Portas Abertas • 27 ago 2024
A ação faz parte da repressão do governo autoritário na Nicarágua aos seguidores de Jesus (foto representativa)
O governo, sob direção do presidente Daniel Ortega, revogou na segunda-feira passada (19) o registro de centenas de igrejas evangélicas como forma de punir instituições que não se submetem ao governo autoritário na Nicarágua, o país que mais subiu na Lista Mundial da Perseguição 2024.
Cinco mil instituições foram fechadas desde 2018, mas na segunda-feira o país atingiu um recorde ao tomar o registro legal de 1.500 organizações, sendo a maioria delas igrejas ou associadas a grupos religiosos, em um único dia.
A ação faz parte das medidas do governo para oprimir a população e todos os que são vistos como uma ameaça ao regime. Apenas alguns dias antes, dois líderes cristãos foram presos, e o presidente deixou claro sua oposição às igrejas cristãs em todo o país que denunciam as violações dos direitos humanos na Nicarágua.
“Todas as propriedades foram confiscadas. Isso é um ataque contra a liberdade religiosa”, conta Patricia Molina, uma advogada nicaraguense que investiga ataques diretos a igrejas e tentativas de silenciar líderes cristãos em artigo ao New York Times.
Daniel Ortega e sua esposa, Rosario Murillo, têm dominado o país e avançam em um regime autocrático que busca controle total, inclusive sobre o poder legislativo, jurídico e sobre as eleições, em violação à autonomia dos poderes.
Líderes cristãos são alvos de pressão intensa do governo na Nicarágua (foto representativa)
Em 2018, centenas de pessoas de diversas partes da Nicarágua se uniram em protestos contra as violações da segurança social e erosão da democracia, mas foram duramente reprimidas. Muitos foram mortos, presos ou forçados a sair do país.
Desde os protestos, aproximadamente 250 líderes cristãos, freiras e outros membros de igrejas cristãs foram exilados. Na região de Matagalpa, havia 71 líderes cristãos, mas restaram apenas 13 agora. Uma universidade cristã foi fechada e tomada pelo governo no ano passado e 20 igrejas protestantes foram processadas com multas exorbitantes e sem explicação.
De acordo com o ministro do Interior da Nicarágua, “as organizações foram fechadas essa semana porque falharam em suas obrigações legais”. Há meses, o governo cria regras cujo propósito é dificultar o cumprimento da burocracia e faz falsas acusações, como lavagem de dinheiro, sem evidências, de modo que tenha justificativas para fechar igrejas e ONGs, e ao mesmo tempo, elas não tenham a quem recorrer, já que o governo se mobiliza contra as comunidades cristãs locais.
Membros de igrejas locais relataram que receberam ameaças, foram proibidos de fazer os cultos e têm sido monitorados de perto. “Acredito que a igreja na Nicarágua sempre esteve do lado da verdade. Um dos maiores medos do governo é que, por meio dos líderes religiosos, as pessoas saibam que é possível mudar o país. Eles tentam evitar isso a todo custo”, disse Félix Navarrete, um ativista cristão que precisou fugir do país em 2018.
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