Portas Abertas • 7 dez 2009
Mais da metade da população de maioria muçulmana na Turquia é contra reuniões de membros de outras religiões e publicação de material sobre sua fé, de acordo com uma recente pesquisa.
Exatos 59% dos entrevistados disseram que não muçulmanos “não deveriam” ou “absolutamente não deveriam” ser permitidos de se reunir abertamente para discutir suas ideias. Cinquenta e quatro por cento disseram que não muçulmanos ou “não deveriam” ou “absolutamente não deveriam” publicar literatura que declare sua fé.
A pesquisa também revelou que cerca de 40% da população turca disse ter uma visão “muito negativa” dos cristãos. O resultado da pesquisa afirma ainda que 60% disseram que existe apenas uma religião verdadeira; mais de 90% da população da Turquia é de muçulmanos sunitas.
Ali Çarkoglu, um dos professores da Universidade Sabanci que conduziu o estudo, disse que nenhumas das reuniões de religiões não muçulmanas está “livre de risco”. “Mesmo em Istambul não é fácil ser membro de uma religião que não o islamismo”, disse.
O relatório, lançado mês passado, foi parte de um estudo comissionado pelo Programa de Pesquisa Social Internacional, um grupo acadêmico de 45 nações que conduz pesquisas sobre assuntos sociais e políticos. O estudo quantifica quão religiosa é a população em cada um dos 43 países membros.
Çarkoglu, juntamente com o Professor Ersin Kalaycýoðlu, deu início à pesquisa em 2008. O estudo completo com o resultado dos 43 países será divulgado em 2010. O estudo foi conduzido antes por três vezes em intervalos de 10 anos.
Este ano marca a primeira vez que o estudo foi coletado na Turquia. O país foi o único com população de maioria muçulmana na pesquisa.
O levantamento inclui nuances significativas. Enquanto 42% da população concorda com a declaração de que pessoas religiosas devem ser tolerantes, 49% dos entrevistados disseram que ele deveriam “absolutamente” ou “quase” não apoiar um partido político que aceitasse pessoas de outra religião. Mas 20% daqueles entrevistados disseram que tinham uma visão “muito positiva” ou “positiva” dos cristãos (13% “muito positiva” e 7% positiva).
Çarkoglu disse que os resultados do estudo podem ser atribuidos ao sistema educacional turco, que ordena o estudo religioso para ginásio e colegial, séries nas quais cristãos e judeus “são sequer mencionados” ou são retratados como os “outros”, explica.
“Isso causa nos alunos um ponto de vista severo de intolerância”, acrescentou Çarkoglu.
Ameaça dupla
O Rev. Dositheos Anagnostopoulos, falando em nome do Patriarcado Ecumenico em Istambul, disse que os cristãos Ortodoxos Gregos são tratados como cidadãos de segunda classe na Turquia. Ele disse que membros de sua igreja sentem-se “pressionados”, mas que as coisas aconteceram de forma lenta nos últimos anos. No começo deste ano, dois cemitérios gregos ortodoxos em Istambul e um em Esmirna foram destruídos.
“Ainda existe vandalismo, mas não tem havido nenhum problema com ameaças físicas ultimamente”, ele disse.
Na Turquia, os cristãos enfrentam dupla ameaça de um estado auto-declarado “secular” e de membros do público que, de acordo com o estudo, tem se tornado mais submisso à fé islâmica. Cristãos são geralmente vistos como inimigos do estado, inimigos do Islã ou traidores da cultura turca.
Um relatório de 2009 sobre liberdade religiosa interncacional feito pelo Departamente de Estado norte-americano disse que na Turquia, “nenhuma lei proíbe explicitamente o discurso ou conversões religiosas; no entanto, muitos promotores públicos e a polícia observam o discurso e ativismo religiosos com desconfiança. Cristãos engajados em advocacia religiosa são ameaçados e pressionados pelo governo e autoridades estatais. Ameaças contra os não-muçulmanos criam uma atmosfera de pressão e de liberdade reduzida para algumas das comunidades não-islâmicas.”
Algumas vezes na história do país, o governo “manipulou a opinião pública” passando a mensagem de que os cristãos turcos têm ligação com poderes de fora do país que querem dividir a nação, disse Zekai Tanyar, turco cristão por mais de 30 anos. Ele é o presidente da Associação das Igrejas Protestantes na Turquia.
Em janeiro de 2007, Hrant Dink, editor-chefe do jornal semanal armênio Agos, foi morto em Istambul. Dink era membro da comunidade cristã armênia na Turquia. Três meses depois, dois cristãos turcos e um cristão alemão foram mortos em Malatya. Os acusados dos quatro assassinatos alegaram ligações com os nacionalistas turcos. Dois outros cristãos, convertidos do islamismo enfrentam julgamento e são acusados, entre outras coisas, de “insultar a cultura turca” e provocar ódio contra o Islã.
De acordo com o relatório do Departamento de Estado norte-americano, por lei os cultos religiosos na Turquia só podem acontecer em locais aprovados pelo governo. Enquanto os sunitas recebem apoio do governo para construir suas mesquitas, os grupos não muçulmanos relatam dificuldades para abrir, manter e operar locais de adoração.
Tanyar, da Associação Protestante disse que a situação da perseguição anticristã na Turquia melhorou em alguns pontos, mas piorou em outros. “As pessoas se acostumaram com a ideia que nós existimos e certas leis mudaram para nos beneficiar”, disse ele. “Por outro lado, atos de desinformação e violência aumentaram”.
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