Cristãos são vítimas de perseguição implacável em cidade turca

Portas Abertas • 25 abr 2006


Inflamado pela imprensa local e por um mufti muçulmano, um antimissionário implacável centrou seus ataques aos cristãos da cidade oriental de Bingol, na Turquia. Ele agrediu uma muçulmana na sua alfaiataria no mês passado, e a polícia permitiu que o agressor continuasse em liberdade.

Guler Morsumbul ainda não encontrou um advogado que desejasse representá-la na corte na próxima segunda-feira, 24 de abril, contra o homem que a atacou, há seis semanas, acusando-a de "converter ao cristianismo" sua filha.   

Na manhã de 8 de março, Mehmet Caf entrou na alfaiataria da muçulmana no centro da cidade de Bingol, destruiu suas instalações e bateu no rosto de Guler, deixando-a com hematomas.

Diante da polícia e dos vizinhos de Guler, Mehmet alegou que ela estava tentando "evangelizar" sua filha de 13 anos, informou o jornal local de Bingol "Kent Haber", em 9 de março.

"Estamos sendo cristianizados", estampava a manchete do jornal. Fornecendo somente as iniciais de Mehmet, o artigo citou suas alegações de que Guler e outros "missionários" forçaram sua filha e 100 outros alunos a participar de uma missa secreta.

Ismet Gunyel, parente de Guler e um dos únicos quatro cristãos conhecidos na cidade, confirmou as informações de que Mehmet não havia sido preso. Mas ele negou as informações do "Kent Haber" que Guler e seu marido não queriam abrir um caso contra Mehmet.

Um outro parente de Guler, que solicitou anonimato, confirmou que a família da mulher queria processar Mehmet. "Ela é a querelante no caso", disse o parente. "Eles deveriam ter detido Mehmet, mas ele ainda está livre".

Ismet disse ao Compass que Guler, de 49 anos, levou três dias para encontrar um médico que quisesse examiná-la e emitisse um atestado. Encontrar um advogado foi ainda mais difícil.

Segundo uma fonte local, os advogados da área disseram mais ou menos a mesma coisa: "Eu não quero ser um advogado desses missionários".

Clima de medo

Ismet disse que muitos outros têm sofrido com o aumento do sentimento antimissionário em Bingol, desde que as informações da atividade missionária apareceram em um jornal nacional, pela primeira vez, três anos atrás.

"Quem quer que tenha um rancor contra alguém, quem quer que queira destruir o negócio alheio, simplesmente chama a pessoa de um cristão", disse um senhor de 45 anos que se converteu ao cristianismo há mais de dez anos.

Segundo Ismet, Mehmet atacou Guler como parte de uma vingança de um dos parentes dele, um ex-sócio - e agora concorrente - do marido de Guler.

Depois que os dois sócios dividiram a sociedade em 2004, a família de Mehmet começou a espalhar boatos de que os Morsumbuls estavam construindo uma igreja e convertendo muçulmanos.

Por fim, Ismet disse que o maior responsável pelo crescente temor dos missionários na cidade é o mufti de Bingol, Yalcin Topcu. Como autoridade muçulmana indicada pelo estado para a província, o mufti chegou a organizar um congresso antimissionário em 2004.

Em uma entrevista para o Compass, Yalcin disse que temores antimissionários em Bingol eram tão fortes, que ele mesmo era uma vítima potencial.

Quando o marido de Guler foi procurá-lo depois da agressão de sua esposa, o mufti disse: "Se hoje eu apoiar você e esclarecer tudo, amanhã eles vão atrás de mim e dirão que eu estava fazendo propaganda cristã". O mufti diz que não se sente seguro.

Aparição na TV

Rumores sobre o suspeito proselitismo cristão surgiram, pela primeira vez, em março de 2003, quando Ismet ajudou cristãos turcos, oriundos da cidade vizinha de Diyarbakir, na distribuição de tendas após um terremoto.

Um artigo de 22 de maio do jornal "Vakit" declarou que Ismet estava ajudando missionários a "tirar proveito do sofrimento das vítimas do terremoto", distribuindo Bíblias nos pacotes de auxílio.

Ismet disse que a vida com sua esposa e os dois filhos (também cristãos) permaneceu relativamente pacífica até janeiro de 2004, quando eles apareceram por acaso na televisão participando de um culto na igreja.

