Portas Abertas • 10 fev 2006
Um grupo de muçulmanos - várias mulheres e alguns homens - atacou uma igreja católica na província de Punjab, ferindo duas mulheres e vandalizando o prédio.
Pelo menos três homens e 20 mulheres atacaram a capela da vila de Kawanlit, em 3 de fevereiro, deixando Veero Mehnga Masih, de 70 anos, com as pernas quebradas. Saleema Mazir Masih, 50, também foi ferida. O grupo quebrou janelas, destruiu o altar e queimou Bíblias.
Embora os líderes de igreja de toda a província tenham condenado a violência, a polícia se recusou a protocolar uma queixa. Os cristãos de Kawanlits disseram à agência de notícias Compass que eles não têm como abrir um processo, e planejam um acordo extrajudicial.
Em 6 de fevereiro, o fazendeiro próspero Mohammad Iqbal abriu um processo contra oito dos cristãos de Kawanlit, alegando que eles iniciaram a briga que levou à destruição daquela igreja. Mas, de acordo com o padre franciscano da paróquia, Bernard Bhatti, os oito acusados "nem estavam lá" na hora do ataque. Ele disse que o incidente ocorreu por causa de uma disputa de posses com Iqbal, cujos parentes estavam envolvidos no ataque.
O arcebispo católico de Lahore, Lawrence John Saldanha, e o membro da Assembléia Nacional Hindu, deputado Bhandara, condenaram o ataque. Bhandara pediu ao governo para investigar o caso, dizendo que era uma questão de "importância pública urgente", que causava uma "grande preocupação para a comunidade cristã".
Mas, durante uma reunião com o membro da assembléia provincial de Punjab, Joseph Hakim Din, representantes da comunidade cristã de Kawanlit disseram que pretendem buscar um acordo extrajudicial com Iqbal e com as 200 famílias muçulmanas da vila. No dia seguinte ao ataque, Joseph concordou em formar um comitê de cristãos e muçulmanos para ajudar os dois lados a encontrarem uma solução pacífica.
O padre Bernard declarou ao Compass: "Quero enfatizar que estamos chegando devagar a um consenso ". Ele disse que tem havido problemas, mas os cristãos não têm outra opção a não ser "lutar pela reconciliação".
Eles decidiram agir assim depois que a polícia se recusou a registrar um boletim de ocorrência sobre os ataques da igreja. Esse é um procedimento padrão no Paquistão para qualquer queixa criminal prestada à polícia.
O policial Tariq Khokhar, abordado pelo padre e pelo pastor membros da Comissão Nacional para Justiça e Paz (NCJP - sigla em inglês) no dia seguinte ao ataque, afirmou que o incidente foi apenas "uma briga entre mulheres". A declaração do NCJP em 4 de fevereiro relatou que a polícia estava "ignorando que a conseqüência do incidente exigia um procedimento criminal".
Segundo o padre Bernard, Tariq argumentou que, abrir um caso seria um desperdício de tempo, porque os muçulmanos iriam abrir um contra-caso.
O franciscano Bernard, um dos dois padres de uma paróquia que abrange 227 vilas, disse ao Compass que nem ele nem a comunidade cristã de Kawanlit - trabalhadores pobres em sua maioria - têm tempo ou dinheiro para abrir um processo. O ataque foi usado para "intimidar nosso povo. Eles ficaram mesmo assustados. O que eu quero é que cada um continue seu trabalho para que nada aconteça."
Retaliação ameaçadora
Essa disputa começou em 7 de novembro de 2005, quando o fazendeiro Iqbal comprou o terreno adjacente à igreja, que tem 20 anos. Segundo o padre Bernard, Iqbal começou um processo de "invasão", usando cada vez mais o terreno da igreja para estacionar seus veículos e amarrar seus animais.
Depois de tentativas fracassadas de comprar a propriedade de Iqbal, os cristãos abriram um processo contra ele, em 12 de janeiro. Eles fizeram uma petição à polícia e aos funcionários do governo, levando à detenção imediata de Iqbal.
Solto após pagamento fiança em 26 de janeiro, Iqbal ameaçou a comunidade cristã por abrir um processo contra ele. O ataque de 3 de fevereiro, segundo Bernard, aconteceu quando Veero Masih e Saleema Masih brigaram com parentes de Iqbal por amarrarem os animais na propriedade da igreja.
As mulheres feridas foram levadas imediatamente para um hospital público em Daska, a cinco quilômetros de distância. Veero Masih permanece hospitalizada, enquanto Saleema Masih recebeu alta no dia 6, depois de um tratamento para ferimentos leves.
O grupo ameaçou atacar os cristãos de novo se eles tentassem utilizar algum recurso legal.
Os cristãos culpam o governo por criar uma atmosfera no Paquistão que encoraja ataques contra as minorias. "A violência contra as comunidades mais fracas está reaparecendo, porque o governo não reagiu aos incidentes que aconteceram antes", comentou o arcebispo de Lahore.
O Conselho Nacional de Igrejas (NCC - sigla em inglês) no Paquistão também emitiu uma declaração exigindo que o governo de Punjab saia de seu "repouso" e trate as questões das minorias. "Os templos das religiões e seitas minoritárias foram danificados impunemente", Victor Azariah, o secretário-geral da NCC, denunciou na declaração.
Lawrence e Victor apontaram a falha do governo, no fim do ano passado, de levar a juízo os perpetradores da violência contra as igrejas na cidade de Sangla Hill, onde, em novembro, uma multidão de 2 mil muçulmanos destruiu três igrejas, um convento e sua capela, uma escola religiosa e diversas casas de cristãos.
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