Portas Abertas • 9 nov 2005
O número confirmado de cristãos eritreus que estão na prisão por suas crenças religiosas cresce para um total de 1.778, aproximadamente o dobro da contagem documentada há seis meses.
Apesar da maioria dos presos serem membros de igrejas protestantes independentes proibidas desde maio de 2002, um número crescente de importantes líderes de igrejas oficialmente registradas vem sendo detido.
Pelo menos 26 pastores protestantes de tempo integral e clérigos ortodoxos estão na prisão, e suas contas bancárias foram retidas por ordem do governo. Conseqüentemente, segundo uma fonte: "Seus familiares estão sofrendo em um nível altíssimo".
Mantidos em prisões, campos militares e delegacias, os presos cristãos da Eritréia estão localizados em, pelo menos, 12 diferentes locais por todo o país. Um total de 175 mulheres encontra-se entre eles.
Segundo a última análise, 561 cristãos estão presos em Wia, 333 em Mai Serwa, 238 em Gelalo, 175 em Adi-Abyto, 100 na delegacia de polícia Massawa, 95 no Acampamento Militar Track C, 72 nas delegacias de Asmara, 69 em Sawa, 46 em Assab, 35 na delegacia de polícia de Mendefera, 27 na delegacia de polícia de Keren e 27 no centro de investigação Wongel Mermera de Asmara.
"Muitos acreditam que o número deve ser muito maior", disse uma fonte.
Conselheiro é detido
Desde que o regime do presidente Isaias Afwerki retirou do patriarca ortodoxo eritreu Abune Antonios sua autoridade eclesiástica, em 7 de agosto, seus associados próximos também foram atacados.
Compass confirmou que Marigetta Yetbareke, teólogo e professor bem instruído na Igreja Ortodoxa da Eritréia, foi recentemente forçado a renunciar ao posto de conselheiro de patriarca, sob pressão dos administradores impostos pelo governo que assumiram a igreja.
"Ele não resistiu", contou uma fonte de Asmara a Compass. "Então, ele assinou sua renúncia e abandonou seu cargo".
Entretanto, no fim de setembro, Yetbareke foi preso em sua casa às 6h30, por "criticar ativamente" a administração da nova igreja. Ele permanece detido no centro de investigação de Wongel Mermera, de Asmara, onde a maioria dos pastores protestantes e três padres Medhane Alem também estão encarcerados.
Tribunal ilegal
No fim do mês de setembro, três líderes protestantes, presos há alguns meses por autoridades da Eritréia, receberam sentenças de dois e três anos proferidas por tribunais ilegais, conduzidos por um comitê de comandantes militares.
As penas de prisão extrajudicial foram entregues ao pastor do Evangelho Pleno, Kidane Gebremeskel, três anos; ao professor universitário da Eritréia, Senere Zaid, da Igreja Deus Vivo, dois anos; oo pastor do Evangelho Pleno, Fanuel Mihreteab, dois anos.
Os três homens foram transferidos de Wongel Mermera para a prisão Sembel, localizada nos arredores de Asmara. Segundo as regras da prisão, os presos têm permissão para receber visitas somente uma vez ao mês, durante 25 minutos.
Não se sabe se os cristãos condenados estavam, de fato, presentes nas sessões da falsa corte em Asmara. Os "crimes" alegados pelos quais os homens foram acusados também permanecem desconhecidos.
Conforme relatórios amplamente divulgados, mas não confirmados, até mesmo penas mais severas, de cinco anos, foram aprovadas contra outros três pastores protestantes, presos há 18 meses, e contra os três clérigos ortodoxos do movimento Medhane Alem, presos no último mês de março.
Entretanto, até o momento, não há proclamação oficial das autoridades governamentais que confirmem a pena do doutor Kiflu Gebremeskel e de Haile Naizgi, da Igreja do Evangelho Pleno; de Tesfatsion Hagos, da Igreja Rema; do reverendo Futsum Kuluberhan; do reverendo Tekleab Mengisteab; e do reverendo Gebremedhin Georgis, da Igreja Ortodoxa Medhane Alem.
Um líder da igreja preso, o pastor do Evangelho Pleno Abraham Belay, foi transferido para Wia para cumprir seu serviço militar.
Batidas policiais
Simultaneamente a esses fatos, um grupo dirigido da polícia realizou várias batidas policiais no mês passado, em vários locais de Asmara, e na cidade de Kushete levou, pelo menos, 51 cristãos protestantes presos.
Escritórios centrais das Igrejas Kale Hiwot e Rema em Asmara foram invadidos, aproximadamente uma hora depois de sua abertura, na manhã de 3 de outubro.
A polícia de segurança deteve todas as 25 pessoas presentes no escritório de Kale Hiwot, no distrito de Paradiso, - incluindo o secretário geral da igreja, identificado como o Irmão Oqbamichel, seu administrador, funcionários e vários visitantes. As chaves do escritório, onde vários projetos de auxílio humanitário e um orfanato são supervisionados, permanecem nas mãos da polícia, que mais tarde, confiscou os computadores, equipamento de escritório e arquivos do prédio.
Naquela mesma manhã, as autoridades prenderam cinco mulheres nos escritórios da igreja em Rema, no distrito de Teravello, na cidade de Asmara e levaram seus computadores e outros bens. Ainda, em uma outra detenção em Kushete, um pequeno grupo de sete cristãos que estava se encontrando fora de Asmara foi detido e enviado à delegacia No. 5.
Na noite anterior, dois líderes da Igreja do Evangelho Pleno foram detidos em seus lares em Asmara. Um deles, o pastor Hagos Teumai, foi detido anteriormente por três meses em Sawa enquanto participava de uma cerimônia de casamento em Barentu.
O outro líder, evangelista Berhane Gebremidhane, estava terminando sua lua-de-mel quando a polícia o deteve com os 11 visitantes que estavam festejando com ele e com sua esposa na casa deles. No dia seguinte, quando sua esposa foi à delegacia No. 7 para saber sobre ele, ela também foi detida.
Sete mulheres, mães que tiveram que deixar seus filhos em suas casas, estavam entre os detidos na delegacia número 5 de Asmara, em decorrência da batida policial de 3 de outubro em Kale Hiwot. Após três semanas de apelação diante do Departamento das Relações Estrangeiras para negociar com os oficiais de segurança para a libertação delas, as mulheres foram finalmente soltas sob fiança, no início deste mês.
Fontes confirmaram que os 20 membros da Igreja Aleluia, presos em um casamento em 4 de setembro, em Mai Teminai, foram todos libertos sob fiança, na primeira semana de outubro.
Em 23 de setembro, a Eritréia se tornou a primeira nação sancionada pelo Departamento dos Estados dos Estados Unidos, conforme a Lei de Liberdade Religiosa de 1998, pelo fracasso no tratamento dado às severas violações de liberdade de religião.
Ao acusar os Estados Unidos de "dirigir um jogo de política religiosa", o ministro eritreu de Relações Estrangeiras afirmou em de 5 de outubro que relatos sobre a perseguição religiosa na Eritréia foram baseados em falsas alegações, exageros e "mentiras sem fundamento".
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