Apesar de a maior parte da população na Etiópia se declarar cristã, na prática, a situação é complexa. Em algumas regiões do país, cristãos podem perder tudo por causa da fé em Cristo, especialmente quando se converteram de alguma outra religião.
Aqueles que deixam o islamismo para seguir a Jesus, especialmente no Leste e no Sul do país, correm o risco de ser hostilizados. Mulheres são vítimas de violência sexual, casamento forçado ou divórcio forçado e separação dos filhos. Em algumas partes da Etiópia, grupos extremistas islâmicos atacam igrejas e se aproveitam da impunidade propiciada pelo aumento da violência na política. Quando se convertem, cristãos são ameaçados de morte e, com frequência, são obrigados a fugir de casa.
A perseguição também atinge os cristãos que saem da Igreja Ortodoxa Etíope para igrejas protestantes ou não tradicionais. Ao ser descoberto que um cristão está frequentando os cultos de uma comunidade cristã diferente, ele é afastado da família. É de conhecimento público que os líderes das principais igrejas etíopes foram escolhidos com interferência do governo. Algumas partes da Etiópia são tribais; espera-se que os cristãos que vivem nesses locais façam parte do conflito tribal. Aqueles que se recusam a lutar enfrentam punições violentas da comunidade.
Ruth (pseudônimo), cristã de 22 anos que passou a frequentar uma igreja cristã na adolescência, a família encontrou a Bíblia dela e a abandonou
A pressão que os cristãos enfrentam na Etiópia permanece alta, principalmente nas esferas da comunidade e igreja. Um exemplo disso são as mais de 20 igrejas atacadas, danificadas e saqueadas no ano passado. A violência política se exacerbou no país por causa da guerra civil que estourou recentemente e ameaça todo o país.
Espera-se que o acordo de paz assinado em novembro de 2022 e as orações dos cristãos etíopes sejam suficientes para acabar com a crise que aflige o país. A perseguição é complexa no contexto da guerra, pois é difícil diferenciar ataques motivados pela perseguição religiosa dos motivados por questões étnicas ou outros fatores.
O termo “tipo de perseguição” é usado para descrever diferentes situações que causam hostilidade contra cristãos. Os tipos de perseguição aos cristãos na Etiópia são: opressão islâmica, protecionismo denominacional, paranoia ditatorial e opressão do clã.
Já as “fontes de perseguição” são os condutores/executores das hostilidades, violentas ou não violentas, contra os cristãos. Geralmente são grupos menores (radicais) dentro do grupo mais amplo de adeptos de uma determinada visão de mundo. As fontes de perseguição aos cristãos na Etiópia são: líderes religiosos não cristãos, cidadãos e quadrilhas, parentes, líderes religiosos cristãos, oficiais do governo, líderes de grupos étnicos.
Em diferentes partes do país, pessoas de origem muçulmana que se tornam cristãs ou pessoas que participavam de igrejas tradicionais históricas e se tornam protestantes são as mais suscetíveis a discriminação e perseguição.
Sequestros e casamentos forçados ainda acontecem nas regiões rurais da Etiópia. As mulheres cristãs são os principais alvos dos perseguidores que querem impedir o avanço do evangelho no país. As adolescentes, especialmente as que se converteram do islã, são ainda mais ameaçadas.
Jovens cristãs de origem muçulmana são isoladas em casa para evitar o contato com influências externas e entregues em casamentos forçados com muçulmanos o quanto antes, tudo para proteger a “honra” da família.
As mulheres cristãs também são vítimas da violência sexual. Além dos efeitos psicológicos, os abusos destroem o futuro dessas mulheres, que passam a ser vistas como uma vergonha para a família e perdem o direito ao casamento tradicional.
Quando uma mulher casada com um muçulmano se converte a Jesus, enfrenta o risco de divórcio e proibição de ver os filhos. Caso o divórcio não seja formalizado no tribunal, ela pode perder o direito à herança e ser deixada na pobreza.
Homens cristãos na Etiópia são alvos frequentes dos perseguidores que querem enfraquecer as igrejas e as famílias. Eles sofrem ataques violentos, são roubados e, por vezes, mortos.
O objetivo é afastá-los da comunidade. Muitos deles são obrigados a fugir para outras cidades. Nas regiões onde os cristãos são minoria, as autoridades violam a liberdade religiosa dos homens e executam prisões por causa da fé em Jesus.
A Portas Abertas fortalece os cristãos na Etiópia por meio das igrejas locais. Nelas são oferecidos treinamentos de liderança e de preparação para a perseguição e projetos de desenvolvimento socioeconômico.
Além de orar por eles, você pode ajudar de forma prática doando para os projetos da Portas Abertas de apoio aos cristãos perseguidos. Doando para esta campanha, sua ajuda vai para locais onde a perseguição é extrema e a necessidade é mais urgente.
