Igreja sudanesa é alvo de incêndios criminosos

Portas Abertas • 8 mai 2006


Enfrentando ameaças de um líder de uma milícia muçulmana local, os cristãos da região central do Sudão decidiram deixar sua igreja parcialmente construída, depois que ela foi queimada, no dia seguinte ao Natal do ano passado.
 
A congregação da Igreja Episcopal do Sudão (ECS, sigla em inglês), na cidade de Shatt Damam, localizada nas montanhas de Nuba, espera que a reconstrução parcial ajude a evitar que a igreja seja queimada pela quarta vez.

No mês passado, Aboud Kafi Jamaiza, um evangelista da congregação, informou à diocese da ECS em Kadugli que o prédio tinha sido queimado três vezes desde que foi erguido em julho de 2005. Por duas vezes, em setembro no ano passado, a congregação de 190 membros foi forçada a reconstruir sua igreja depois que a estrutura de madeira foi queimada.

Natal em vigília

Esperando evitar que os incendiários desconhecidos queimassem novamente a igreja durante o Natal, a congregação organizou uma vigília de oração na véspera de Natal, disse Aboud Kafi.

Mas, em 26 de dezembro, a igreja novamente pegou fogo, dessa vez por causa de explosivos colocados dentro do prédio, de modo que ninguém pudesse tentar salvar as colunas de maneira da estrutura.

Segundo Aboudi Kafi, o líder da milícia muçulmana local, Kafitiyar Al Yideen, freqüentemente ameaça os membros da igreja, mas não há prova direta que ele esteja por trás dos incêndios.

Um líder muçulmano local, solidário às dificuldades da congregação da ECS disse que Kafitiyar havia contratado criminosos da região para atear fogo na igreja cada vez que ela fosse reconstruída. O líder muçulmano, que solicitou anonimato, contou aos líderes da ECS de Kadugli que Kafitiyar o advertiu para não aceitar escolas ou clínicas administradas por cristãos na cidade.

O evangelista Aboud Kafi disse que, no início de abril, Kafitiyar discutiu publicamente a existência da igreja, agora muito menor, com apenas duas paredes e um teto parcial.

"Por que ela ainda está de pé?", questionou o líder da milícia muçulmana, que comanda várias centenas de soldados, segundo informações de uma fonte. Conforme Aboud Kafi, moradores locais responderam que queimariam a igreja novamente logo que a reconstrução terminasse.

Queixas registradas

A congregação da ECS registrou queixas de incêndio criminoso junto ao Movimento Popular de Libertação do Sudão (SPLM, sigla em inglês), autoridade autônoma que governa o sul do Sudão e essa área das montanhas de Nuba. Contudo, nenhuma medida foi tomada.

Kafitiyar é suspeito de planejar o incêndio de uma escola do SPLM, em Shatt Damam, cujos funcionários eram cristãos e muçulmanos, aparentemente porque o inglês era o idioma de instrução.

Agora os membros da igreja em Shatt Damam esperam que o barracão provisório permaneça intacto até que possam fazer tijolos suficientes para construir uma igreja mais resistente ao fogo.

A maior parte da população animista, aproximadamente 500 pessoas, em Shatt Damam, vive na pobreza. A pequena comunidade muçulmana da cidade tem uma mesquita de tijolos relativamente luxuosa, construída com a ajuda dos fundos do Kuweit.

Escrituras negadas

Alguns dos piores combates da nação durante a Guerra dos 21 anos ocorreram nas montanhas de Nuba, situadas entre o norte e o sul do Sudão. O conflito começou em 1983, colocando os muçulmanos árabes do norte contra os animistas, muçulmanos e cristãos negros do Sul.

As forças do governo muçulmano e as milícias patrocinadas pelo estado muçulmano local freqüentemente atingiam igrejas durante os ataques nas cidades das montanhas de Nuba.

Agora, depois de mais de um ano desde que o SPLM e o governo do norte assinaram um acordo de paz, que concedeu autonomia ao sul, as igrejas locais ainda estão lutando para se recuperar da guerra civil.

No mês passado, na sede diocesana da ECS em Kadugli, o bispo Adam Andudu informou um decréscimo na perseguição desde a assinatura do acordo de paz em janeiro de 2005, mas ele disse que a igreja ainda está lutando para obter o uso integral de sua terra.

Embora todos os outros proprietários de terra em Kadugli tivessem recebido escrituras de sua terra, a ECS não recebeu escrituras da Kadugli Cathedral Jaafer e de outros prédios da ECS que foram construídos antes que o registro da terra entrasse em vigor, disse o bispo.

A ECS também está tentando recuperar o uso de uma igreja construída na cidade de Salara em 1937. O exército ocupou os prédios da igreja na metade da década de 1990, e desde a assinatura do acordo de paz, ele tem se recusado a desocupar as instalações.

Disputa por terras

Na cidade de Katcha, 10 quilômetros a oeste de Shatt Damam, uma congregação da ECS de aproximadamente de 250 pessoas informou problemas contínuos com o líder tribal muçulmano Dedan Mahmoud. O líder construiu sua casa na propriedade da igreja em 2004, alegando que a terra pertencia aos seus antepassados.

Íntimo de Dedan, o imã muçulmano da cidade tem usado alto-falantes de sua mesquita para insultar os cristãos, já que a mesquita foi construída ao lado da igreja em 1997.

Segundo a Human Rights Watch (HRW), as milícias fundadas no norte, como a de Kafitiyar, em Shatt Damam, ameaçam a paz por todo o sul do Sudão.

O Partido do Congresso Nacional, partido governante na administração do norte "não cessou seu apoio às milícias étnicas do sul - que é parte de sua estratégia contra-insurreição", declarou o relatório de 8 de março.

Várias comissões que deveriam ser estabelecidas em decorrência do acordo de paz, incluindo uma comissão dos direitos de não-muçulmanos na capital nacional, também fracassaram em se concretizar, disse o HRW.

As montanhas de Nuba abrigam aproximadamente 100 tribos, que falam mais de 57 idiomas.

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