Portas Abertas • 3 set 2019
Apesar de estar livre, Asia Bibi pensa naqueles que enfrentam a mesma provação pela qual passou
Asia Bibi, a cristã paquistanesa que passou anos no corredor da morte, desfruta de liberdade vivendo em um lugar mantido sob sigilo no Canadá. Apesar de estar livre, ela pensa naqueles que enfrentam a mesma provação pela qual passou. Após quatro meses que a cristã, de 54 anos, finalmente saiu do Paquistão, ela é grata por todo esforço internacional para libertá-la e diz que o mundo deveria saber que as duras leis de blasfêmia ainda mantêm muitos atrás das grades no Paquistão.
Em sua primeira entrevista a um jornal, ela revelou ao jornal britânico The Sunday Telegraph que teve momentos em que caiu em desespero. “Algumas vezes eu estava tão desapontada e perdendo a esperança que pensava se sairia da prisão ou não, o que aconteceria, se permaneceria na prisão o resto da vida”, confessa.
Ela também falou sobre a dor de precisar deixar sua terra natal diante do medo de que pudesse ser assassinada por extremistas religiosos, mesmo após o Supremo Tribunal ter anulado sua condenação. Asia diz: “Meu coração ficou partido por ter que sair daquele modo, sem poder ver meus familiares. O Paquistão é o meu país, minha terra natal. Eu amo meu país, minha terra”. Agora, vivendo no Canadá, ela espera se mudar para algum país da Europa nos próximos meses.
Asia Bibi fala em favor dos presos por blasfêmia
Na entrevista feita através de perguntas enviadas via aplicativo e respondidas em áudio, Asia Bibi disse que sua condenação indevida, por ser acusada de insultar o profeta Maomé em uma discussão com duas colegas de trabalho muçulmanas, devastou sua vida. “Eu sofri, meus filhos sofreram e isso tem um grande impacto na minha vida. Quando minhas filhas iam me visitar, nunca chorava na frente delas, mas quando elas saíam eu chorava sozinha, com muita dor, pois eu pensava nelas o tempo todo, em como elas estavam vivendo”, diz.
Ela agradeceu ao Supremo Tribunal por absolvê-la, mas disse que outros também precisam de um julgamento justo. Ela afirmou que “há muitos outros casos em que os acusados estão na prisão há anos e a decisão deles deve ser feita por mérito. O mundo deveria ouvi-los. Eu peço que o mundo todo preste atenção a essa questão. O modo como qualquer pessoa é acusada de blasfêmia sem provas apropriadas deve ser notado. Essa lei de blasfêmia deveria ser revista e deveriam haver mecanismos de investigação na aplicação dessa lei. Não deveríamos considerar qualquer um culpado desse ato sem uma prova”.
Em 2009, seus acusadores alegaram que ela insultou o profeta Maomé em uma discussão, porque as mulheres não poderiam beber do mesmo copo que ela tinha tocado. Em 2010, Asia Bibi foi condenada à morte. Ela negou que tenha cometido blasfêmia e disse que foi levada a confessar sob a pressão de uma multidão que bateu nela até quase ficar inconsciente. Para saber mais detalhes, leia a história na íntegra aqui.
Como foi o tempo sob custódia
Sua liberdade foi finalmente assegurada com a mediação do enviado especial de liberdade religiosa da União Europeia, Jan Figel, um político da Eslováquia. Ele falou pela primeira vez sobre as negociações para assegurar a libertação de Asia Bibi enquanto ela estava sob custódia protetiva, por seis meses, mesmo após ter sido libertada da prisão. Figel disse: “Eu acho que o governo de Imran Khan e o exército do Paquistão usaram esse tempo para controlar a situação no país”. Ele teve discussões em Bruxelas sobre como libertar a cristã com o procurador-geral do Paquistão, Anwar Khan, e com o ministro de Direitos Humanos, Shireen Mazari.
Primeiramente, Asia e o marido, Ashiq Masih, ficaram em casas seguras do governo em uma região montanhosa fora da capital Islamabad e depois foram realocados para a cidade portuária de Karachi. Eles não podiam sair de casa e só tinham uma TV e um smartphone. A tensão fez com que Asia Bibi entrasse em depressão e tivesse que receber tratamento por problemas cardíacos. Durante todo o tempo ela estava em contato diário com Muhammad Amanullah, um ativista de direitos humanos que previamente tinha ajudado outras cinco pessoas acusadas de blasfêmia. Ele atuou como interlocutor direto de Asia com a União Europeia.
Amanullah disse: “O governo do Paquistão disse que seria por 10 a 15 dias e assim passamos sete meses. Um dia, ela perdeu a esperança e me disse: ‘se eu for assassinada ou se algo acontecer comigo, por favor, não esqueça das minhas filhas’”. Amanullah também deixou o Paquistão após ser considerado apóstata por causa de seu trabalho com os acusados de blasfêmia. A França e a Bélgica também eram opções de asilo para Asia Bibi, mas conforme o tempo passou, as filhas dela conseguiram refúgio temporário no Canadá e Asia foi depois delas, deixando o Paquistão em maio de 2019.
Figel disse que Asia Bibi era “uma mulher admirável e corajosa e mãe amorosa” que se recusou a desistir da fé cristã em troca de liberdade imediata. “A história dela e a decisão altamente profissional do Supremo Tribunal podem servir como uma base para reformas no Paquistão, cujo sistema desatualizado de legislação sobre blasfêmia é facilmente usado erroneamente contra vizinhos e pessoas inocentes”, concluiu.
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