Portas Abertas • 11 fev 2004
É oficial: as igrejas domésticas estão se multiplicando em Pequim e o governo chinês pouco pode fazer para detê-las.
No ano passado, a Agência de Assuntos Religiosos (AAR) controlada pelos comunistas, realizou uma pesquisa sobre os cristãos em Pequim. De acordo com o líder de uma igreja doméstica de lá, vários líderes do Movimento Patriótico das Três Autonomias (MPTA), a igreja oficial, controlada pelo Estado, ajudaram a realizar a pesquisa. As autoridades da AAR pediram-lhes que sondassem seus contatos nas igrejas domésticas para reunir informações.
A pesquisa concluiu que há pelo menos 3.000 igrejas domésticas não registradas na cidade. A maioria é composta de pequenas associações com uma média de 20 membros. Há também grupos maiores de 60 a 70 membros, junto com alguns grupos de mais de 100 membros nos subúrbios e vilarejos ao redor de Pequim.
Pode haver uns 90.000 cristãos de igrejas domésticas não registradas em Pequim, de acordo com a pesquisa. Acrescente-se a esse número os 30.000 crentes protestantes que freqüentam as oito grandes igrejas oficiais registradas (do MPTA) e vários pontos de reunião registrados em Pequim, e o número de cristãos protestantes no município de Pequim totaliza 120.000.
Isso indica que os cristãos protestantes constituem 0,87% da população de Pequim, de 13,2 milhões de habitantes, uma proporção semelhante ao de outras grandes cidades chinesas.
As estatísticas também mostram que o forte do evangelismo na China hoje é o alcance urbano de milhões de habitantes das cidades e migrantes vindos da zona rural em busca de trabalho.
No verão de 2002, a AAR impôs novas e duras normas para o controle da religião em Pequim. O projeto foi recusado duas vezes pelo Congresso do Povo de Pequim antes de ser aprovado.
As novas normas pedem pesadas multas de mais de 50.000 RMB (6.250 dólares) aos cristãos que dirijam igrejas domésticas ilegais, escolas de treinamento ou publiquem literatura religiosa não censurada.
Entretanto, de acordo com uma importante fonte da igreja doméstica, a proliferação de igrejas domésticas tornou as novas normas virtualmente inaplicáveis. Muitos estudantes, diplomados e empresários organizaram suas próprias associações, que são financeiramente independentes e totalmente auto-sustentáveis.
Enquanto isso, os cristãos de Pequim continuam cautelosos. A pesquisa do governo fez várias perguntas detalhadas sobre as atividades da igreja doméstica e de contatos com estrangeiros.
A sondagem cobriu também detalhes sobre os membros. Por exemplo, descobriu-se que a proporção de homens em relação às mulheres na maioria das igrejas domésticas foi de três homens para cada sete mulheres.
O líder de uma igreja doméstica entrevistado por Portas Abertas disse que as autoridades ainda estão nervosas a respeito dos grupos de mais de 100 cristãos e sempre dão batidas sobre essas associações. Por causa disso, a maioria das igrejas domésticas se divide em grupos menores quando o número chega a 70.
O governo e a igreja oficial estão bem conscientes do crescimento e têm agido. Em 2001, o Sr. Hua Qian, porta-voz da AAR, disse que seriam construídas mais duas igrejas oficiais nos distritos de Chaoyang e Fengtai, na cidade.
Uma reportagem do China Daily de 21 de junho de 2001, citou Hua: O rápido crescimento dos protestantes tornou as igrejas muito abarrotadas. Alguns observadores acreditam que a construção de duas novas igrejas oficiais foi uma ação visando a estimular os cristãos das igrejas domésticas a freqüentarem os cultos oficiais.
Uma reportagem do China Daily de fevereiro, predisse que as igrejas de 4.800 metros quadrados seriam concluídas em fins de dezembro de 2004. Observadores da China acreditam que a construção pode estar ligada ao desejo do governo de atrair a simpatia internacional na corrida aos Jogos Olímpicos de Pequim em 2008.
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