Testemunhas encobrem culpados em julgamento de Sangla Hill

Portas Abertas • 5 dez 2005


Os ânimos continuam alterados enquanto o julgamento em Sangla Hill prossegue na corte distrital Nakana Sahib. Os líderes muçulmanos colocam nos cristãos a responsabilidade pelos atos de vandalismo, dos quais os próprios cristãos se queixam. Além disso, eles exigem que outros 88 muçulmanos, levados sob custódia pela polícia, sejam libertados.

"AsiaNews" entrevistou um dos treze cristãos que depuseram perante o juiz distrital xeique Mohamed Yousaf, no dia 28 de novembro.

Os 13 prestaram depoimento em câmara (discussão no tribunal que acontece com a presença mínima exigida e sem público), já que as testemunhas muçulmanas - ouvidas antes - "encobriram os verdadeiros culpados, pois conheciam suas identidades".

Até então "ninguém havia dado o nome dos culpados que incitaram a multidão a atacar as igrejas e as propriedades cristãs, apesar de saberem quem eles eram", disse Saqib Bhatti, sem rodeios.

Ele também afirmou: "Dissemos ao juiz que ouvimos Maulvi Zulfiqar agitar as pessoas contra os cristãos na mesquita Markazi Jamia Rizvia. Maulvi disse para as pessoas se encontrarem perto do Palácio Madni, que pertence a Malik Azam", um nazim (líder) do conselho local.

No dia 12 de novembro, uma multidão de 2 mil pessoas, incitada pelos seus líderes religiosos, marchou para a vila de Sangla Hill. Eles destruíram e depois incendiaram três igrejas cristãs, um convento, duas escolas católicas, a casa pastoral de um protestante e a de um padre, um albergue para garotas e as casas de vários cristãos.

Por enquanto, o depoimento de duas testemunhas muçulmanas, incluidno o do queixoso Mohamed Saleem, estão desmentindo as acusações de blasfêmia contra Yousaf Masih, a qual levou aos atos de violência do dia 12 de novembro. O processo o acusou de queimar algumas cópias do Alcorão no dia 11 de novembro. Entretanto, os depoimentos dão a entender que Yousaf e Mohamed estavam envolvidos em uma briga num lugar distante daquele sobre o qual afirmam que os livros foram queimados.

Além disso, a declaração de Mohamed parece inconsistente. Por um lado, ele afirma que o incidente ocorreu às 13 horas e que, entre Yousaf incendiar os livros e o capturarem, se passaram duas horas e meia. Mas, por outro lado, ele deu queixa do incêndio à polícia às 12h45, antes que tudo tivesse acontecido.

Desde o início desde caso, os líderes religiosos e a comunidade de Yousaf o defendem. Ele é analfabeto e não pode discernir entre dois livros, mesmo o Alcorão. Para sua família, o incidente vem de uma disputa financeira, e Yousaf se diz inocente. De acordo com a Lei de Blasfêmia do Paquistão, profanar o Alcorão é um crime capital. Mas para a comunidade cristã do país, é apenas uma desculpa para ajustes de contas pessoais.

A tensão permanece alta apesar da intenção do governo de Punjab, impedindo que isso se torne um conflito sectário.

Ao contrário de tudo isso, Maulana Sarfraz Naeemi, secretário geral de uma organização muçulmana, acusou as autoridades de darem pouca atenção à profanação do Alcorão. Ele ameaçou organizar uma marcha para libertar os 88 muçulmanos detidos por "falsas acusações" de terem destruído igrejas cristãs. Em vez disso, conforme o grupo de Maulana, foram os cristãos que incendiaram suas igrejas.

A Comissão Asiática de Direitos Humanos se uniu às vítimas de Sangla Hill, e exige que o caso seja investigado por uma corte mais alta, não uma distrital.

Os cristãos também querem saber por que os líderes e a população resolveram fazer justiça com as próprias mãos, já que foram feitas acusações contra Yousaf. Eles também querem saber onde estava a polícia durante o ataque.

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