Senhor Jesus, clamamos por justiça a todos aqueles que lhe seguem na Etiópia. Intervenha a favor deles para que o direito de ser cristão seja respeitado. Mude o coração dos familiares e vizinhos que os perseguem. Rogamos que todos os cristãos que enfrentam hostilidades percebam a sua presença e cuidado sobre eles e que a alegria permaneça no coração deles. Pedimos que eles sejam amparados com coragem para anunciar o evangelho nos lugares mais perigosos. Ansiamos pela reconciliação e unidade em amor entre as igrejas na Etiópia. Amém.
HISTÓRIA DA ETIÓPIA
Durante muitos séculos, a Etiópia fez parte do Império de Axum, que incluía os atuais Iêmen, Sudão, Eritreia e Etiópia, mas esse chegou ao fim em torno de 940 d.C. Posteriormente, diferentes dinastias governaram o país. Em 1974, o exército depôs o rei — o último rei da dinastia salomônica — e assumiu o controle do Estado.
A junta militar liderada pelo coronel Mengistu Hailemariam seguiu a ideologia socialista. Após a expulsão dos militares pelas forças rebeldes em 1991, o atual partido governante, Frente Democrática Revolucionária do Povo Etíope (EPRDF), chegou ao poder e uma Constituição foi finalmente redigida em 1995. A Guerra Eritreia-Etiópia ocorreu de maio de 1998 a junho de 2000. O novo primeiro-ministro, o doutor Abiy Ahmed, assinou um acordo de paz com a Eritreia em junho de 2018, pondo um fim à guerra formalmente. Ambos os países retiraram parte de suas forças armadas da fronteira.
Antes disso, entretanto, desenvolvimentos na Etiópia haviam mudado rapidamente e em grandes números. Em 2015, o partido no poder afirmou ter ganho 100% dos assentos parlamentares atuais, uma reivindicação que provocou um choque entre os grupos de direitos humanos e aqueles que trabalham pela democracia e pelo Estado de direito.
Embora o país se desenvolva a uma taxa muito boa em termos econômicos, desde novembro de 2015 experimenta uma série de protestos violentos. Grupos de direitos humanos informam que centenas de pessoas foram mortas por forças de segurança, e outras milhares foram presas.
As manifestações começaram de forma pacífica na região de Oromia e se expandiram para a região de Amara, demandando direitos políticos, civis, sociais e econômicos. Em resposta, o governo declarou Lei Marcial em outubro de 2016, o que significa que leis das autoridades civis do país foram substituídas por leis militares.
A liderança de alto escalão, sitiada por mais de dois anos de protestos incansáveis e agitação política, realizou uma reunião a portas fechadas e fez um anúncio, em janeiro de 2018, reconhecendo suas falhas e as queixas públicas resultantes, de que libertaria prisioneiros políticos e fecharia os centros de tortura Maekelawi. Depois de libertar prisioneiros políticos no início de fevereiro de 2018, inclusive importantes figuras da oposição e jornalistas, o primeiro-ministro Hailemariam Desalegn apresentou sua demissão inesperadamente, dizendo que continuaria no cargo até que a coalizão governamental EPRDF elegesse um novo líder e o parlamento do país nomeasse essa pessoa como primeiro-ministro.
Após intensas deliberações nos bastidores, o doutor Abiy Ahmed foi eleito presidente do partido no poder e finalmente se tornou o primeiro-ministro da Etiópia. Desde que ele assumiu, em abril de 2018, tem introduzido grandes reformas, inclusive a libertação de milhares de prisioneiros políticos e a proposta de privatização de algumas empresas estatais. Outras reformas diplomáticas e econômicas também foram introduzidas.
No entanto, durante o período entre a renúncia do ex-primeiro-ministro e a posse do novo, o país declarou um novo estado de emergência e o exército matou civis em uma cidade do Sul, fazendo com que muitos fugissem pela fronteira com o Quênia. Então, em 10 de abril de 2018, a Câmara dos Deputados dos Estados Unidos aprovou uma resolução não vinculativa sobre a Etiópia, exortando o governo etíope, liderado pelo novo primeiro-ministro, a demonstrar compromisso com os direitos humanos, a democracia e o Estado de direito e indicando a cooperação futura ligada a ele.
Em maio e início de junho de 2018, a unidade policial de Liyu, no estado regional da Somália, realizou novas rodadas de assassinatos de pessoas e queima de casas em um estado regional vizinho. No final de junho de 2018, uma explosão mortal de bomba foi considerada uma tentativa de assassinato do novo primeiro-ministro Abiy Ahmed em um grande comício, que foi convocado em apoio a Ahmed, na praça Meskel em Adis Abeba.
