Portas Abertas • 30 ago 2019
Ayoub, de cinco anos, filho de viúva cristã, brinca no celular
Toda a atenção de Ayoub*, de 5 anos, vai para a tela do celular que está segurando. Sofia*, mãe do menino, explica como é criar filhos em um país de maioria muçulmana. Esse é um desafio da viúva de 39 anos, que se converteu do islamismo para Jesus. Ela sabe que as crianças ficarão confusas por aprenderem o evangelho em casa e na igreja doméstica e estudarem o Alcorão na escola.
A pequena Sylvia, de 3 anos, está cansada. Ela deita no sofá com as pernas sobre o colo da mãe. O bebê Marc está no quarto, em seu sono da manhã. Sofia é muito vulnerável por ser cristã e viúva no Norte da África. “Entre os desafios em meu país estão que as crianças são ensinadas sobre o Alcorão no jardim de infância, com cerca de 4 anos. Elas ficam confusas porque frequentam a igreja doméstica, mas ao mesmo tempo, aprendem o Alcorão. Muitas mulheres vêm até mim na igreja para perguntar o que faço quanto a isso. Eu digo a elas que não faço nada. Eu deixo que aprendam o Alcorão, mas os faço participar dos encontros e atividades da igreja. Acho que a melhor coisa a ser feita é criá-los para que tenham uma certa autonomia. Isso vai permitir que façam suas próprias escolhas quando crescerem”, explica.
Sofia não está preocupada que as aulas sobre o Alcorão os leve ao islamismo. “Eu acredito que eles lerem o Alcorão não significa necessariamente que acreditarão nisso. Quando alguém me pergunta como me tornei cristã, digo que li o Alcorão. Ler o Alcorão não significa que continue sendo muçulmano”, conta. Ela sabe que as crianças não são obrigadas a estudar o Alcorão na escola em países do Norte da África. Os pais podem escolher se os filhos participarão ou não das aulas islâmicas. “Mas isso também pode ser um problema, já que a criança pode ser perseguida por outras crianças ou pelos professores. Crianças pequenas acham difícil entender porque são incomodados por sua fé pelos professores. Como pai, você deve ser muito cuidadoso”, compartilha.
Para Sofia, investir em educação significa que os filhos participem da igreja e de suas atividades. “As crianças cantam e adoram. Meu filho mais velho canta as músicas mesmo entre as crianças da escola. Uma das professoras gostou das músicas, aquelas que não falam sobre Jesus, e quer ensiná-la para as outras crianças”, conta. Ela vê que o filho mais velho ora sozinho. “É Ayoub quem ora quando vamos fazer uma refeição. Ele aprendeu a orar. Mas, às vezes, me pergunta por que a avó ora diferente. Quando recebemos amigos muçulmanos, Ayoub começa a orar e eles ficam maravilhados. Se impressionam com o que ele está fazendo”, diz.
Criação cristã
Há escolas cristãs em diversos países no Norte da África, mas é possível encontrá-las apenas nas cidades maiores. Isso significa que essa opção não está disponível para os filhos de Sofia. “Não temos a oportunidade de levar nossos filhos para escolas cristãs. Para a educação cristã dependemos principalmente das igrejas domésticas e do que fazemos em casa. Nós tentamos encorajar as crianças a construírem suas próprias personalidades, para terem ideias próprias por meio da leitura de livros e pelas coisas que fazemos juntos”, explica.
Sofia diz não estar preocupada com isso. Ela está muito orgulhosa dos filhos serem cristãos. Acho que essa é uma grande vantagem para eles, tornando-os únicos. “Meu único problema é quando atacam meu falecido marido na frente deles. Eles não entendem porque dizem coisas como: ‘Ele não era uma boa pessoa’ ou ‘Ele deixou o islamismo’. Isso é muito difícil”, conclui.
*Nomes alterados por segurança.
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