Portas Abertas • 12 jan 2006
Enquanto o país relembra o ataque terrorista sofrido por Londres há 6 meses, o governo britânico abandonou os planos de fechar mesquitas extremistas e outros salões de culto.
Falando a repórteres no mês passado, o Secretário de Estado Charles Clarke disse que a lei proposta foi deixada de lado depois de exortações feitas pela polícia e por um grande número de grupos religiosos.
A lei, anunciada pelo primeiro ministro Tony Blair, foi fruto das explosões de 7 de julho em Londres. Essa proposta teria dado à corte a permissão de fechar "salões de culto" onde a atividade extremista ou terrorista parecia acontecer.
Entretanto, enquanto resta a opção de reenviar a proposta ao Parlamento no futuro, Charles Clarke disse que especialistas da polícia aconselharam que tal lei não seria útil e poderia estragarar relações com a comunidade muçulmana.
Nos últimos anos, notícias descreveram algumas mesquitas por todo o Reino Unido como sendo centros de ensinamento islâmico radical e pontos de recrutamento primário de jovens apresentados à atividade terrorista.
Em particular, a Mesquita Finsbury Park, no norte de Londres, está ligada ao pregador radical Abu Hamza al-Masri, que é procurado nos Estados Unidos e no Egito por acusações de terrorismo.
Antes de sua prisão pela polícia britânica em 2004, al-Masri ia para a rua em frente à mesquita para pregar aos seus seguidores sermões de ódio contra o Ocidente. A maioria desses seguidores é formada por jovens britânicos e estrangeiros muçulmanos.
Em resposta à proposta do governo, a Associação de Chefes de Polícia disse que as leis existentes são suficientes para lidar com tal situação, particularmente se elas forem aplicadas mais cedo do que foram no passado.
Em um documento escrita, a associação disse que a polícia tem acesso às forças de vigilância e capacidade de prender suspeitos terroristas por uma ampla variedade de causas.
Ela também argumentou, dizendo que apenas fechar lugares de culto poderia levar grupos radicais a se reunirem em outros lugares, onde seria mais difícil observá-los.
Inayat Bunglawala, porta-voz do Conselho Muçulmano da Inglaterra, disse estar aliviado com a desistência da aplicação da lei.
Não apenas o governo não provou a necessidade de tal medida, como a proposta causou uma grande preocupação entre os muçulmanos britânicos.
Com mais de 1.100 mesquitas abertas na Grã-Bretanha, e muitas servindo como centros para comunidades imigrantes, Inayat disse que as atividades pacíficas da maioria delas seriam obscurecidas por uns poucos radicais.
Se você perguntar a qualquer inglês o nome de um imã, acho que ele não vai lembrar de nenhum além de Abu Hamza al-Masri, Inayat disse.
Sean McGough, um especialista em terrorismo, disse que, como grupos de jovens descontentes são recebidos por algumas mesquitas, redes de terror estão dirigindo suas atividades para eles, esperando esquivar-se dos serviços de inteligência britânicos.
As mesquitas estão se tornando inevitavelmente alvos de recrutamento, afirmou Sean. Mas esse recrutamento procura ir agora para fora delas.
Já que não houve mais ataques na Inglaterra desde julho, Sean disse que isso foi uma indicação de que o governo britânico está vencendo a batalha contra o terrorismo. Entretanto, ele disse que também há perigo do país baixar sua guarda.
Parece que o sistema e as estratégias que implementamos estão funcionando, ele disse. Por outro lado, isso pode nos levar a um grau de complacência.
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