Portas Abertas • 13 dez 2023
Projetos ponte visam permitir um ambiente saudável em que cristãos se relacionem com pessoas de outras comunidades de fé
Os projetos ponte comandados por parceiros locais da Portas Abertas são estabelecidos para prover assistência a crianças e famílias perseguidas. Eles são criados para permitir um ambiente saudável em que cristãos consigam se relacionar com pessoas de outras comunidades de fé, principalmente muçulmanos.
Os projetos ocorrem de diversas formas e são decididos após conversas com comunidades cristãs perseguidas. Como o nome sugere, esses projetos têm o objetivo de construir uma ponte entre cristãos e outras comunidades de fé, ajudando a igreja a responder em amor e se tornar resiliente frente à perseguição. A ideia é que toda a comunidade, incluindo cristãos, muçulmanos e seguidores de outras religiões se beneficiem dos projetos ponte, que são como um campo neutro, próprio para a reconciliação.
Um tipo de projeto são as escolas ponte. Elas são uma forma de parceiros locais da Portas Abertas apoiarem filhos de cristãos perseguidos que, de outra forma, não teriam acesso a educação ou seriam hostilizados na própria escola. Elas existem em países como Índia e Etiópia. Na Etiópia, também existem projetos ponte de poços de água, que oferecem água potável para cristãos e muçulmanos de maneira gratuita.
Para muitas crianças cristãs indianas, as escolas ponte são a única possibilidade de educação
A parceira local da Portas Abertas na Índia, Priya Sharma*, explica como essas escolas ajudam a fortalecer a igreja em todo o país ao dar às crianças a possibilidade de um futuro melhor. “O foco é prover educação de qualidade para crianças desprivilegiadas, visando fortalecer os fundamentos colocados pelo sistema educacional. Um dos motivos para esse projeto existir é o fato de crianças serem discriminadas na escola por sua fé cristã. Além da perseguição, a pobreza é outro motivo. A maioria dos pais trabalha recebendo salários diários, não podendo bancar os valores que escolas privadas cobram”.
Um dos serviços oferecidos pelas escolas ponte são aulas complementares para crianças que estudam em escolas do governo ou distrito. Mas para alguns, essas são as únicas aulas disponíveis para frequentarem. “As aulas de apoio não apenas permitem que as crianças se saiam melhor, mas também garantem que permaneçam na escola e não a abandonem por mau desempenho. Os professores das escolas ponte também estão envolvidos com escolas locais, ajudando a monitorar questões como frequência”, explica Priya.
Elas são chamadas escolas ponte porque ajudam a preencher o espaço entre cristãos e pessoas de outras fés. Essas escolas não oferecem aulas apenas para cristãos perseguidos, mas para todas as crianças da comunidade de forma gratuita. Elas proveem um espaço onde a harmonia comunitária é um valor praticado, permitindo que cristãos e crianças de outra fé coexistam, cresçam e se divirtam juntas em um ambiente saudável.
As escolas ponte são uma maneira de aproximar cristãos e muçulmanos da comunidade
“As escolas não oferecem apenas apoio educacional, mas também um desenvolvimento holístico, ensinando sobre higiene, saúde mental e garantindo atividades extracurriculares. Por meio das aulas complementares, as crianças não são beneficiadas apenas academicamente, mas aprendem também habilidades sociais e atividades físicas. Há atividades espirituais, como orações e canções, porém as crianças não são obrigadas ou forçadas a participar”, compartilha Priya.
Sem as escolas ponte, crianças carentes na Índia não receberiam a educação necessária. Além disso, os pais gastariam uma fortuna com aulas de reforço em centros de aprendizados onde as crianças também poderiam ser discriminadas com base na fé.
A Portas Abertas apoia 20 escolas ponte na Índia. A maioria delas tem de dois a três conjuntos de classes, com mais de 600 crianças participando. O objetivo é expandir esse número para 50 ou mais escolas, sendo capaz de servir a mais crianças no futuro.
