O que está por trás da ideologia hindutva?

Entenda como surgiu e por que é tão popular o conceito usado por nacionalistas hindus de que a “Índia é apenas para hindus”

Portas Abertas • 05 set 2024


Em 1923, Savarkar fundou a ideologia conhecida como hindutva, que igualou ser indiano a ser hindu

Em 1923, Savarkar fundou a ideologia conhecida como hindutva, que igualou ser indiano a ser hindu

Durante o período colonial, havia duas correntes opostas no movimento de independência indiano. Mahatma Gandhi e seu companheiro Jawaharlal Nehru, primeiro primeiro-ministro da Índia, defendiam um estado laico no qual todas as religiões teriam direitos iguais e instituições democráticas protegeriam minorias religiosas. Em contraste, políticos como Vinayak Damodar Savarkar exigiam que a Índia fosse uma nação hindu. Ele alegava que somente assim o país alcançaria estabilidade nacional, unidade e grandeza.  


Então, em 1923, Savarkar fundou a ideologia conhecida como h
indutva, que igualou ser indiano a ser hindu. As ideias dele foram desenvolvidas por outras ideologias hindus em anos seguintes e contribuíram para a fundação da organização extremista RSS, além de atualmente formar as bases do nacionalismo hindu. 


O que é a RSS?
 


A Rashtriya Swayamsevak Sangh (RSS, da sigla em hindi) ou Organização Nacional de Voluntários (tradução livre), foi fundada em 1925 visando criar uma nação hindu. Savarkar, Golwalkar e outros ideólogos que a formaram foram parcialmente inspirados pelo fascismo italiano e socialismo nacional alemão.
 


A RSS é organizada em subgrupos militares cujos membros são treinados física e ideologicamente. Ela representa a estrutura ideológica do nacionalismo hindu e a partir dela muitas outras associações nacionalistas hindus foram formadas, incluindo o Bharatiya Janata Party, o Partido do Povo Indiano (BJP, da sigla em hindi). Enquanto o BJP legitima politicamente o nacionalismo hindu desde 2014, a RSS e outras ramificações militantes “fazem o trabalho nas ruas”, organizando ataques contra minorias religiosas, incitando aglomerações e mobilizando apoio para a campanha do BJP. 
 


O que é o BJP?
 


Políticos do BJP e outros nacionalistas hindus espalham, de forma deliberada, falsas informações sobre cristãos e muçulmanos  


O Bharatiya Janata Party (BJP, da sigla em hindi), o Partido do Povo Indiano, é um partido nacionalista hindu que surgiu a partir da RSS. Desde a vitória nas eleições parlamentares em 2014, dá legitimidade política para a perseguição às minorias cristãs e muçulmanas na Índia. Leis anticonversão foram introduzidas e instituições públicas ocupadas por nacionalistas hindus, resultando em uma crescente ineficiência das autoridades na punição de ataques contra cristãos e muçulmanos. 
 


Ademais, políticos do BJP e outros nacionalistas hindus espalham, de forma deliberada, falsas informações, como que cristãos e muçulmanos convertem os hindus à força e matam vacas. Entre outras medidas, eles usam as mídias sociais para manipular a opinião pública e incitar o medo e o ódio nas pessoas.
 


Quem são os hindus?
 


Savarkar justifica o apelo por uma nação hindu com base no que foi idealizado no passado. Ele considera que todo hindu tem três coisas em comum, consideradas base para uma nação bem-sucedida: a mesma filiação geográfica e descendência da primeira civilização hindu, a mesma cultura e o mesmo solo sagrado. O político resume, portanto, que um hindu deve considerar a Índia não somente uma terra natal, mas também um solo sagrado. 
 


Savarkar também contabiliza como hindus seguidores de outras religiões originárias da Índia, como jainismo e siquismo. Porém, a situação é diferente com minorias cristãs e muçulmanas no país. Ele vê os grupos como uma ameaça à estabilidade nacional, afinal, embora tenham nascido na Índia, a lealdade deles está em outra terra sagrada, ou seja, no exterior.
 


