"Sem oração a Igreja norte-coreana não pode sobreviver"

Portas Abertas • 28 out 2005


Na Coréia do Norte, o país mais fechado do mundo, o estado é a fonte e o propósito da vida. Ele decide onde você vai viver, onde vai trabalhar, que esportes praticar, que instrumentos vai tocar, o que você vai - e se vai - comer. O falecido Kim Il Sung e o atual líder Kim Jong Il são honrados como deuses. Sob esses "astros" um cristão corre risco de vida todo dia. No mínimo 200 mil pessoas sofrem em cruéis campos de concentração. Entre elas, de 50 a 70 mil são cristãos, disse o irmão Peter, que tem muitos contatos com a igreja clandestina da Coréia do Norte.
 
A Coréia costumava ter uma ampla população cristã. A capital, Pyongyang, foi até chamada de "Jerusalém do Leste". Mas desde o fim da Guerra Coreana em 1953, as coisas mudaram. Dos 20 milhões de pessoas na Coréia do Norte, apenas entre 200 e 400 mil são cristãos.
 
As esculturas e os retratos de Kim Il Sung estão por toda parte. Espera-se que os norte-coreanos e mesmo os turistas se prostrem perante esses ídolos. Kim Il Sung, o chamado salvador e estrela da manhã, prometeu fazer de seu país um exemplo ao mundo e transformá-lo no primeiro paraíso da Terra. Mas em 1995, um ano depois de sua morte, a fome atingiu a Coréia do Norte. Ao menos 2 milhões de pessoas morreram de fome nos últimos 10 anos.
 
"A miséria teve um impacto significativo na sociedade norte-coreana", disse o irmão Peter. "O estado não era mais capaz de tomar conta do seu povo. A distribuição de comida foi desmantelada. Um mercado negro surgiu e o governo não tomou nenhuma providência contra isso. Muitas pessoas começaram a atravessar o Tumen, o rio fronteiriço com a China. A sobra de comida que eles puderam carregar de volta para a Coréia do Norte foi vendida no mercado negro. Essa marca de fraqueza apagou a glória de Kim Jung Il. Nem todos acreditam mais nele. Ele é visto como alguém que constrói edifícios monumentais enquanto o povo não tem o que comer".
 
Os contrabandistas e desertores capturados, em geral, são torturados até a morte, de acordo com Peter. "Seus últimos dias ou semanas são terríveis. As autoridades da Coréia do Norte os submetem a dias de interrogatório e espancamentos, sem lhes dar comida ou água. No fim eles morrem. Os sobreviventes são enviados aos piores campos de concentração".
 
Quando os refugiados conseguem atravessar a fronteira, a sua maioria é ajudada pelos cristãos. Peter contou: "Houve um tempo no qual eles sabiam que deveriam procurar por um prédio com uma cruz. Eles ouviram dos que conseguiram ir para a China que essas pessoas tinham boa vontade em ajudá-los. Mas o governo chinês descobriu isso e está muito perturbado. Na área da fronteira, eles estão literalmente caçando os refugiados norte-coreanos. A polícia pressiona as igrejas. Elas perderão seu registro se não entregarem os norte-coreanos ilegais, e os seus freqüentadores enfrentarão mais de cinco anos de prisão. Muitas congregações chinesas e chinesas-coreanas escolheram cooperar com as autoridades. Não sou mais capaz de dizer com quais igrejas ainda podemos contar".
 
"Outro fator de dificuldade é o número de agentes secretos norte-coreanos que são treinados para se disfarçar de refugiados cristãos. Só pela graça de Deus podemos dizer a diferença entre um refugiado real e um falso".
 
As pessoas que podem viajar entre a China e a Coréia do Norte conseguem espalhar endereços entre os norte-coreanos que querem fugir. Se conseguem escapar, chegam a um mundo totalmente diferente.
 
"Os norte-coreanos são doutrinados além do que se pode imaginar. Sua percepção de cristão e cristianismo é completamente distorcida. No ensino médio e fundamental, até na faculdade, os professores inventam histórias sobre cristãos maléficos. Uma história sempre repetida é a de uma missão cristã que trabalhou na década de 1930 na Coréia do Norte. Eles tinham uma vinha com muitos frutos. Um dia algumas crianças foram à vinha e comeram algumas uvas. Os missionários as encontraram e as capturaram. Eles pegaram uma substância tóxica e escreveram em sua testa a palavra ladrão", disse Peter.
 
