Xeique egípcio é mantido preso sem acusações

Portas Abertas • 7 dez 2005


Um xeique egípcio ligado a um grupo comprometido com a difusão do islamismo foi preso sem ter recebido nenhuma acusação, estando detido por aproximadamente oito meses sob suspeita de cometer blasfêmia contra o islã.
 
Detido em seu escritório em 6 de abril, Bahaa el-Din Ahmed Hussein Mohammed El-Akkad foi primeiramente mantido na Prisão de Segurança do Estado de Doqqi, no Cairo. Quando sua esposa pediu informações na prisão sobre o marido, os oficiais negaram que ele estivesse preso lá e não permitiram qualquer acesso a El-Akkad.
 
Seis meses mais tarde, ele foi transferido para a Prisão Tora Mazraa, no Cairo, onde está encarcerado até o momento.
 
El-Akkad, de 56 anos, tornou-se um xeique (líder religioso muçulmano), durante muitos anos como membro do Tabligh e Dawah, um grupo islâmico fundamentalista. Embora o grupo seja ativo no ensinamento e na difusão do islamismo aos não-muçulmanos, ao mesmo tempo opõe-se rigorosamente contra a violência.
 
Após o advogado egípcio Athanasius William ter assumido o caso de El-Akkad, em maio deste ano, ele teve permissão de participar das sessões de interrogatório do seu cliente na Investigação de Segurança do Estado (SSI) e no escritório do promotor público.
 
A linha de questionamento seguida pelos interrogadores de El-Akkad indicou que a blasfêmia, ou a difamação ao islamismo, foi a principal acusação contra ele, disse William.

A família do xeique, agora com permissão para visitá-lo semanalmente na Prisão Tora Mazraa, confirmou a Compass que ele está preso na cela 2 com outros presos políticos, a maioria deles oriundos de grupos islâmicos extremos. Ainda que muitos enfrentem acusações de violência contra o Estado, "o caso dele é muito diferente do caso dos outros", disse um parente de El-Akkad.
 
Para a surpresa da família, dois outros suspeitos presos com ele e mais tarde libertos espalharam boatos entre os presos de que El-Akkad estava convertendo pessoas ao cristianismo e batizando-as. "Agora todos o tratam mal", disse um parente de El-Akkad.
 
Até o momento, o xeique tem sido agredido principalmente através de abusos verbais relativas às acusações de seus interrogadores, guardas da prisão e outros detentos, disse a família do xeique. Contudo, em um episódio ocorrido em setembro, um detento de um grupo extremista atacou El-Akkad e o agrediu severamente até que outros companheiros de cela intervieram.
 
"Ele pode facilmente ser morto", disse um membro da família de El-Akkad a Compass. "Esses extremistas não são normais. Eles se sentem provocados por qualquer palavra que El-Akkad diga, conseqüentemente, eles sempre estão tentando agredi-lo. Eles podem simplesmente matá-lo em nome de Deus".
 
Sete anos atrás, El-Akkad foi detido e preso em um caso que obteve uma considerável cobertura dos jornais do Cairo. Como líder "emir" de um grupo muçulmano em uma mesquita em Al-Haram, na região de Giza, adjacente ao Cairo, ele tornou-se conhecido e reverenciado por pessoas de toda a vizinhança.
 
Entretanto, alguns começaram a dizer que tinham visto El-Akkad em sonhos e começaram a se referir a ele como Al-Mahdi, uma figura messiânica nos escritos islâmicos que muitos devotos muçulmanos acreditam que aparecerá no fim dos tempos. Alarmada, a SSI prendeu El-Akkad como uma ameaça potencial à ordem pública e segurança nacional, por alegar ser um profeta.
 
Apesar de o xeique ser acusado de blasfemar, de acordo com o Artigo 98F do código penal egípcio, nenhum veredicto formal foi proferido e ele foi libertado três meses mais tarde. Quando ele foi liberto, as autoridades declararam que El-Akkad não era responsável pelos boatos espalhados a respeito dele.
 
Acusações obscuras

Contudo, em vista da mais recente detenção e confinamento prolongado de El-Akkad, a imprensa egípcia não publicou nada.
 
Embora, mais uma vez o xeique esteja sob detenção por pretensa blasfêmia, "não há nenhuma acusação formal contra ele", disse seu advogado. "Em todos os seus interrogatórios, eles estão acusando El-Akkad de dizer coisas contra o profeta Maomé, o Alcorão, ou os amigos do profeta. Nunca lhe foi perguntado se ele havia mudado de religião".
 
O xeique foi interrogado informalmente pelo promotor público se ele estava fazendo suas orações e jejuando durante o mês de ramadã, mas estas conversas não foram registradas na transcrição dos interrogatórios, observou seu advogado.
 
A detenção de El-Akkad tem sido prorrogada a cada 45 dias sob as provisões das notórias Leis Emergenciais do Egito, que permitem que os promotores públicos e a polícia de segurança ignorem as ordens judiciais e prendam os cidadãos sem terem sofrido acusações.
 
Em 24 de outubro, quando El-Akkad foi finalmente levado à Corte pela primeira vez, o juiz presidente lhe perguntou o que pensava sobre a acusação feita contra ele.
 
"Do que sou acusado?", perguntou El-Akkad. O juiz submeteu a pergunta para o promotor do Estado, cuja resposta foi evasiva: "Veremos". Sem maiores comentários, o juiz prorrogou a detenção do xeique por mais 45 dias.
 
Na profissão de engenheiro, El-Akkad estava administrando um escritório comercial privado quando foi detido. Com seu negócio fechado temporariamente, o salário mínimo de sua esposa no Ministério da Saúde tem sido o único sustento para ela e para os três filhos. A família foi forçada a se mudar para um outro local, fugindo de boatos sobre a razão da detenção de El-Akkad.
 
O prisioneiro, um xeique de barbas longas, é autor de um livro intitulado "Islamismo: a Religião".
 
"Ele não é um fanático", disse a esposa de El-Akkad ao seu advogado três meses depois da detenção de seu esposo. "Ele ama Deus e gosta de discutir sobre religião, e estava participando de conferências e seminários sobre religião com cristãos e muçulmanos".

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