Autoridades cubanas prendem líder evangélico

Portas Abertas • 7 mar 2006


No final do mês de fevereiro, as autoridades cubanas prenderam um pastor evangélico que presidiu sua denominação até o ano passado, aparentemente sob acusação de ajudar emigrantes que queriam deixar o país ilegalmente.

Parentes do reverendo Carlos Lamelas, entretanto, afirmaram que as alegações contra ele não têm fundamento. Algumas fontes da ilha acreditam que a polícia visou Lamelas por perturbação, porque ele tem desafiado o regime de Fidel Castro no que diz respeito aos direitos religiosos.

Na manhã do dia 20 de fevereiro, cinco policiais entraram na casa de Lamelas em Havana e revistaram o imóvel antes de prendê-lo. Eles também confiscaram seu computador, documentos pessoais e vários objetos do escritório.

Inicialmente, Uramis Lamelas não sabia o paradeiro de seu marido. No final da semana, ela soube para onde ele tinha sido levado e solicitou autorização para visitá-lo.

Só depois de uma semana, as autoridades lhe deram o direito de ver o marido por 10 minutos, em 27 de fevereiro. Uramis Lamelas disse que seu marido parecia "exausto e deprimido", e que ele tinha sido isolado dos outros companheiros durante o confinamento.

Apesar de o casal não poder falar abertamente porque os policiais estavam por perto durante a visita, Lamelas disse a sua esposa que os oficiais estavam evidentemente buscando incriminá-lo por ajudar emigrantes que queriam escapar de Cuba sem a permissão governamental.

Até o momento, as autoridades cubanas não tinham informado a Lamelas ou a sua família que acusações eram feitas contra ele.

No entanto, os que conhecem a família de Lamelas disseram que qualquer alegação de ajuda a emigrantes é totalmente infundada.

"Eles o acusam de tirar as pessoas do país ilegalmente, o que é uma grande mentira, porque para fazer isso é preciso dinheiro", disse um amigo da família. "Se ele tivesse esse dinheiro, não estaria enfrentando dificuldades como agora".

Fontes em Havana disseram que as aparentes alegações contra Lamelas são parte de uma campanha de perseguição destinada a silenciar o dinâmico líder religioso.

Ministro da Igreja de Deus (Anderson, Indiana) por mais de uma década, Lamelas plantou várias igrejas domésticas enquanto pastoreava uma congregação local em Ilha de Juventude. Em 2004, quando era presidente assembléia geral de ministros da denominação, Lamelas se mudou com sua família para Havana.

Os problemas começaram logo depois da mudança, devido à resistência de Lamelas ao que ele considerava uma interferência imprópria do governo nos assuntos da igreja. Em determinado momento, ele se recusou a assinar o juramento de lealdade ao regime de Fidel Castro e desafiou certos controles sobre as atividades da igreja por considerá-los inconstitucionais.

Em janeiro de 2005, apenas dois meses depois que a convenção anual da Igreja de Deus confirmou Lamelas para o segundo mandato como presidente, a junta nacional de diretores votou por sua remoção da posição e por sua expulsão da igreja.

Dezenas de companheiros de ministério que questionaram a mudança e expressaram apoio a Lamelas também foram expulsos, sem direito à apelação.

O diretor cubano de Assuntos Religiosos emitiu, quase imediatamente depois da decisão da  junta, uma declaração que endossava a ação disciplinária contra Lamelas, uma atitude que aumenta as suspeitas de cumplicidade do governo na questão.

Desprovido de renda e sob constante vigilância, Lamelas e sua família dependeram da bondade dos amigos para sobreviver durante todo o ano passado. Nesse período, a polícia deteve Carlos Lamelas por duas vezes para interrogatório antes de sua prisão na semana passada.

Antes de seguir o chamado para o ministério, Lamelas era mergulhador profissional. Ele e sua esposa são pais de duas filhas, Estefania, 12, e Daniela, 5.

Um amigo de longa data que conversou com Uramis Lamelas por telefone descreveu-a como "não preocupada, muito calma", apesar da provação por que está passando.

"Ela contratou um advogado e nos próximos dias dará início a um processo legal, mas, não sei quando tempo vai levar", ele disse. "Ela pediu orações por Carlos e estou certo que nesse momento isso é tudo que podemos fazer".

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