Portas Abertas • 14 jan 2004
Os cristãos do mundo todo estão elogiando a decisão das autoridades mexicanas de realizarem uma revisão judicial da condenação dos 76 camponeses tzotzil presos há seis anos em Chiapas pelo Massacre de Acteal.
Entre os prisioneiros estão 34 cristãos evangélicos, alguns deles pastores e líderes leigos de congregações locais filiados às igrejas Presbiteriana, Assembléia de Deus e Pentecostal.
No dia 23 de dezembro último, o gabinete do Ministério do Interior anunciou a formação de uma força-tarefa que fará a revisão da legalidade da prisão de cada um dos homens acusados do crime.
De acordo com as acusações contra eles, os réus participaram de um ataque paramilitar em 22 de dezembro de 1997 contra um grupo da comunidade reunido em um convento católico no vilarejo de Acteal para uma vigília de oração. Atiradores supostamente cercaram o prédio e abriram fogo através das janelas da capela, matando seis homens, 21 mulheres e 18 crianças que estavam ali dentro.
Entretanto, os investigadores da polícia não produziram prova confiável para apoiar esta versão dos fatos. Por exemplo, os revólveres supostamente usados no ataque não continham impressões digitais dos acusados, nem as cápsulas das balas encontradas no local do crime são do calibre das armas que a polícia apresentou mais tarde como evidência. As testemunhas afirmaram que vários dos homens condenados passaram o dia todo do tiroteio a quilômetros de Acteal.
Apesar da falta de evidência, a polícia prendeu 90 pessoas no transcurso de três meses no ensejo do incidente, aparentemente numa reação à intensa pressão nacional e internacional para prender os suspeitos. As autoridades ficaram muito dependentes das acusações feitas contra os réus por seus rivais em uma disputa de terra local. Alguns observadores acreditam que as autoridades escolheram os evangélicos porque sabiam que eles eram cidadãos pacíficos que ofereceriam pouca resistência à prisão.
Em uma declaração pública, o Ministério do Interior declarou que sua ordem para uma revisão judicial vem em resposta a pedidos da comunidade cristã evangélica, particularmente da Igreja Presbiteriana Nacional. Entretanto, o assunto não deve ser tomado como sendo de natureza religiosa, disse o Ministério.
No início de dezembro, mais de 100 pastores e líderes da igreja reuniram-se com autoridades do governo na Igreja Metodista de Gante Street, na cidade do México, para fazer pressão para uma revisão do caso de Acteal.
Queremos que seja feita justiça mais do que ninguém, mas uma justiça que identifique e puna os verdadeiros responsáveis por esta terrível tragédia, disse à assembléia Abner Lopez Perez, pastor presbiteriano e diretor da Sociedade Bíblica do México, de acordo com um relatório do jornal de âmbito nacional, o La Jornada.
Em uma carta aberta publicada uma semana depois da reunião da Gante Street, os líderes da igreja catalogaram irregularidades sem conta e violações aos direitos humanos cometidos durante a investigação e julgamento e apelaram ao governo do presidente Vicente Fox que reabrisse o caso.
Durante as semanas seguintes, os evangélicos fizeram manifestações públicas em favor dos réus de Acteal, incluindo uma grande marcha ao prédio do Ministério do Interior no dia 22 de dezembro.
Apesar do fato de ter levado quase seis anos para convencer o governo federal para abrir uma revisão judicial do caso de Acteal, os evangélicos saudaram a notícia do Ministério do Interior com grande alegria, vendo-a como o primeiro sinal positivo de que aquelas pessoas injustamente presas pelo massacre possam um dia ser absolvidas.
Richard Luna, diretor de Portas Abertas América Latina, é um dos que recebeu bem a notícia. Luna participou de uma coalizão internacional de grupos cristãos que intercederam em favor da revisão do caso. Em várias ocasiões, Luna visitou os réus de Acteal presos na penitenciária de Cerro Hueco em Chiapas e está organizando ajuda financeira para as famílias deles.
O que pode parecer um passo ao acaso é, acredito eu, o resultado de milhares de cristãos que têm orado durante muitos anos para que seja feita justiça, disse Luna. É também pôr as orações em ação, escrevendo cartas às vítimas, a suas famílias e às autoridades e também visitando os prisioneiros. Este esforço precisará continuar até que eles sejam soltos.
Uma revisão judicial revelará os abusos, a falta de um processo devido e a cilada que os réus de Acteal sofreram, acrescentou ele. Uma revisão justa revelará finalmente a inocência desses crentes e aliviará o sofrimento de todas as suas famílias.
O La Jornada publicou que a Unidade para a Promoção e Defesa dos Direitos Humanos do Ministério do Interior coordenará a força-tarefa encarregada da revisão judicial, que inclui representantes do gabinete federal da Advocacia Geral, a Comissão Nacional de Direitos Humanos e o governo do Estado de Chiapas.
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