Eritréia prende mais um pastor e 70 muçulmanos estão detidos

Portas Abertas • 25 abr 2006


Além da prisão de outro pastor protestante em fevereiro, as autoridades também prenderam 70 muçulmanos, nos últimos dois anos, por fazerem oposição à nomeação do mufti (líder religioso islâmico), feita pelo governo.

A detenção de eritreus pertencentes ao islã - uma das religiões legais no país - não é um bom sinal para os cristãos, cujas igrejas foram banidas, com exceção das igrejas Ortodoxa, Luterana e Católica são legalizadas. No ano passado, o governo passou a prender também membros de igrejas legais.

Fontes em Asmara confirmaram, no começo de abril, que 70 prisioneiros muçulmanos estão confinados em uma cela no famoso centro Wongel Mermera. Uma das fontes informou ao Compass que os muçulmanos têm recebido um "tratamento cruel" dos guardas e da polícia de segurança.

A maioria dos 28 pastores e sacerdotes das igrejas protestante e Ortodoxa presos pelo governo da Eritréia também estão em Wongel Mermera. As autoridades os colocaram em uma única cela.

Como os clérigos cristãos estavam "influenciando outros prisioneiros com o evangelho", os carcereiros os separaram dos outros presos.

Fontes em Asmara confirmaram a prisão do pastor Daniel Heilemichel, da Igreja Carismática Palavra de Poder, levado de sua casa em 23 de fevereiro. O pastor foi colocado sob custódia na delegacia número 2 de Asmara.

"A esposa dele está muito aflita", contou um cristão local, observando que ela e o marido tinha se casado apenas um mês antes da prisão de Daniel.

Tortura severa

O líder dos muçulmanos presos continua a ser alvo de severa tortura, numa tentativa de forçá-lo a convencer os outros a aceitar o xeique Al-Amin Osman Al-Amin como a mais alta autoridade dos muçulmanos eritreus.

Embora as autoridades tenham prometido aos muçulmanos rebeldes a liberdade se eles concordassem em "respeitar" a indicação de Al-Amin e apresentassem "um pedido oficial de desculpas" ao mufti, todos se recusaram a fazer isso.

O xeique Al-Amin foi empossado como mufti da Eritréia pelo governo do presidente Isaias Afwerki há dez anos

Entretanto, a prisão de oposistores de Al-Amin revela que ele foi indicado "sem que a comunidade muçulmana da Eritréia desejasse ou tivesse escolhido". Anteriormente, todas as mesquitas do país selecionavam o mufti e apresentavam o nome para a aprovação do governo.

Em setembro de 2001, a Rede Regional Integrada de Informação das Nações Unidas relatou a alegada "demissão" de Al-Amin de seu posto de mufti. Isso nunca foi confirmado pelo governo. De acordo com críticos do regime, o governo usou esse boato para forçar o mufti a uma posição submissa às demandas do governo de controlar todas as instituições islâmicas do país.

Nos últimos cinco anos, o xeique Al-Amin apoiava publicamente o regime. Depois que o Departamento de Estado dos Estados Unidos incluiu a Eritréia na lista de "Países de Preocupação Específica" por flagrantes violações da liberdade religiosa, ele declarou à agência France Press, em novembro de 2004, que "não há problema de liberdade religiosa na Eritréia".

Durante todo o ano passado, muçulmanos eritreus escreveram em websites, acusando o governo de Asmara de "enfraquecer o cargo de mufti muçulmano" e de sistematicamente confiscar propriedades religiosas.

Autoridades eritréias alegam que cidadãos muçulmanos detidos como prisioneiros políticos são suspeitos de ligação com a Al-Qaeda e outros grupos extremistas muçulmanos.

Os muçulmanos compõem a metade da população desse minúsculo país do leste africano.

Clérigos cristãos

Quanto aos líderes cristãos presos, "eles estão bem e de bom humor", segundo declarou ao Compass uma fonte cristã. De acordo com a mensagem de um pastor, obtida às escondidas, "todos permanecem firmes no Senhor e estão orando pela igreja que está sob ataque".

Depois de mais de um ano na prisão, o pastor Abraham Belay, da Igreja Evangelho Pleno, foi libertado recentemente e enviado para o Centro de Treinamento Militar de Sawa para o serviço militar obrigatório. Mas os médicos que o examinaram declararam que sua saúde não estava bem e que ele não estava apto para o serviço militar. Desde então, ele voltou para casa, onde vive com a esposa e dois filhos, em Asmara.

Desde que as igrejas protestantes independentes foram fechadas, em maio de 2002, as congregações evangélicas não conseguem obter registro de funcionamento e estão proibidas de se reunir, mesmo em cultos domésticos. Quase 1.800 cristãos eritreus estão detidos em delegacias, quartéis e prisões e são submetidos à tortura por causa de sua fé.

Em agosto passado, o governo chegou a interferir nos estatutos da Igreja Ortodoxa, depondo o patriarca Abune Antonios e estabelecendo um administrador secular, passando por cima do Sínodo Sagrado da igreja.

O patriarca, de 78 anos e saúde frágil, está incomunicável, sob prisão domiciliar em Asmara. Fontes ortodoxas leais a ele disseram que Abune Antonios caiu no desagrado do governo por protestar contra a detenção de três sacerdotes ortodoxos, que permanecem presos sem acusação formal.

Embora o papa copta ortodoxo Shenoudah III, que vive no Egito, tenha se recusado a comentar publicamente a deposição do patriarca, a constituição da igreja requer que tanto o patriarca como o papa estejam presentes a uma junta para considerar qualquer acusação formal com o objetivo de depor o patriarca de seu posto eclesiástico.

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