De xamã a servo de Deus 

Como um ex-xamã passou a alfabetizar vilas remotas no Vietnã e ensinar sobre a palavra de Deus

Portas Abertas • 23 out 2023


Philemon não se arrepende de deixar a vida como xamã para servir a Deus

Philemon não se arrepende de deixar a vida como xamã para servir a Deus

Por cinco anos, Philemon* estudou o xamanismo no Vietnã. Ele passou muito tempo aprendendo sobre a interação com o mundo espiritual. Ele se familiarizou com o uso de talismãs e amuletos e sobre quando recitar mantras para se comunicar com os espíritos. “Eu era como um mestre ou salvador para minha comunidade. Quando alguém era atacado por um espírito mal, eu expulsava o espírito do corpo da vítima. Eu tinha êxito em ajudá-los, mas não a minha própria família.”  


Embora fosse reverenciado como xamã, Philemon acreditava ter uma vida desafortunada. Seu primeiro filho estava doente, e o segundo caiu e quebrou o braço. Ele não tinha dinheiro e estava afundado em dívidas. “Eu estava desempregado e tinha uma grande lista de dívidas, mais de oito mil dólares”, compartilha. Ele clamou a seus deuses, mas a súplica chegou a ouvidos surdos. Esperando aliviar seus fardos, ele se viciou em álcool e cigarros, mas isso também não o ajudou.  


“O banco notificou que confiscaria minha propriedade. Mesmo triste, tinha que contar para minha esposa. Para ganhar coragem, bebi e fumei muito naquele dia. Eu disse a ela que a data da entrega se aproximava e que podíamos não ter mais um teto para morar nos próximos dias”, explica.  


Para colocar um fim a essa situação, ele pensou que seria melhor se todos morressem. “Eu comprei veneno e planejei colocá-lo no arroz, para que todos morrêssemos. Minha esposa concordou. Naquela época, tínhamos dois filhos.” Antes de executar o plano, ele foi se despedir de sua irmã. “Naquele dia, ela compartilhou o evangelho comigo, dizendo que Jesus Cristo morreu por nós. Quando ouvi aquilo, lembrei que o marido dela tinha muitos vícios, mas foi transformado ao se converter”, compartilha. Naquele dia, o destino da família mudou. “Quando voltei para casa, joguei o veneno fora.”  


Perseguidos, mas não abandonados


Philemon enfrenta autoridades locais que tentam impedi-lo de evangelizar


Menos de um mês depois, Philemon entregou completamente a vida para Jesus. A esposa dele também se tornou cristã. Apesar de gradual, a transformação continuou acontecendo. Entretanto, quando Philemon começou a servir ao Senhor, a perseguição começou. “Primeiro, ela veio dos meus parentes. Eles disseram que deveríamos desistir da fé e focar nos negócios, pois nossa família era pobre. Em segundo lugar, dos meus melhores amigos, que eram policiais e tinham posições na comunidade. Eles zombavam de mim e tentavam me impedir toda vez que eu compartilhava o evangelho.”  


Além disso, ele sempre se deparava com autoridades quando visitava lugares para evangelizar. Uma vez, ele foi a uma vila comunista, mas foi imediatamente interrogado pelas autoridades. “Eu disse: ‘Eu tenho irmãos e irmãs aqui, então vim visitá-los. E mesmo se tentassem me matar, eu ainda viria’. Eu me arrisco viajando, mas como é óbvio ir durante o dia, me infiltro à noite. Agora, temos uma igreja registrada pelo governo lá”, testemunha.


Em vilas comunistas, o governo tem controle absoluto. Nenhuma fé que desafie a lealdade ao governo é permitida, incluindo o cristianismo. A presença das autoridades locais nessas vilas é mais alta do que o normal. Em alguns casos, Philemon foi alertado de que deveria deixar a área em 24 horas. Em outras áreas, foi forçado a sair e proibido de voltar. “Eles não me agrediram ou me tiraram da vila, mas me amaldiçoaram e insultaram. Embora tenham sido duros em suas palavras, permaneci gentil com eles”, disse.


Philemon explicou que as autoridades locais exigem permissões do povo kinh, grupo majoritário do Vietnã a que pertence, para visitar áreas tribais, principalmente se forem pastores ou funcionários de igrejas. “Se não tivermos permissão das autoridades locais, elas nos proibirão. Entretanto, é difícil conseguir essa permissão porque há muitas exigências e o processo é burocrático. Além disso, as autoridades têm medo de ensinarmos ideologias aos povos tribais que contradigam o comunismo, o que pode causar problemas entre os moradores. Então os monitoram de perto”, compartilha.  


