Portas Abertas • 14 jul 2015
Foi um julho mortal na Nigéria. Mais de 200 pessoas foram mortas desde 30 de junho, elas eram das regiões norte e nordeste do país, dominadas pelo Boko Haram. Ocultada por manchetes do grupo, a violência também se desencadeou mais ao sul. Militantes entre os Hausa-Fulani, grupo étcnico, uma população predominantemente muçulmana e nômade de criadores de gado, são suspeitos de matar dezenas de cristãos nos estados de Plateau e Taraba nos últimos meses. Os dois estados fazem parte do chamado ""Middle Belt"" da Nigéria (o ""cinturão do meio""), onde o sul, em grande parte cristão, encontra o norte, de maioria muçulmana.
A violência mais recente no Cinturão do Meio foi em março, um caso de roubo de gado. De acordo com Kunle Ajanakufsi, diretor de serviços de segurança do Estado de Plateau, cerca de 500 cabeças de gado pertencentes aos pastores Fulani desapareceram, e a suspeita caiu sobre uma parte do Beron - outro grupo étcnico local, uma população indígena cristã. Samuel Yakubu da Associação Cristã da Nigéria disse que a tensão agravou em abril, quando os Fulanis levaram 60 vacas pertecentes aos Berons. Quinze foram devolvidas, ele disse, mas vários Berons ficaram insatisfeitos. Pouco tempo depois, o Fulani invadiu partes de várias aldeias Beron, matando pelo menos 30 pessoas, incluindo um pastor.
O roubo de gado e disputas por terras criaram um pretexto para a violência em todo o Cinturão do Meio. Pressionado pelo avanço do Saara, o Fulani, espalhado pela África Ocidental e considerado o maior grupo étnico nômade no mundo, dominou terras pertencentes a agricultores cristãos, causando confrontos inevitáveis. Bem antes do domínio colonial britânico, os sultões muçulmanos das províncias do norte do país chegaram à Nigéria para espalhar a influência do islã em todo o Cinturão do Meio. Mas, foi a ascensão da campanha abertamente anti-cristã do Boko Haram, em 2009, que reacendeu motivações religiosas entre os Fulani.
Yonas, pesquisador da Portas Abertas, concluiu que o padrão de violência Fulani na região - a utilização de armas de nível militar para expulsar os cristãos para fora da terra e ocupá-la; a destruição de casas e igrejas cristãs; e o apelo para a imposição da lei islâmica, entre outras características – faz crescer a limpeza étnica do Cinturão Médio, motivada pela mesma ambição que impulsiona o Boko Haram: que o mundo todo se torne islâmico.
Para apoiar sua conclusão, o pesquisador afirma que existem evidências de um relatório encomendado pela Portas Abertas indicando que os cristãos são boa parte das vítimas - milhares de mortos; dezenas de milhares de deslocados; centenas de casas e igrejas arrasadas. Yonas afirma que ""a natureza do conflito parece seguir o padrão histórico, onde a oligarquia Hausa-Fulani muçulmana tem usado a herança colonial e os políticos e religiosos sentimentos a fim de conquistar e dominar a região do Cinturão do Meio"".
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