Há 42 anos, 1 milhão de Bíblias chegaram na China

Descubra como aconteceu o Projeto Pérola, apesar de o governo comunista proibir a posse da escritura sagrada na China

Portas Abertas • 16 jun 2021


O Projeto Pérola, que completou 42 anos, contrabandeou um milhão de Bíblias para a China

O Projeto Pérola, que completou 42 anos, contrabandeou um milhão de Bíblias para a China

[Artigo atualizado em 21 de novembro de 2023 às 15h30]

Em plena Revolução Cultural na China, o Irmão André e outros parceiros da Portas Abertas ouviram inúmeros relatos e estatísticas sobre os cristãos que resistiam à forte perseguição do governo. Então, em viagem ao país foram surpreendidos: “Em vez de um grupo pequeno, desanimado e derrotado de cristãos, encontramos uma imensa rede de milhões de cristãos - fortes, fundamentados em princípios, ousados, corajosos e, sim, perseguidos”, conta o fundador da Portas Abertas no livro “O Contrabandista de Deus desafiando os limites da fé”.


Uma delas era conhecida como Mãe Kwang, uma evangelista que já tinha passado três vezes pela cadeia, mas continuava a percorrer o sul do país pregando, ensinando e organizando igrejas domésticas. A princípio, ela pediu 30 mil Bíblias para entregar aos cristãos que conhecia. Mas havia muitos outros pelo país, por isso a cristã ousou sonhar mais alto e pediu um milhão de Bíblias. 


O que foi o Projeto Pérola?

O Projeto Perola foi uma ação da Portas Abertas que aconteceu em 18 de junho de 1981. Nesse dia, um milhão de Bíblias foram entregues em Shantou para os cristãos locais, sob a promessa que fariam a palavra de Deus chegar a todos os cantos do país.


A operação levou esse nome porque as Escrituras são como “uma pérola de grande valor” à qual se referiu Jesus na parábola em Mateus 13.45-46. E como o mercador, os cristãos chineses estavam dispostos a arriscar tudo pela “pérola” que é a palavra de Deus.


Os exemplares foram contrabandeados por meio de uma embarcação chamada Gabriella e chegavam à região pelos barcos de pesca. Naquela noite de 1981, um barco rebocador de 30 metros puxou uma barcaça carregada com 232 pacotes à prova d’água, cada um com uma tonelada — eram ao todo um milhão de Bíblias em chinês, uma carga de 232 toneladas. Os pacotes flutuantes que continham as Escrituras foram rebocados para a praia por pequenos barcos de borracha. A operação, idealizada pelo Irmão André, mudou a vida de muitos cristãos na China.


A embarcação chamada Gabriella foi a responsável por levar as Bíblias até a praia na China

Quem foram os cristãos envolvidos no Projeto Pérola?

Apesar da ação do contrabando de Bíblias ter envolvido muitos trabalhadores das bases da Portas Abertas, apenas 20 pessoas fizeram parte da tripulação. Eram cristãos dos seguintes países: Filipinas, Austrália, Nova Zelândia, Holanda, Inglaterra, Canadá e Estados Unidos. Um deles foi Terry Madison, que diz: “Antes da viagem, meu trabalho era escrever todo o material para arrecadar os milhões de dólares que precisávamos para a missão – sem poder dizer o que estávamos fazendo! Isso foi um desafio. Como você pode levantar milhões de dólares e esperar que as pessoas enviem presentes sem dizer a elas o que você vai fazer? Mas nossos apoiadores contribuíram e ainda enviaram presentes para que isso acontecesse”. Segundo o cristão, participar dessa grande aventura foi um privilégio e era um segredo que precisava ser guardado, por causa das questões de segurança.


Terry é o que está ajoelhado na frente, de barba, junto com outros cristãos que participaram da ação

“À medida que nos aproximamos cada vez mais, percebemos que isso era realmente sério, poderíamos morrer ou ser presos ou perdidos no mar. Tenho certeza que todos nós tínhamos nossos medos e dúvidas sobre o que aconteceria quando chegássemos lá. Mas nenhum estava em dúvida sobre o fato de que deveríamos estar lá”, revela. Todos queriam fazer parte daquele plano de Deus e contribuir para que as Bíblias chegassem ao destino.