Durante as notícias da noite, a estação de TV Canal 7 mostrou uma reportagem de 10 minutos sobre a Igreja Protestante Turca em Diyarbakir, a qual Ismet e sua família estiveram visitando. A esposa de dele chamou a atenção das câmeras e dos comentaristas porque sua cabeça estava coberta, no típico estilo islâmico.

"Depois disso, todos em Bingol começaram a fazer perguntas", disse Ismet. Vizinhos e parentes reagiram cortando todas as ligações com a família. "Nossas relações de negócios terminaram. Nossas vidas tornaram-se uma completa desgraça".

O mufti Topcu disse que para "tranqüilizar os anseios", seu escritório organizou um congresso de uma semana, em abril de 2004, sobre o perigo de atividades missionárias em Bingol.

"Não se renda à ilusão de que nossos arredores estão seguros", era o tema do preletor do congresso Mehmet Keskin, do Diretório dos Assuntos Religiosos de Ancara, que fez essa declaração ao jornal local "Bingol".

Conforme o artigo de 8 de abril de 2004, Keskin alegou que havia informações de que 50 a 60 pessoas em Bingol haviam se convertido ao cristianismo e estavam tentando assumir a direção do solo turco.

Ismet disse que, longe de acalmar os temores, o congresso somente piorou a situação. "Naquela época nós estávamos com medo", disse o cristão. "Eles estavam falando sobre os missionários, mas de qualquer maneira, eles estavam falando sobre nós, porque não há outros cristãos em Bingol."

Ismet contou ao Compass que seus parentes estavam sendo constantemente ameaçados com violência caso ele não renunciasse ao cristianismo publicamente ou deixasse a cidade. Um pouco depois do congresso, um grupo de mulheres foi para uma loja que pertencia a um de seus parentes, pensando que pertencesse a Ismet. Funcionários da loja rapidamente disseram às mulheres que tinham entrado no local errado; quando as mulheres pediram-lhes informações para irem à loja de roupas de Ismet, eles disseram que não tinham conhecimento dessa loja.

"Foram dias horríveis. Pensávamos o tempo todo: Agora eles irão nos atacar", contou Ismet. "Sete meses depois do congresso, eu sofri um terrível ataque cardíaco".

O ataque cardíaco deixou o cristão dependente de medicação para controlar a pressão sangüínea irregular.

"Tudo isto está acontecendo por causa do mufti," contou um parente de Ismet que solicitou anonimato. "Ele realmente quer expulsá-lo da cidade".

Rótulo de cristão

Ismet também questiona o governo de Bingol e a secretaria de segurança por permanecerem em silêncio sobre o assunto.

O governador de Bingol, Vehbi Avuc, repetidamente se negou a conversar com o Compass por telefone, e seu secretário pessoal disse que ele não tinha nenhum conhecimento sobre a situação.

O mufti Topcu reconheceu que temores antimissionários foram usados para obter vantagem pessoal, mas também disse que missionários com motivos políticos foram um problema em Bingol. "Em minha opinião pessoal, atividades missionárias são políticas - na verdade, elas não são um serviço para a religião", comentou o mufti.

Com o ressurgimento dos ataques separatistas curdos por toda a Turquia no ano passado, a maioria étnica curda de Bingol deixou especialmente os oficiais da cidade sensíveis à intromissão política.

Na semana passada, a Turquia deportou o pesquisador da Vigilância dos Direitos Humanos (Human Rights Watch) Jonathan Sugden, que estava investigando abusos dos direitos humanos em Bingol.

O cidadão britânico contou que ele fora oficialmente deportado em 13 de abril por realizar uma pesquisa sobre um visto de turista. Por isso, ele recusou as alegações da mídia turca de que ele estivera "fazendo discursos empolgantes aos aldeãos".

Ismet admitiu sua preocupação de que a violência "antimissionária" continuaria se Mehmet não for adequadamente punido. Ele disse que, como cristãos, sua própria família está em perigo agora porque qualquer um poderia "ir a Bingol, surrar alguém e não ser preso porque a pessoa em quem bateu é rotulada como uma cristã".

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A Portas Abertas é uma organização cristã internacional e interdenominacional, fundada pelo Irmão André, em 1955. Hoje, atua em mais de 60 países apoiando cristãos perseguidos por causa da fé em Jesus.

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