Mas, depois de chegar na China, os refugiados descobrem que não têm quase nenhum lugar para ir a não ser a casa de um cristão. "Eles são muito gratos aos cristãos que lhes deram abrigo, mas também são muito críticos. Os cristãos que trabalharam com os norte-coreanos tiveram que aceitar o fato de que são irredutíveis. Demora muito até que eles vejam através da teia de mentiras em que nasceram. No princípio eles não querem ouvir muito sobre o evangelho. Vivendo como animais, seus corações ficam como pedra. Mas quando os abraçamos, choramos com eles e eles participam dos cultos e estudos bíblicos, as coisas começam a mudar devagar. Seus corações são, aos poucos, aquecidos e descongelados. Eles ficam mais humanos de novo".
 
Demora de seis a 12 meses para um norte-coreano chegar a um ponto de contrição. Essa poderia ser uma experiência violenta, disse Peter. "Às vezes parecia exorcismo. Durante um estudo bíblico, culto, ou até uma conversa normal, de repente essa força demoníaca, dentro desse ser humano, era empurrada para fora. Os norte-coreanos começavam a chorar aos prantos e aceitavam a Cristo".
 
Alguns encontraram tanta força em sua nova fé que quiseram voltar e evangelizar, o que é uma empresa arriscada na Coréia do Norte. Quando um cristão é pego, ele e sua família são enviados aos piores "campos de trabalhos" ("campos de concentração" é uma descrição mais precisa). "Eles devem ser treinados no evangelho", disse Peter. "Na Coréia do Norte, os cristãos só podem confiar em nosso Senhor; sua única arma é a força da oração. Já que é tão perigoso ter uma Bíblia, e muito difícil arranjar uma, eles sabem grandes porções da Palavra de Deus de cor".

Depois de sua volta em segredo à sociedade norte-coreana, os novos convertidos começam a evangelizar os seus amigos íntimos. "Devido à fome, as pessoas têm que começar a confiar e ajudar umas às outras na obtenção e na distribuição de alimento. Eles sabem bem em quais amigos, vizinhos e parentes podem confiar para explicar o evangelho. Às vezes eles formam pequenas igrejas domésticas. Com cinco ou seis pessoas eles se reúnem em segredo nas casas, no campo, nas florestas, nas montanhas".
 
Mas esses bravos cristãos nunca estão a salvo. Em especial para os cristãos mais jovens, as chances de permanecerem imperceptíveis não são muito altas devido à sua falta de experiência. "É verdade que às vezes as igrejas domésticas são traídas. Quando a polícia os prende não há muito que possamos fazer. Só podemos orar. Não sabemos nada sobre sua fé até que sejam mandados para um campo, mas eu sei de verdade que não podemos subestimar o poder de Deus. Veja os cristãos chineses que passam de 20 a 30 anos nos campos de trabalhos e sobrevivem. Isso também pode ser possível na Coréia do Norte", disse Peter.
 
De acordo com Peter, orar também é uma das formas de evangelizar. "Alguns norte-coreanos receberam o dom da cura. Eles fazem um bom uso disso. Conheço altos oficiais que foram mandados para casa para morrer, mas eles foram curados pela oração de crentes locais. Agora esses oficiais são cristãos secretos".
 
Muitas pessoas na igreja clandestina na Coréia do Norte estão cientes da campanha internacional de oração da Portas Abertas. "O fato de saber que outros cristãos os conhecem e oram por eles lhes dá muita força e esperança. Em favor dos cristãos perseguidos, eu lhes peço que continuem a orar, porque sem o apoio da oração eles não podem semear o evangelho, não encontram força para permanecer fiéis e não podem distribuir Bíblias. Sem oração a Igreja Norte-coreana não pode sobreviver".

Sobre nós

A Portas Abertas é uma organização cristã internacional e interdenominacional, fundada pelo Irmão André, em 1955. Hoje, atua em mais de 60 países apoiando cristãos perseguidos por causa da fé em Jesus.

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