No início da escola, apenas os pais das crianças cristãs se matricularam
Em comunidades na Etiópia, a preparação para a perseguição não pode ser apenas para adultos. As crianças também sentem a pressão por seguirem a Jesus. Por conta disso, escolas ponte começaram a ser construídas. No primeiro momento, quando a escola foi construída em uma das vilas e oferecida educação para as crianças, os muçulmanos pensaram que essa seria uma maneira de converter os filhos deles. Dessa forma, as únicas pessoas que matricularam os filhos quando a escola abriu foram alguns pais cristãos. No primeiro ano, em 2019, eram 28 alunos registrados. No ano seguinte, havia ainda menos.
O pastor Yohannes* conversou com os pais e com os membros da igreja sobre uma mudança em sua abordagem. “Pensamos em misturar a equipe, contratando professores muçulmanos e ortodoxos para que a comunidade entendesse que esse é um projeto para a comunidade”, explica.
Após professores de diferentes contextos de fé serem contratados, mais crianças se matricularam. “Quando chegamos a 38 crianças, a pressão começou a diminuir e a comunidade já dizia: ‘Eles estão apenas educando crianças, não há nada além disso’. As pessoas que nos odiavam e se recusavam até mesmo a passar pelo complexo da igreja começaram a entrar e olhar ao redor”, conta o pastor.
O pastor Yohannes tinha outro plano para alcançar ainda mais crianças. “Nós tornamos a mensalidade mais barata do que outras escolas. E caso os pais não pudessem pagar, a criança receberia educação de graça. Decidimos fazer isso para trazer mudança para a comunidade”, afirma.
A comunidade muçulmana gostou do fato de ser oferecida educação gratuita para aqueles que não podiam pagar a educação dos filhos. Até mesmo a administração local reconheceu o impacto positivo da escola, cedendo mais espaço para a escola. A escola ajuda a igreja a ser um ganho para a comunidade. Como resultado, os cristãos são tratados com maior tolerância, as crianças recebem uma boa educação e os cristãos estão vivendo o evangelho de maneira prática.
Com a implantação do poço de água, famílias cristãs e muçulmanas têm acesso à água potável de forma gratuita
De 2018 a 2021, um intenso conflito étnico ocupou determinada região na Etiópia. Foi quando parceiros da Portas Abertas visitaram a área e encontraram o pastor Eliso*, que atua como um coordenador geral das igrejas. “Eles viram que não tínhamos água limpa e conversamos sobre a importância de um projeto de água e o impacto na situação da perseguição aos cristãos e na comunidade. Se oferecêssemos água limpa sem cobranças ou pagamentos, a água poderia trazer reconciliação”, explica Eliso.
Em 2022, a Portas Abertas se uniu à igreja e proveu os fundos para cavar um poço de água. Hoje, cerca de mil famílias retiram água no local. A bomba funciona com energia solar e a água é usada para uso doméstico e agrícola. Em apenas um ano, esse poço se tornou um oásis, transformando uma comunidade severa e difícil em algo florescente, aberto às boas-novas. “O projeto ponte trouxe reconciliação de muitas formas. Agora as pessoas se cumprimentam e ouvem umas às outras. Cristãos agora têm posições de liderança no município, afinal, a comunidade diz que cristãos podem ser administradores por prestarem um serviço honesto”, conta o pastor.
Todos podem beber e tirar água para o gado sem pagar qualquer quantia para a igreja. Uma vez que as pessoas recebem água de graça, começam a dizer que a igreja trabalha para a comunidade, servindo a todos. “Eu sempre vi esse projeto como uma escola prática de empatia e cooperação. Muçulmanos dizem: ‘Se essas pessoas que desprezamos, odiamos e quisemos nos livrar, dizendo ter uma fé desgostosa, podem nos dar água limpa de graça, esse é um exemplo para nós’. Nossos vizinhos não cristãos aprenderam a retribuir a bondade que mostramos a eles. Ricos e pobres, muçulmanos e cristãos agora trabalham juntos e essa área é reconhecidamente uma área pacífica.”
*Nomes alterados por segurança.
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