Portas Abertas • 1 mar 2006
Nas últimas semanas, organizações hindus extremistas como a Rashtriya Swayamsevak Sangh (RSS ou Corporação de Voluntários da Índia) viraram notícia por organizarem o controverso "Shabri Kumbh" ou congresso de "reconversão" hindu, no distrito de Dangs, em Gujarat. A história por trás da RSS esclarece sobre como se tornou tão agressiva ao depreciar o cristianismo.
A RSS foi fundada em setembro de 1925 com a intenção declarada de fortalecer as raízes culturais hindus na Índia.
De acordo com seu site oficial, a organização se posiciona contra a "erosão da integridade da nação em nome do secularismo, economia e depravação moral, e incessantes conversões ao cristianismo, do ambiente hindu". O site prega a proteção do caráter nativo do povo da Índia e o combate à "depreciação patrocinada pelo Estado de tudo que faz referência ao hindu ou "Hindutva" ".
Dr. Keshav Baliram Hedgewar, membro fundador e referência da RSS, pertenceu ao Partido do Congresso da Índia mas foi isolado por amigos do próprio partido por causa de seu pensamento hindu radical. Ele se opôs fortemente à divisão da Índia em 1947 e à criação do estado islâmico do Paquistão. Os anos que se passaram após a divisão fincaram as raízes do RSS como um grupo extremista que visava uma sociedade exclusivamente hindu.
Dentro do objetivo
A RSS se proclama uma organização social, e suas atividades tinham originalmente natureza social; os membros da RSS ajudaram centenas de refugiados hindus que vieram para a Índia após a criação do Paquistão. (Centenas de muçulmanos, simultaneamente, deixaram a Índia para ir para o Paquistão). Membros da organização também providenciaram auxílio às vítimas de agressões e de desastres naturais, e voluntários estabeleceram escolas pelo país - apesar de muitas destas escolas terem uma orientação claramente "hindutva".
A RSS foi associada com o assassinato de Mahatma Gandhi em 1948, e, subsequentemente, foi banida por alguns anos. Os membros permaneceram fora de objetivos políticos até 1952, quando a liderança decidiu que a RSS precisava de um braço político.
O partido Jan Sangh já era formado nessa ocasião e transfomou-se no Bharatiya Janata Party (BJP) em 1980. A RSS The RSS apoiou a campanha do BJP para construer um templo hindu em um terreno de uma mesquite do século 16 em Ayodhya.
Uma ampla e agressiva campanha levou à demolição de uma mesquita em 1992 e um sangrento conflito hindu-muçulmano. O BJP ganhou vantagem através desta campanha e foi eleito para o governo federal em 1998, permanecendo no poder até que foi duramente derrotado em abril de 2004. Entretanto, o partido ainda governa em vários estados.
"O BJP não pode vencer a eleiçãosem a ajuda dos quadros da RSS", afirmou o analista político Yashwant Deshmukh. "Seus membros e simpatizantes estão em todo o território da Índia, em vilas e em pequenas e grandes cidades."
Campanha contra os cristãos
Nos últimos anos, a RSS e os grupos afiliados se tornaram conhecidos pela campanha virulenta contra a conversão dos hindus ao cristianismo. A RSS acusou missionários de administrarem organizações de serviço social e de oferecerem dinheiro ou emprego como um meio de persuadir as pessoas a aceitarem a fé cristã.
Membros da RSS e grupos afiliados, tais como Bajrang Dal e Vishwa Hindu Parishad (VHP ou Conselho Mundial Hindu) foi responsável por numerosos ataques violentos a missionários cristãos, fiéis e locais de culto desde 1998. No incidente mais divulgado pela mídia, membos do Bajrang Dal queimaram o missionário australiano Graham Staines e seus dois filhos adolescentes, levando-os à morte, em janeiro de 1999, enquanto eles dormiam dentro de um carro estacionado.
Os extremistas também promovem acampamentos e cerimônias de "reconversão" rotineiramente, onde eles dizem que levam os cristãos a "reconversão" à comunidade hindu. Apesar da clara evidência de seu envolvimento, a RSS nega sua participação nestas atividades. Entretanto, proíbem abertamente as conversões forçadas.
Ódio nascido de concepções errôneas
Líderes cristãos disseram que os membros da RSS sentem-se "privados de seu direito de governar a Índia".
"Eles têm concepções errôneas sobre nação, religião e identidade", afirmou John Dayal, presidente da União Católica Toda Índia. "São esses mal-entendidos que os movem. Esse super-patriotismo irá matar a Índia. Isso dificulta o desenvolvimento e divide as pessoas."
John Dayal pode ter orgulho de sua nacionalidade, ele diz, mas os ataques extremistas contra os cristãos provêm de noções incorretas da identidade e superioridade da Índia.
"Meu argumento é que a minoria também é cidadã da Índia, e seus direitos como cidadãos são irrevogáveis," ele disse.
Sobre os esforços inadequados do governo para estancar esse ódio, John Dayal apontou o recente evento no distrito de Dangs como um exemplo, dizendo que o governo federal deveria ter impedido o governo do Estado de Gujarat de prosseguir com o festival.
Na opinião do líder cristão, o governo nacionalista hindu "falhou miseravelmente" em seus deveres para com a Índia, por terem "esquecido seu juramento de assegurar a Constituição".
A Constituição da Índia garante liberdade de crença religiosa para todos os cidadãos - uma provisão amplamente ignorada pelos grupos extremistas.
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