Um chamado inesperado

Terry virou o cozinheiro da tripulação, mas esse nem sempre foi o plano dele. Um dia antes da viagem começar, pediram para que ele fosse com o cozinheiro comprar mantimentos. Todos a bordo recebiam um telefonema semanal dos familiares e, naquela semana, o cozinheiro ligou para a esposa e ela disse que ele tinha que voltar para casa.


“Eu tive a incrível sensação de que o Senhor estava me dizendo que eu deveria me voluntariar para esta posição. Odeio cozinhar, não cozinho, não sei cozinhar! E então eu tinha essa batalha em meu coração. Descarregamos as compras, e o cozinheiro disse ao capitão que tinha que ir para casa no dia seguinte, e eu tive minha pequena luta com o Senhor”, compartilha Terry.


O capitão da embarcação Gabriella e um dos 20 tripulantes

Diante do capitão, Terry disse: “Vim me voluntariar. Eu entendo que você vai precisar de um cozinheiro. Tenho boas e más notícias. A boa notícia é que sou voluntário. A má notícia é que não faço ideia do que fazer”. A esposa do cristão estava a bordo por algumas horas e o ajudou no novo papel de cozinheiro. Ela disse: “Vou escrever menus para três refeições por dia durante uma semana”. E assim, ela tirou um grande bloco de notas amarelo e escreveu 21 receitas para um menu.

Como aconteceu a entrega das Bíblias no dia 18 de junho de 1981?

Naquela noite, a escuridão era completa e o mar estava calmo, ideal para o desembarque dos 232 fardos de Bíblias. Eles foram jogados ao mar e três barcos menores puxaram rumo à praia.


“Minha lembrança favorita da viagem foi a noite da entrega. Os cristãos chineses nadavam até a água chegar na altura do peito, e eu desamarrava a corda que estava presa ao nosso pequeno barco, e entregava as cordas que puxavam os pacotes para eles. Adoraríamos estar na praia para realmente abraçá-los ou falar com eles, mas o toque pessoal e ser capaz de vê-los face a face e ver a emoção que eles tinham por esse enorme volume de Bíblias que estava chegando era simplesmente um prazer”, compartilha Terry.


Terry se sente abençoado por Deus por ter feito parte da “infusão da palavra de Deus na China”. “O Projeto Pérola me ensinou sobre a profunda paixão que os cristãos perseguidos têm pela palavra de Deus, e a fidelidade de Deus para levá-la às pessoas por qualquer meio possível. E o fato de ele ter nos usado foi seu dom para ver sua fidelidade de tantas maneiras”.


O cristão lembra das dezenas de riscos que correram caso fossem descobertos ou traídos, ou tivessem acidentes. “O Senhor estava supervisionando os bastidores e apesar de alguns dos momentos realmente difíceis que tivemos em certos pontos, o Senhor estava lá para tudo”, diz o cristão.


Fazer parte do Projeto Pérola transformou a vida de Terry e dos demais tripulantes da ação

Na ocasião, todos perceberam o quanto Deus é fiel, principalmente quando isso se refere à distribuição de Bíblias. Nessas horas não há algo difícil ou impossível. “Deus tinha esse coração para a China, e ele estava determinado a colocar essas Bíblias nas mãos de mais de um milhão de pessoas. E ele nos permitiu fazer isso. Nós aparecemos e contribuímos com nossas pequenas partes, mas Deus fez isso acontecer”, reconhece Terry.


“Para nós, pessoalmente, foi algo que edificou muito nossa fé. Pensamos: ‘Se conseguirmos fazer isso, qualquer outra coisa será pouco!’. Eu experimentei um nível mais alto de fidelidade e confiança do que eu tinha antes. Ter feito parte desse projeto é mudar para sempre a maneira como você pensa sobre a provisão de Deus e o poder de trabalho milagroso e como ele cuida dos detalhes quando você nem sabia que eles eram uma necessidade”, finaliza Terry.


Leve Bíblias para cristãos chineses

A realização do Projeto Pérola só foi possível porque cristãos em muitos países se mobilizaram para levar a palavra de Deus aos cristãos chineses. Você também pode fazer parte dessa aventura e nos ajudar nesse contrabando em prol do Reino. Com sua doação, você se torna um parceiro da Portas Abertas, passa a receber em sua casa os exemplares da Revista Portas Abertas e abençoa irmãos e irmãs em todo o mundo. 


Sobre nós

A Portas Abertas é uma organização cristã internacional e interdenominacional, fundada pelo Irmão André, em 1955. Hoje, atua em mais de 60 países apoiando cristãos perseguidos por causa da fé em Jesus.

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