Sem direitos civis para não hindus
 


As únicas opções para indianos cristãos e muçulmanos: se tornarem hindus ou perderem direitos civis, passando a viver como subjugados e sem lei 


A classificação de não hindus como “ameaça nacional” se intensificou com os seguidores da ideologia de Savarkar. Um exemplo disso foi um panfleto publicado em 1939, de autoria de M. S. Golwalkar, um membro e posterior líder da RSS, que observa: “A Alemanha mostrou como é impossível para raças e culturas tão diferentes estarem juntas. Essa é uma boa lição que nós, no Hindustão, podemos aprender”. Consequentemente, o autor apresenta as únicas opções para indianos cristãos e muçulmanos: se tornarem hindus ou perderem direitos civis, passando a viver como subjugados e sem lei.
 


Ascensão do nacionalismo hindu
 


Após sua independência em 1947, a Índia se tornou um Estado secular e democrático, prevalecendo a estratégia inicial de Gandhi e Nehru. Porém, além do nacionalismo hindu apresentar crescimento na década de 1990, desde 2014, a Índia é governada pelo BJP, que é nacionalista hindu e surgiu da RSS. Com isso, a situação dos cristãos se deteriorou drasticamente. “A ideologia
hindutva se espalhou por toda a Índia e, com ela, o ódio entre as pessoas”, explica Rajesh Singh*, um cristão indiano e parceiro local da Portas Abertas. 


Por que a
hindutva é tão popular? 


Cristãos e muçulmanos são cada vez mais vistos como “estrangeiros”, “perigosos” e “inferiores”, que podem e devem ser atacados violentamente 


Savarkar, Golwalkar e outros ideólogos elaboraram uma narrativa que propaga essencialmente a superioridade hindu, com a criação da mitologia de uma antiga civilização hindu gloriosa. Nessa, tal civilização sempre esteve integrada à Índia, vivendo de maneira feliz e harmoniosa, realizando feitos que abalaram o mundo. Na teoria, isso a transformou na mais nobre civilização e cultura até que governantes estrangeiros, como muçulmanos, imperadores mongóis e imperadores britânicos, destruíram essa utopia. 
 


O objetivo dos nacionalistas hindus é se alicerçar nesse passado supostamente glorioso e restabelecer uma nação hindu pura. Assim, a Índia teria a oportunidade de superar os demais Estados e assumir uma posição dominante no mundo. Essa narrativa repercute na população, permitindo que políticos e radicais transformem o descontentamento do povo em ódio contra minorias religiosas, que são retratadas como bodes expiatórios. Isso também alimenta o medo das pessoas: muitos acreditam que estrangeiros vão à Índia oferecer dinheiro e seduzir hindus a ser converterem ao cristianismo, como explica o pastor indiano Kuldeep*: “Eles pensam que essa é uma tática do Ocidente para dominar o mundo”. 
 


Cristãos e muçulmanos são cada vez mais vistos como “estrangeiros”, “perigosos” e “inferiores”, que podem e devem ser atacados violentamente. Dessa forma, é fácil mobilizar jovens de castas superiores afetados pelo desemprego, que buscam uma saída para sua insatisfação e raiva. Então, quando realizam ataques violentos contra cristãos e muçulmanos são vistos como “defensores heroicos” do hinduísmo e da nação. Com isso, atraem a atenção de grupos
hindutva e podem até mesmo se qualificar para uma carreira na RSS ou na política. 


Rompendo as mentiras
 


A Bíblia diz em João 8.44 que Satanás é o “pai da mentira”. No final das contas, ele está por trás da ideologia
hindutva, que enche as pessoas de mentira e ódio contra os cristãos e as impede de aceitar a Jesus como salvador. É importante nos posicionarmos contra isso em oração. Durante o Shockwave, de 20 a 22 de setembro, vamos orar para que as pessoas na Índia percebam essa realidade e reconheçam a verdade sobre Jesus. Inscreva-se e faça parte da onda de oração pela Índia.


 

Sobre nós

A Portas Abertas é uma organização cristã internacional e interdenominacional, fundada pelo Irmão André, em 1955. Hoje, atua em mais de 60 países apoiando cristãos perseguidos por causa da fé em Jesus.

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