Junho de 2018 também foi um mês em que eventos positivos significativos foram registrados sob a liderança do novo primeiro-ministro. O estado de emergência imposto em fevereiro foi retirado dois meses antes da data oficial de término; as empresas de telecomunicações e companhias aéreas estatais do país foram abertas pela primeira vez a investidores privados e internacionais; o parlamento suspendeu a proscrição de três grupos da oposição e seus membros exilados no exterior; o governo também admitiu publicamente que as forças de segurança dependiam de tortura e se comprometeu com reformas legais de leis repressivas. O governo anunciou a aceitação total do acordo de Argel e a decisão da comissão de fronteira de encerrar as hostilidades com a Eritreia e, em julho de 2018, concordou com o acordo histórico com a Eritreia. Em outubro de 2018, houve uma remodelação do gabinete e a nomeação da primeira chefe de Estado na história do país. No mesmo mês, algo histórico aconteceu, as mulheres passaram a ocupar 50% dos cargos no gabinete.
Em 2019, no entanto, o país viu um aumento na violência comunitária que resultou no deslocamento de milhões de pessoas. Além disso, houve uma suposta tentativa de golpe no nível regional que levou ao assassinato do presidente do estado regional de Amhara e da liderança de alto escalão. O chefe do estado-maior do exército também foi morto. Alguns ativistas acusam o governo de prender centenas de pessoas usando a tentativa de golpe de Estado como pretexto. Mas o governo alega que os indivíduos presos estão envolvidos em atividades criminosas que justificam a prisão. Em 2020, o país enfrentou mais protestos e violência — e também foram relatadas mais violações dos direitos humanos pelas forças de segurança. Em alguns lugares, cristãos se tornaram alvo e foram atacados também.
Em novembro de 2020, o governo federal ordenou que suas tropas conduzissem uma operação na parte Norte do país após a Frente Popular de Libertação do Tigré (TPLF, da sigla em inglês) atacar a Força de Defesa Nacional da Etiópia sem nenhuma provocação ou alerta. O conflito nas regiões de Tigré, Amara e Afar criou uma das piores crises humanitárias dos últimos anos no Chifre da África. Massivas violações de direitos humanos, incluindo violência sexual, mortes extrajudiciais e deslocamentos foram relatados. Igrejas foram atacadas e líderes religiosos mortos.
Entretanto, é importante que isso seja visto no contexto certo. Primeiro, esse é um conflito entre o governo federal e o governo regional após o estado regional de Tigré atacar o exército federal. Segundo, há um elemento de conflito étnico. Principalmente no Oeste do Tigré, é muito controverso quem é dono de um determinado pedaço de terra. Terceiro, é verdade que a igreja e seus líderes se tornaram alvo, mas isso aconteceu em um contexto mais amplo, não por causa da fé cristã. É importante destacar que milhares de civis foram mortos. Esses fatores significam que isso não ocorre apenas onde cristãos são alvo especificamente por sua fé.
HISTÓRIA DA IGREJA NA ETIÓPIA
A Etiópia é uma das nações mais antigas da África a aceitar o cristianismo. O cristianismo entrou no país no século 4 — durante o Império de Axum — quando a família real se tornou cristã e a fé cristã gradualmente passou a dominar a terra.
Após a aceitação do cristianismo pela elite governante, a igreja etíope criou um forte relacionamento com a Igreja Ortodoxa Copta do Egito. Como resultado, a Igreja Ortodoxa Etíope reconheceu o patriarca de Alexandria, Egito, até 1959. O cristianismo ortodoxo permaneceu a religião do Estado até 1974.
A segunda forma de cristianismo a entrar na Etiópia foi a Igreja Católica Romana. Isso foi resultado da relação entre a Etiópia e os portugueses no século 16. Os portugueses tentaram mudar a religião do Estado etíope para a católica. Essa tentativa causou derramamento de sangue, quando os camponeses reagiram com raiva.
Como resultado, os missionários católicos foram expulsos do país. Então a Etiópia decidiu seguir uma “política de porta fechada” por 150 anos a partir de 1632, permitindo que os missionários católicos retornassem apenas no século 19. Hoje, existe uma comunidade de centenas de milhares de católicos romanos na Etiópia que é liderada pelo arcebispo de Adis Abeba.
O terceiro tipo de cristianismo a entrar na Etiópia foi o protestante. O protestantismo conseguiu entrar no país por meio dos esforços de um espectro de missionários luteranos, começando em 1866 com alguns da Missão Luterana Sueca. Na segunda década do século 20, os missionários suecos que representavam os Amigos Verdadeiros Independentes da Bíblia chegaram ao país.
Esses uniram-se com a Missão Luterana Sueca para coordenar o trabalho. Missionários de diferentes partes do mundo continuaram a chegar: os missionários alemães da Missão Hermannsburg chegaram em 1927; os missionários da Noruega, Dinamarca, Islândia e Estados Unidos chegaram nas décadas de 1940 e 1950.
