Portas Abertas • 16 jan 2004
A polícia e unidades do exército no Estado de Yobe, nordeste da Nigéria, deram fim a uma violenta tentativa de militantes muçulmanos de implantar ali uma República Islâmica, no fim de dezembro.
Extremistas supostamente filiados ao movimento Talibã do Afeganistão fizeram incursões por oito cidades nigerianas, atacando delegacias de polícia, incendiando prédios e roubando armas.
As autoridades confirmaram que dois policiais foram mortos nos conflitos nos quais os agressores levaram armas e munições. A igreja e autoridades do governo não haviam ainda determinado o número de mortes entre os cristãos. Entretanto, eles acreditam que centenas de famílias foram desalojadas de Damaturu, Kanamma, Geidam, Yanusari, Toshiya, Dapchi, Babbangida, Bursari e outros vilarejos que estavam na mira dos ataques.
Por volta de alguns minutos depois da meia-noite da quarta-feira, pessoas que acreditamos serem fundamentalistas islâmicos atacaram a Divisão A da delegacia de polícia de Damaturu, disse à Portas Abertas no dia 1 de janeiro o Sr. Fatai Fagbemi, inspetor assistente de polícia. Alguns dias atrás, eles haviam atacado delegacias de polícia com o objetivo de conseguir o arsenal de armas e munições.
Um inspetor de polícia que estava com o corpo médico foi morto pelos fanáticos. E nesta madrugada nós rastejamos os fanáticos. Ao longo da rodovia para Maiduguri, perto do vilarejo de Jakana, encontramos por acaso um veículo que eles tinham levado da polícia e abandonado no caminho.
No carro havia revólveres, rifles, duas caixas de munição e latas de gás lacrimogêneo, de acordo com Fagbemi. Dois membros do grupo islâmico foram presos com armas, disse ele, e o corpo de um extremista morto na contra-ofensiva foi resgatado e deixado no necrotério local.
O policial não quis comentar o número de cristãos mortos pelos fanáticos. Esse é um assunto muito sério, sensível e perigoso, disse Fagbemi. Não podemos discutir isso na imprensa. Religião é um assunto sensível que pede cautela. Por favor, não relatem o ângulo político disso.
Os fundamentalistas muçulmanos que se intitulam o Movimento Hijrah (Migração) estabeleceram uma base perto da fronteira com a República do Níger há mais de um ano. Fontes da polícia disseram que os fundamentalistas juraram lealdade ao líder do Talibã do Afeganistão, o mulá Umar. Desde então o grupo ficou conhecido como Talibãs da Nigéria.
Eles escolheram sua base como um Estado islâmico e distribuíram panfletos afirmando que pretendiam estabelecer um Estado islâmico na Nigéria. Eles também prometeram matar todos os não-muçulmanos e declararam uma guerra santa islâmica aos cristãos e ao governo nacional.
Referindo-se ao ataque da semana passada, o governador Alhaji Bukar Abba Ibrahim disse em uma entrevista à imprensa que o governo nigeriano está preparado para a tarefa de tratar decisivamente com qualquer ameaça à segurança nacional.
Ibrahim, que é muçulmano, classificou os militantes como anarquistas e criadores de problemas. Eles nunca conseguirão seus intentos. Vamos esmagá-los, acrescentou.
Informações do correspondente da BBC em Yobe, Mato Adamu, disse que o grupo islâmico conseguiu pouquíssimo apoio entre os muçulmanos. Os conflitos da semana passada não levou a tensões maiores com a minoria cristã da área, disse ele.
Doze governadores de Estado do norte do país, região predominantemente muçulmana, incluindo Yobe, introduziram a sharia, a lei islâmica, desde que a Nigéria retornou ao regime civil em 1999. O sistema legal islâmico impôs uma dura atmosfera religiosa e despertou a perseguição contra a população cristã minoritária nesses Estados, de acordo com fontes no país.
Incessantes conflitos religiosos lançando muçulmanos e cristãos uns contra os outros, importunam o país desde a imposição da sharia, sendo responsáveis pela morte de 10 a 50 mil pessoas, de acordo com estimativas.
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