pacificamente sem armas, enquanto que o Artigo 25 prevê a liberdade de consciência e livre profissão, prática e propagação da religião.

Testemunhas disseram que a polícia agrediu Dongree fisicamente várias vezes e tentou humilhá-lo. A multidão seguiu Dongre até a delegacia e também o agrediu, sem a intervenção dos oficiais da polícia.

Quando um representante da Minority Commission em Madhya Pradesh, Patras Hábil, contatou a delegacia por telefone, ele foi informado de que as agressões e prisões se deram devido às conversões ao cristianismo e de que eles "mereciam" tal punição.

Quando o representante revelou sua ligação com a Minority Commission, o tom do oficial da polícia mudou. Ele então passou a alegar que resgatou os cristãos da multidão que se reunira para agredi-los.

Os membros da igreja posteriormente se reuniram com o superintendente local da polícia, que prometeu ajudá-los. Entretanto, os nove cristãos que foram levados até a delegacia foram mantidos lá por dois dias antes de serem liberados através de fiança.

A situação na vila permaneceu tensa. Bajran Dal tinha mobilizado as pessoas contra a comunidade cristã. Os cristãos, assim, não mais tinham condições de utilizar o poço pertencente à comunidade local, ou comprar alimentos depois do boicote social ordenado por extremistas.

Neste período, no dia três de junho, também em Chattisgarh, o Sarpanch, chefe local, da vila de Hathod, Balod, no distrito de Durg, convocou treze cristãos para uma reunião. Nesse encontro, o chefe pediu para que eles renunciassem ao cristianismo caso não quisessem enfrentar sérias conseqüências.

Sete desses treze se recusaram. Eles foram imediatamente trancados numa cadeia de Balod e acusados sob as Seções 151, 107 e 116 do Código Penal.

Compass entrou em contato com Ram Kishore Sahu, advogado representante dos sete, que disse que esse tipo de ameaça não era novidade na região. Um incidente bem parecido ocorreu há dois anos. Os cristãos acusados naquela ocasião ainda aguardam julgamento.

Sahu disse que essas táticas eram comumente usadas contra cristãos das regiões rurais para estimulá-los a desistirem do cristianismo.

A polícia também dificultou para os cristãos na vila de Hathod para que a fiança fosse liberada. As ordens de fiança explicitamente declaravam que o valor de 10 mil rúpias (230 dólares) por pessoa deve vir de dentro da própria vila, ninguém de fora pode fornecer tal segurança para a quantia da fiança.

Entretanto, os habitantes da vila que simpatizaram com os cristãos foram relutantes com a fiança, devido à influência social dos extremistas que moram na vila.

A fiança não tinha sido liberada e os sete cristãos da vila de Hathod permaneceram presos.

O estado de Chattisgrah ainda é governado pelo BJP (Partido Baratiya Janata), reconhecido por suas atitudes negativas frente às minorias religiosas. Nas eleições realizadas em dezembro do ano de 2003, o BJP realizou uma campanha anti-conversão. Em um dos cartazes, um bispo era decapitado por converter um cidadão rural enquanto que um oficial da polícia simplesmente assistia aos outros que já estavam presos, esperando para serem batizados.

No manifesto, a BJP também prometeu banir as conversões cristãs caso estes fossem eleitos.

Baseada na campanha, a BJP ganhou cinqüenta dos noventa assentos disponíveis no governo.

O bispo Victor Kindo, de Raigarh, disse que o desfecho não foi favorável, e a minoria cristã em Chattisgarh provavelmente irá passar por tempos difíceis.

Em março desse ano, o jornal local Dainik bhaskar relatou que "o governo local preparou uma minuta para que seja anexada às provisões do Ato de Dharma Swatantraya Adhinayrn (Liberdade de Religião) tornando-o mais restrito às conversões das castas mais simples".

As "re-conversões" também estão em pauta na agenda de Hindu Jagran Manch, grupo ativista associado de perto do BJP. A Mach alegou, em abril desse ano, que centenas de cristãos foram "re-convertidos" ao hinduísmo em uma cerimônia realizada no distrito de Chamtari, estado de Chattisgarh.


Durante essa cerimônia, um ex-ministro do BJP, Dilipp Singh Judeo ameaçou os obreiros cristãos, dizendo que, "caso os missionários não parassem de converter as pessoas locais, voltariam armados".

Somente 1,9% dos 20,8 milhões de residentes da Chattisgarh são cristãos, de acordo com dados do ano de 2001.

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