As autoridades também pressionam a família de Philemon. “Minha esposa algumas vezes se cansa disso e meus filhos me falam que são sempre rejeitados na escola. Meu coração se despedaça por eles, mas sempre digo que Jesus sofreu mais do que nós. Nunca senti que Deus nos abandonou. As autoridades dizem que comunistas não seguem a um deus, que o cristianismo veio dos Estados Unidos, que o evangelho mudará a lealdade das pessoas e temem que as pessoas me sigam mais do que a elas. Essas são as razões da perseguição. Mas sempre que jogam esses motivos em mim, respondo: ‘Vocês não estão felizes por mim? Deus me salvou dos vícios e eu quero compartilhar esse testemunho com outros. Quero compartilhar o amor que recebi’.”  


Jornadas arriscadas e aulas de alfabetização


Apesar das longas distâncias e dos riscos nas estradas, Philemon cuida de mais de 30 igrejas tribais em diferentes partes do Vietnã e dá aulas de alfabetização em diversos vilarejos


Após servir como um evangelista local, Philemon passou a cuidar de mais de 30 igrejas em diferentes partes do Vietnã, tornando-se pastor em uma delas. Como a igreja ficava a 160 quilômetros de distância de onde vivia, mudou-se para lá. Depois de viajar para áreas remotas e pastorear povos tribais, Philemon se deparou com um grande problema: o analfabetismo. Há dez anos, ele conheceu o projeto de alfabetização da Portas Abertas para cristãos tribais no Vietnã. Ele se tornou professor, ajudou a melhorar os materiais e viu o impacto nos participantes.  


“Quando os participantes aprendem a ler e escrever, seus valores e dignidade melhoram. O pai de um aluno era analfabeto. Eu não sabia que meu aluno ensinava o pai depois das nossas aulas. Apesar da idade do pai, ele aprendeu a ler e escrever. O pai do aluno sempre precisou de ajuda para ir ao banco. Mas o caixa ficou muito surpreso quando ele foi sozinho e conseguiu finalizar suas transações tranquilamente. Certa vez, esse pai também visitou o gabinete do vilarejo e os oficiais ficaram maravilhados com a mudança. Perguntaram ao acompanhante dele o que aconteceu. O rapaz falou que o pai estudou na igreja e foi alfabetizado”, compartilhou.  


“Antes de serem alfabetizados, os alunos sempre eram rejeitados em vagas de emprego por não saberem ler ou escrever. Entretanto, após participarem das aulas, conseguiram emprego imediatamente.” Esses resultados encorajaram Philemon a continuar com o projeto de alfabetização. Entretanto, implementá-lo não foi fácil.  


“O monitoramento e o interrogatório das autoridades sempre estiveram presentes, porque não sou daquela região. Eu viajo do Sul ao extremo Norte do Vietnã. Se as vilas são próximas, eu mesmo dirijo ou pego o ônibus. Se são mais de 300 quilômetros, pego um voo e depois pelo menos mais dez horas de ônibus. Finalmente, os participantes me buscam de motocicleta e viajamos por mais algumas horas até chegar aos vilarejos. No caso de vilas onde é impossível chegar, reúno participantes de um entorno de cerca de 40 quilômetros para conduzir as aulas.”  


O projeto de alfabetização também é frequentado por não cristãos e as aulas são um lugar para conhecerem a Jesus. Esse projeto é para a comunidade, não apenas para a igreja. Os participantes têm 12 lições, que incluem leitura e escrita básica e avançada, educação financeira e lições bíblicas. Os materiais são impressos e ensinados na língua tribal dos participantes para um resultado melhor.  


Ao olhar para trás, Philemon não se arrepende de deixar a vida como xamã para servir a Deus. Mesmo diante das incontáveis vezes que subiu e desceu de um ônibus para visitar cristãos e alfabetizá-los, além das muitas vezes em que foi interrogado e perseguido pelas autoridades. “Deus me chamou para esse ministério e ele é o único que fez tudo por mim. Eu sou muito feliz. Sou feliz porque posso servir minha comunidade”, conclui.


Prontos para perseverar


Cada vez mais, o monitoramento e as restrições de autoridades locais fazem com que cristãos no Sudeste Asiático se sintam sozinhos e isolados em sua fé. Com sua doação, a Portas Abertas os treina para enfrentar a perseguição biblicamente com material apropriado a sua cultura e idioma.


Sobre nós

A Portas Abertas é uma organização cristã internacional e interdenominacional, fundada pelo Irmão André, em 1955. Hoje, atua em mais de 60 países apoiando cristãos perseguidos por causa da fé em Jesus.

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