Portas Abertas • 29 jan 2006
"Um desastre, a vitória do Hamas é um desastre para os cristãos", disse K. M., um cristão palestino de Belém, depois que os resultados das eleições de 25 de janeiro mostraram que o partido islâmico ganhou 77 dos 132 assentos no novo conselho legislativo palestino.
Para a agência de notícias AsiaNews, os cristãos palestinos não vão ganhar muitas coisas boas com o sucesso do Hamas. O partido é a favor de um estado teocrático e se opõe ao nacionalismo árabe secular. O secularismo foi a maior esperança que os cristãos árabes tiveram desde o século XIX, pois recebiam o mesmo tratamento que os muçulmanos nos países árabes.
K. M. diz: "É hora da Autoridade Nacional Palestina (ANP) receber o troco por sua incompetência e corrupção. Mas para nós, fica tudo perigoso."
Ele continua a dizer: "O Hamas é um movimento fundamentalista. Agora, com uma maioria absoluta, eles podem adotar qualquer lei. É provável que eles adotem leis inspiradas pela sharia (lei islâmica). Alguns prometeram impor taxas aos cristãos, como era feito há muito tempo".
Conforme o AsiaNews, dada a nova situação, os cristãos palestinos podem ser estimulados a trabalhar com partidos seculares, na esperança de que sua sorte mude quando acontecerem as próximas eleições palestinas. Os cristãos também podem se envolver mais na organização da sociedade civil.
Mas, para K.M., "o futuro continua incerto. Os EUA e Israel disseram que não vão aceitar o Hamas como parceiro de futuros acordos de paz. Mas, conforme os princípios de democracia, o Hamas foi eleito pela vontade do povo. Depois de pregar a democracia pelo Oriente Médio, os norte-americanos não podem voltar atrás".
Para o AsiaNews, os resultados das eleições palestinas forçará muitos no Ocidente a refletir sobre o valor de pressionar uma democratização rápida sem levar em conta as condições sociais, econômicas e culturais do local.
K.M. ainda afirma: "O perigo para nós é real. Em Belém temos quatro membros do parlamento: dois do Fatah (um deles é um protestante) e dois do Hamas. Um desses do Hamas é um xeique muçulmano, que, de tempos em tempos, prega contra a presença cristã na Palestina."
"O que os cristãos podem fazer? Talvez muitos vão pensar em emigrar, o que vai esvaziar a Terra Santa da presença cristã, ele lamentou.
Na realidade, alguns estudiosos apontam que não é certo que as condições piorem para os cristãos. Essas condições são as mesmas para a maioria muçulmana, e elas são mais influenciadas pela situação geral dos territórios ocupados do que pelo que as instituições semi-autônomas podem fazer.
Ainda há uma pequena chance de que a maior disciplina interna do Hamas possa acabar com o caos que atualmente prevalece nos territórios e que os cristãos de Belém e de outros lugares têm que suportar.
O que os resultados da eleição deixam bem claro é que um tratado de paz entre Israel e Palestina é necessário mais do que nunca. Ele seria executado como parte de uma conferência internacional de paz, a qual asseguraria também que a futura constituição palestina e o gerenciamento efetivo dos assuntos públicos na Palestina sejam baseados nas garantias dadas pelos direitos humanos e civis.
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