Grande parte da obra luterana foi reunida na Igreja Evangélica Etíope Mekane Jesus. Presbiterianos americanos chegaram em 1920. Quando os italianos chegaram, os missionários presbiterianos foram expulsos e, antes de saírem, organizaram sua missão como Igreja Evangélica de Betel. Em meados da década de 1970, ela se mesclou com a Igreja Evangélica Etíope Mekane Jesus.
A Igreja Ortodoxa Etíope tentou restringir a influência dos missionários entre a população. No entanto, as tentativas de “permanecer a única igreja cristã no país” também se tornaram inúteis pela chegada da Missão para o Interior do Sudão (SIM). A SIM lançou seu trabalho expansivo na Etiópia em 1927 com o doutor Thomas A. Lambie.
A expulsão da Itália e o término da Segunda Guerra Mundial trouxeram mais grupos cristãos para o país. A Conferência Geral Batista da América entrou no país em 1950 com sua primeira missão organizada em Ambo, a oeste de Adis Abeba. “O pentecostalismo entrou no país nos anos do pós-guerra e duas grandes igrejas nativas surgiram, a Igreja dos Cristãos do Evangelho Pleno e a Associação Deus Todo o Tempo. Ambas as igrejas foram encorajadas pela assistência e pelo pessoal das igrejas pentecostais escandinavas”.
CONTEXTO DA ETIÓPIA
Historicamente, a Etiópia sempre teve profundas raízes cristãs. Os principais grupos cristãos na Etiópia são a Igreja Ortodoxa Etíope e as várias denominações protestantes. Essas últimas entraram no país do século 19 em diante.
De acordo com a tradição islâmica, o islamismo tem uma longa história na Etiópia, que remonta à hijrah (chegada dos muçulmanos em Axum, no Norte da Etiópia, em 615 d.C.). Entretanto, foi a Igreja Católica Romana, introduzida no século 16, que moldou a identidade da Etiópia em grande medida. De fato, a Etiópia se apresenta como um baluarte do cristianismo em comparação com seus vizinhos islâmicos. No contexto da “guerra global contra o terrorismo”, essa narrativa é frequentemente empregada pelos etíopes.
No entanto, a Etiópia possui uma minoria muçulmana muito importante. O sufismo tem uma longa tradição, e as redes salafistas mais conservadoras estiveram presentes desde a década de 1930, em expansão a partir da década de 1960. Essas correntes islâmicas foram originalmente concentradas ao longo do lado oriental da Etiópia, mas têm crescido em influência entre a população etíope em todas as áreas e causado profunda preocupação para o atual governo.
A comunidade muçulmana, especialmente a liderança, tornou-se muito assertiva. Houve alegações de que a política de marginalização deixou a comunidade muçulmana sem qualquer impacto político ou econômico no país sob regimes anteriores e isso continua no atual regime. O governo, no entanto, refuta tais alegações.
O novo primeiro-ministro libertou todos os líderes muçulmanos que foram presos sob o regime do primeiro-ministro anterior. O novo líder do país também intermediou as duas facções da Igreja Ortodoxa Etíope, fazendo com que um líder da igreja que estava exilado voltasse ao país.
Com a ascensão do radicalismo na região e além, o islã radical (ou político) está crescendo nos níveis local, regional e nacional. No processo, vários grupos cristãos tornaram-se cada vez mais vulneráveis à pressão em quase todas as esferas da vida. Principalmente nas áreas rurais, onde são maioria, os muçulmanos assediam os cristãos e frequentemente negam-lhes acesso a recursos comunitários.
Além disso, os cristãos são vítimas de violência. Os convertidos do islã ao cristianismo são marginalizados e frequentemente têm os direitos da família, como direitos de herança e guarda dos filhos, negados. Também é importante observar que o crescimento do islã radical nos vizinhos Somália e Sudão está se espalhando pela Etiópia.
No geral, a Etiópia é um país com mais de 80 grupos étnicos diferentes, cada um com sua própria língua, cultura, costumes e tradições. Apesar do seu elogiado crescimento econômico, a Etiópia ainda permanece um dos países mais pobres do mundo. De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), a população com 14 anos ou menos representa 40% do total da população. A média da taxa de natalidade é 4,2.
No contexto patriarcal da Etiópia, o valor de uma mulher é comumente medido com relação aos papéis dela de esposa e mãe. Apesar das proteções legais voltadas a evitar a desigualdade de gênero, normas sociais e culturais que estabelecem a mulher como subordinada ainda prevalecem. Muitas escolhem permanecer em casamentos abusivos devido ao estigma e vergonha vinculados ao divórcio, bem como ao medo de perder propriedades ou a custódia dos filhos.
© 2023 Todos os direitos reservados