Portas Abertas • 4 jul 2017
Doze anos após a morte do pai, Martina finalmente conseguiu “enterrá-lo”. Não no sentido real da palavra, mas no sentido de se despedir dele adequadamente. É provável que seu corpo tenha sido jogado numa sepultura coletiva em local desconhecido. Foi somente depois da ajuda de conselheiros especializados em trauma, que auxiliam mulheres e crianças na Nigéria, que Martina conseguiu resolver um conflito interno que lhe causava muita dor.
Mas ela não é a única que vive esse tipo de conflito. Segundo a UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância), mais de 2,7 milhões de crianças foram afetadas psicossocialmente nessa nação, depois das ações violentas do grupo extremista Boko Haram. Segundo a ONU, mais crianças serão identificadas como “traumatizadas”, nos mais variados graus, no nordeste nigeriano. O apoio psicossocial nestes casos é muito importante porque trata das pessoas não só em suas dificuldades sociais (falta de alimento, moradia, remédios), mas também nas psicológicas (medo, depressão, insônia, perda, choro constante ou dores emocionais).
A Portas Abertas trabalha no país ajudando os cristãos que são perseguidos por causa da fé e, recentemente, ampliou seus trabalhos, pensando naqueles que necessitam de um cuidado maior. Um centro de tratamento acomodará 30 pessoas, além de fornecer treinamento para conselheiros será o primeiro desse tipo na região. “Temos vários tipos de trauma entre os nigerianos, alguns por crises étnicas, outros por conflitos religiosos”, disse Patience*, o conselheiro que cuida de Martina.
Martina revelou sua história enquanto participava de um programa de aconselhamento pós-trauma, junto com um grupo de outras crianças. Todos deveriam fazer um desenho para ilustrar o funeral do pai. “Ela desenhou um caixão com o nome dele, algumas mulheres carregando flores e sua mãe com um bebê nas costas, representando ela mesma, além de escrever as frases: ‘Papai, nós realmente sentimos sua falta’ e ‘Esperamos que sua alma descanse em paz’. Ela precisava descarregar esse fardo. Depois disso, ela ficou aliviada e aceitou a morte dele”, explicou Patience. “Desde o primeiro dia aqui, eu sinto paz e aquela carga pesada que eu carregava em meu coração já não existe mais”, Martina conclui.
*Nome alterado por motivos de segurança.
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