Portas Abertas • 3 jun 2008
Três dos mais importantes pastores protestantes da Eritréia – os líderes da Igreja do Evangelho Pleno, Haile Naizghi; o doutor Kifle Gebremeskel; e Tesfatsion Hagos, da Igreja Evangélica Rema – estão presos há quatro anos, e incomunicáveis.
Uma notícia ainda não oficialmente confirmada, mas que circula por Asmara, capital do país, dá conta de que o regime ditatorial tem planos de prestar formalmente acusação contra vários pastores protestantes presos nos últimos quatro anos.
Na pequena nação africana dominada pelo que é considerado, por muitos, um dos mais brutais e paranóicos governos do mundo em relação à liberdade religiosa e de expressão, a pena por traição é a morte.
Os parentes e os membros das igrejas dos pastores presos estão "muito ansiosos" por causa dessas notícias não confirmadas, disse uma fonte ao Compass ( leia pedido de oração urgente, aqui).
De acordo com uma reportagem investigativa publicada na semana passada pela ONG Repórteres Sem Fronteiras, os três pastores "desapareceram no sistema carcerário de Eritréia desde sua prisão em maio de 2004".
A reportagem apontou o conselheiro especial da presidência e ministro governamental Naizghi Kiflu como "o homem, dentro do governo, encarregado de aniquilar com as igrejas".
Em maio de 2002, Naizghi Kiflu negou reconhecimento a 36 igrejas e grupos religiosos sob o pretexto de que "eles supostamente encorajam a insurreição e sustentam os desertores", dizia o relatório da ONG.
Abusos e violações
As leis erítreas proíbem que um cidadão permaneça por mais de 30 dias preso sem que uma queixa formal seja oferecida. Apesar disso, o governo se recusa a oferecer queixa contra os pastores ou mesmo dar um motivo para prendê-los. Outra centena de membros de igrejas enfrenta a mesma situação.
Sabe-se que, pelo menos outros 15 pastores, padres e diáconos estão entre os mais de 2.000 cristãos presos em penitenciárias, delegacias de polícia e quartéis em toda a Eritréia por causa de suas crenças e práticas religiosas. Eles têm sido repetidamente espancados e torturados, e por vezes trancados em contêineres de metal ou em celas subterrâneas para que neguem a fé.
Prisões no fim-de-semana
Na semana passada, a polícia invadiu uma casa e prendeu 25 cristãos que estavam reunidos no Dia da Independência para orarem pela nação.
Algumas fontes confirmaram ao Compass que 20 homens e cinco mulheres foram presos enquanto se reuniam em uma casa em Adi-Kuala no sábado, dia 24 de maio. As 25 pessoas fazem parte do grupo Medhane, movimento de renovação espiritual da Igreja Ortodoxa Eritréia. Os prisioneiros estão na delegacia de polícia de Adi-Kuala, cidade próxima à fronteira com a Etiópia.
Mas as fontes locais continuam temerosas de que as autoridades estejam planejando transferi-los ao Wi, um centro de treinamento militar conhecido pelo tratamento brutal que dispensa aos seus prisioneiros religiosos.
Campanha de repressão aos cristãos
Em maio de 2002, o governo do presidente Isaias Afwerki, de inclinação marxista, tornou ilegal qualquer igreja protestante independente, ordenou que os templos fossem fechados e criminalizou os cultos domésticos.
Em maio de 2005, o embaixador da Eritréia nos Estados Unidos argumentou no programa de rádio "Voz da América" que os protestantes independentes eram cristãos "equivalentes à rede terrorista al-Qaeda" e ofereciam uma ameaça terrorista para a nação.
Em princípio, a ação do governo visava apenas as congregações pentecostais e carismáticas, que crescem rapidamente no país. Entretanto, o governo também tem interferido nos assuntos internos da Igreja Ortodoxa e levado líderes eclesiásticos e leigos para a prisão, forçando a igreja a substituir seu corpo de patriarcas anciãos por um apontado pelo governo.
Desde maio de 2002, apenas as igrejas Ortodoxa, Católica e Luterana são classificadas pelo governo da Eritréia como denominações cristãs "históricas" e têm permissão para funcionar legalmente. Aproximadamente metade da população no país é islâmica.
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