Portas Abertas • 2 jun 2008
Radicais islâmicos, juntamente com uma força paramilitar, destruíram seis igrejas no início do mês para protestar contra o resgate de duas adolescentes cristãs, seqüestradas por muçulmanos na cidade de Bauchi. A polícia resgatou as duas garotas, Mary Chikwodi Okoye, 15 anos, e Uche Edward, de 14 anos, no dia 12 de maio. As duas tinham sido capturadas em uma tentativa de expandir o islamismo.
O seqüestro das duas adolescentes cristãs por muçulmanos, disse o pastor Joseph Abdu, está se tornando uma prática recorrente em Ningi. Os muçulmanos seqüestraram pelo menos 13 meninas na cidade, disseram fontes cristãs. “Essas garotas são freqüentemente capturadas, forçadas à conversão ao islamismo, e então casam com homens muçulmanos contra a vontade e a de seus pais”, disse Abdu.
Os seqüestradores raptaram as meninas na cidade de Wudi, no Estado de Kano. Depois do resgate feito pela polícia, os muçulmanos, apoiados pelo Comando Hisbah, um exército paramilitar da Comissão Sharia do Estado de Kano, e responsável por fazer com que as leis islâmicas sejam cumpridas, agiram violentamente na terça-feira, 13 de maio, atacando cristãos e ateando fogo às igrejas.
As igrejas destruídas foram: Igreja Bíblica Vida Profunda, Igreja Católica Santa Maria, Igreja Anglicana de Todas as Almas, Igreja de Cristo na Nigéria, Igreja Cristã da Redenção de Deus e Missão da Redenção de Pessoas.
Prejuízos
Joseph Abdu, pastor da Igreja Bíblica Vida Profunda, disse ao Compass que os danos à sua igreja devido aos ataques somam por volta de 13 milhões de nairas (R$ 250 mil) – e que sua congregação foi reduzida de 130 para 40 pessoas depois do ataque.
Ele disse ainda que os pais adotivos das garotas resgatadas, Kanayo Chukwu Osakwe e Robinson Ajolokwu Ozuagbunna, reportaram à polícia e ao Conselho dos Emirados Ningi o desaparecimento das meninas há três semanas.
“A comunidade cristã de Ningi, depois de denunciar o acontecimento à polícia, organizou uma equipe de busca pelas meninas desaparecidas”, disse Abdu. “Rumores de que as garotas estavam na cidade de Wudil, no Estado de Kano, sob o poder de líderes muçulmanos, chegaram até a equipe de busca.”
A equipe e mais dois policiais foram a Wudil, mas lá souberam que o Comando Hisbah havia devolvido as garotas para o líder muçulmano da cidade de Ningi, o emir Alhaji Muhammadu Yunusa Danyaya.
“A equipe voltou a Ningi e confirmou que as garotas estavam no palácio do líder muçulmano, mas que elas não seriam soltas e mandadas de volta aos seus pais, até que o emir, que estava fora da cidade, voltasse”, disse Abdu ao Compass.
Prática recorrente: seqüestro de meninas cristãs
Há dois meses, muçulmanos em Ningi seqüestraram outra adolescente cristã, Maryann Chinenye, converteram-na ao islamismo e forçaram-na a casar com um muçulmano, disse o pastor. “Enquanto eu falo com você agora, a garota ainda está sendo procurada por seus pais”, completou Joseph Abdu.
O pastor ainda contou que um membro de sua igreja, Comfort Joseph, teve sua filha seqüestrada há quatro anos. “A filha adolescente dele foi convertida ao islamismo, casou com um muçulmano e nós ainda não conseguimos resgatar a garota do poder deles.”
O resgate
Osakwe, pai adotivo da garota de 15 anos, Mary Chikwodi Okoye, disse ao Compass que a adolescente foi levada inicialmente para a casa de um líder muçulmano, Alhaji Umaru Maibishi, em Wudil, no Estado de Kano. “Mas esse muçulmano, ao saber que estávamos a caminho de sua casa, mandou as duas garotas de volta para o emir de Ningi, Alhaji Muhammadu Yunusa Danyaya”, revelou.
Osakwe contou que quando ele e os membros da equipe de busca encontraram o emir, ele os comunicou que as meninas tinham se convertido ao islamismo. “Nós rejeitamos essa explicação e insistimos que nossas filhas fossem devolvidas a nós, mas os líderes muçulmanos se recusaram a fazer isso”, contou.
“A polícia, sentindo que havia uma tensão na cidade por causa do ocorrido, levou as meninas para a cidade de Bauchi, onde elas foram enfim resgatadas e levadas ao leste da Nigéria, para retornarem aos seus pais”.
Osakwe identificou um líder muçulmano na cidade de Ningi, Alhaji Bala Gambo, como o responsável pelos seqüestros das adolescentes cristãs. Gambo é um dos membros da Assembléia de Conselheiros de Ningi.
O ataque aos cristãos feito pelos muçulmanos na última terça-feira, 13 de maio, disse Osakwe, deixou-os financeiramente devastados por causa dos saques e das destruições a seus bens no valor de 50 milhões de nairas (mais de R$ 500 mil).
Líderes muçulmanos – Emir Danyaya e Gambo em Ningi, e o líder muçulmano de Wudil em Kano, Maibishi – se recusaram a falar ao Compass sobre os seqüestros e ataques.
O drama da família que espera pela filha há quatro anos
Um morador de Ningi há 22 anos, disse ao Compass que “perdeu tudo” no ataque. Osakwe e Ozuegbunna se sentiram abençoados por terem suas filhas de volta, mas Stephen Nweke e Comfort Joseph continuam esperando ansiosamente por sua filha. Bummi Joseph, 16 anos, foi capturada em 2004.
A mãe dela disse que a polícia não conseguiu resgatá-la dos muçulmanos. “Eu soube que ela foi forçada a se casar com um muçulmano e que deu à luz a duas crianças”, disse Joseph. Ela também disse que Gambo foi o responsável pelo seqüestro de sua filha.
“Quando fomos ao palácio do Emir Alhaji Gambo, ele se gabou diante de nós e disse que nós não podíamos fazer nada contra ele”, contou ela ao Compass. “O homem tem proteção da corte sharia”.
Nweke, um membro da Igreja Católica Santa Maria em Ningi, disse que sua filha adotiva, Maryann Chinenye Chiazo, 16 anos, foi raptada em novembro de 2007 e ainda está nas mãos dos muçulmanos. “Eu denunciei o seqüestro à polícia e ao Conselho dos Emirados aqui em Ningi, mas a Comissão Sharia aqui no Estado de Bauchi disse que agora ela é uma muçulmana e está sob a custódia deles”, contou Nweke.
Newke também acusou Gambo de estar por trás dos seqüestros das meninas cristãs. “Eu não posso deixar essa cidade sem minha filha, mesmo que eles me matem – eu prefiro morrer a ir embora sem ela”, disse ela aos prantos. Ela apelou ao governo da Nigéria: “ajudem-me a ter minha filha de volta”.
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