Cristãos tribais são "reconvertidos" durante festival hindu

Portas Abertas • 18 abr 2006


Na semana passada, líderes hindus converteram pelo menos 344 cristãos tribais ao hinduísmo ao participar de uma celebração centenária do Rashtriya Swayamsevak Sangh (RSS). Embora a polícia estivesse presente, ela não tomou nenhuma atitude para fazer valer a lei anticonversão do estado de Orissa, que exige permissão oficial para tais eventos.

As denominadas "reconversões" aconteceram no domingo, 9 de abril, enquanto personalidades hindus importantes encorajavam os cristãos do vilarejo a soprar conchas e recitar escrituras hindus em um simbólico "retorno" ao hinduísmo - apesar da maioria do povo tribal ser tradicionalmente animista, não hindu.

O RSS havia estabelecido um alvo de reconverter mais de dez mil pessoas até domingo à noite. Observadores disseram que a intensa observação da mídia diminuiu o número de conversões.

Quase 500 mil hindus se reuniram no vilarejo de Chakapad, na província de Phulbani, no estado de Orissa, para o evento de três dias. O presidente do RSS, K.S. Sudarshan e o presidente internacional do Conselho Hindu Mundial (VHP ou Vishwa Hindu Parishad) Ashok Singhal estavam presentes.

O governo estatal ajudou, fornecendo a infra-estrutura, geralmente não disponível para vilarejos remotos. A BSNL, uma companhia de telecomunicações nacional, forneceu ao vilarejo serviço de telefones celulares temporários durante o evento.

Ameaça crescente

Gopal Chandra Mohapatra é um velho líder do comitê do RSS em Orissa. Ele afirmou que as reconversões foram um precursor para o recomeço de uma campanha em âmbito nacional contra a "ameaça crescente de conversões religiosas".

A campanha foi "meticulosamente elaborada para construir a uniformidade social, sem levar em consideração a casta, o credo e a ideologia", declarou Gopal aos jornalistas locais.

O padre jesuíta Cedric Prakash, diretor da organização de direitos humanos Prashant, questionou a autenticidade das cerimônias de reconversão.

"Os cristãos são literalmente impelidos a participar desses eventos", disse Cedric à agência de notícias Compass. "E, se estamos falando sobre conversão, se questiona se a lei estatal anticonversão não é aplicável àqueles que organizam estes eventos".

O reverendo Pranaranjan Parrichha, presidente da filial do Conselho Geral dos Cristãos da Índia (AICC, sigla em inglês), disse que o RSS deveria ser responsabilizado pelas reconversões e pelos discursos de ódio realizados durante o evento.

"É deplorável que, enquanto 20 pelotões policiais e mais de cem guardas provisórios foram enviados como parte das providências de segurança, as reconversões continuaram descaradamente", disse ele. "Além disso, Ashok Singhal realizou discursos extremamente inflamados contra o cristianismo e os missionários cristãos".

O Ato de Liberdade Religiosa de Orissa, colocado em vigor em 1999 depois de vários falsos inícios, requer permissão prévia da polícia local e dos magistrados da província antes que ocorra a conversão. O Código Penal Indiano também proíbe ferir os sentimentos de qualquer outro grupo religioso.

Vários cristãos foram acusados de infrações de acordo com estas leis. Mais recentemente, oficiais da Missão Internacional Emmanuel, no estado de Rajasthan, foram detidos por causa de um livro de religião comparativa. Disseram que o livro feriu os sentimentos religiosos dos hindus.

Pranaranjan ficou grato pela presença da polícia em Phulbani, que garantiu segurança às igrejas e às outras instituições cristãs na província. Mas ele ficou decepcionado por "não poder proteger a fé de nossos irmãos tribais".

O sacerdote Prasana Shing, padre em Pongia (cerca de 20 km de Chakapad) disse que os cristãos ficaram em casa durante o fim de semana, temendo revoltas da comunidade. "Apesar de ter um bom entendimento e concordância com o povo hindu local, de vez em quando eles são desencaminhados pela propaganda de ódio contra os missionários cristãos", acrescentou Prasana.

Enquanto os membros do RSS distribuíam propaganda do evento, em 1º de abril, a delegacia na província de Phulbani foi saqueada.

"O encarregado, um cristão chamado Ashwin Naik, foi quase morto por espancamento", disse Prasana. "Todos os documentos foram destruídos, e arquivos e registros foram queimados. Extremistas estavam envolvidos, mas ainda assim não foi feita nenhuma detenção".

Campanha contínua

John Dayal, presidente da União Geral de Católicos da Índia e secretário da AICC, disse que o evento ainda foi uma outra prova do projeto nacionalista hindu, promovido pelo Sangh Parivar, uma família de organizações nacionalistas hindus.

"Durante seus dois momentos no poder, de 1977 a 1979, e novamente de 1997 a 2004, o governo do partido Bharatiya Janata aumentou as tensões entre hindus e outros grupos religiosos", disse John. "A polícia, a estrutura administrativa e vários degraus da justiça criminal e do sistema judicial, incluindo a imprensa, foram infiltrados pelo RSS".

Nos últimos 20 anos, John disse o seguinte: "Vimos acontecer o maior e o mais expansivo programa de evangelização mundial - não pela igreja ou pelo islamismo, mas pelo hinduísmo".

A Índia tem agora mais de 20 canais de televisão hindus e quase todos os jornais divulgam notícias religiosas hindus diariamente, adicionou John.
 
"Sob estas circunstâncias, o RSS não encontra dificuldade para realizar seus eventos", disse ele "mesmo quando a polícia está presente".

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