Tolerância com controle

Portas Abertas • 13 abr 2005


Religiosos de Ghulja, a 100 quilômetros ao leste da fronteira com o Cazaquistão, não parece, num primeiro momento, experimentar dificuldades com o estado. É uma província relativamente típica da cidade de Xinjiang, e as políticas religiosas seguidas pelas autoridades são provavelmente as mesmas em outras áreas populosas da região.

Há várias mesquitas na cidade e, apesar do fato de que o cristianismo na cidade atinge apenas algumas centenas, as comunidades protestantes, católicas e ortodoxas da cidade têm suas próprias igrejas. As autoridades permitem que mesquitas sejam construídas de acordo com agrupamentos étnicos, então há muitas mesquitas uighur e dungan em Ghulja, e até uma mesquita uzbeque. Além disso, as igrejas e mesquitas são freqüentemente construídas às custas do estado.

Por exemplo, as autoridades construíram uma igreja ortodoxa em Ghulja em 1992. A mesquita Baitula foi reconstruída em 1996 (hoje ela é a maior mesquita da região de Xinjiang-Uighur). Falando ao Forum 18, no dia 21 de março, um ajudante do imã da mesquita Baitula, Adyljan Usman, disse que cerca de 30% dos custos da construção da mesquita foram cobertos pelo estado.

Entretanto, o estado tenta manter todas as organizações religiosas sob completo controle. Comitês religiosos nacionais, que fazem parte da administração de cada cidade, controlam a vida dos religiosos, e são conduzidos apenas por candidatos aprovados pelas autoridades estaduais.
 
Líderes de todas as comunidades religiosas devem participar de reuniões realizadas pelo comitê religioso nacional. Os líderes religiosos também têm que expor em seus lugares de culto as regras governamentais de funcionamento de uma comunidade religiosa, emitidas pelo comitê. Como exemplo dessas regras, um resumo de atividades proibidas foi visto pelo Forum 18 em uma mesquita em Xinjiang.

"Essencialmente, as autoridades vêem crentes como terroristas em potencial. Eles tentam exercer um controle completo sobre nossas atividades. Somos cidadãos chineses e pagamos impostos, como os ateus, mas aos olhos do estado, somos cidadãos de segunda categoria", o padre católico local, fr. Sun Zin Shin, disse ao Forum 18 no dia 17 de março em Ghulja.

O muçulmano Abdu Raheman, proprietário da maior companhia produtora de mel de Ghulja, concorda com o padre católico. "Nos últimos anos um progresso significante aconteceu na China em termos de liberdade econômica, mas têm acontecido poucas mudanças na vida religiosa. O estado ainda tenta controlar completamente a vida dos religiosos". Para comprovar seu ponto de vista, ele citou um incidente no vilarejo dungan de Lyuda-Dai, a 70 quilômetros ao oeste de Ghulja e a 30 quilômetros ao leste da fronteira com o Cazaquistão. Ele reportou que em fevereiro, depois de terem gastado três anos construindo uma mesquita, e quando ela estava virtualmente completa, as autoridades decidiram fechá-la, justificando essa sua ação com a desculpa de que as dimensões do edifício eram grandes demais. "Como resultado, os muçulmanos tiveram que erguer uma tenda no lado oposto da mesquita incompleta, a qual eles usam para cerimônias religiosas, Abdu Raheman disse ao Forum 18.

Esse não é o único caso em Ghulja no qual as autoridades têm exigido que o tamanho de um edifício religioso seja reduzido. As autoridades pediram que a cruz de pedra erigida sobre a igreja católica seja feita menor.

Abdu Raheman também afirma que as autoridades restringem deliberadamente o número de mesquitas, não havendo nenhuma mesquita nos novos distritos residenciais de Ghulja. "Eu tenho o terreno e o dinheiro para construir uma mesquita, mas as autoridades acham que é inconveniente abrir um edifício religioso em um bairro residencial novo", ele se queixa.

Ele assegura que as autoridades são razoavelmente tolerantes quanto aos diferentes movimentos religiosos dentro do islã (a maioria dos uighurs e dungans segue a escola Hanbali dos sunitas). "Nos últimos anos, os famosos wahhabis apareceram em Ghulja. Na verdade, a palavra é simplesmente uma gíria e as pessoas conhecidas como wahhabis são seguidoras da escola Hanbali dos sunitas. A princípio, as autoridades não lhes importunaram, com a condição de que freqüentassem as mesquitas registradas", ele disse ao Forum 18.

Nas repúblicas da Ásia Central, que fazem fronteira com a China, o termo "wahhabi" é aplicado tanto aos seguidores da escola Hanbali, muçulmanos dos quais as autoridades não gostam, como aos seguidores das Testemunhas de Jeová, por alguns oficiais uzbeques. Tem havido instâncias onde os famosos wahhabis foram apreendidos sob acusações inventadas. Abdu Raheman também disse que cerca de 20 % dos muçulmanos dungan seguem o islamismo sunita (não há virtualmente qualquer muçulmano sufi na população de Uighur), que também não encontra oposição por parte das autoridades conquanto que eles sigam as exigências do comitê religioso nacional.

Apesar da rígida política das autoridades, o Forum 18 soube que comunidades protestantes não-registradas existem em Ghulja. Na década de 1930 um número considerável de pentecostais se mudou para Ghulja da Rússia", Nikolai Lunev, um membro da minoria étnica russa e um deputado no décimo Conselho Consultor Político de Todos os Chineses - um corpo consultor que incorpora as minorias nacionais da China - disse ao Forum 18 no dia 19 de março. "Entretanto, depois da Revolução Cultural, quase todos os russos de Ghulja foram embora. Hoje sobraram apenas duas ou três famílias protestantes. Nos domingos os idosos se reúnem para orar e ninguém restringe a liberdade deles".

De qualquer forma, essa política tolerante das autoridades é mais uma exceção do que uma regra. Por exemplo, comunidades protestantes chineses e uighur não-registradas têm que trabalhar em secreto. Desde o começo da década de 1990, quando a fronteira foi aberta com o vizinho Cazaquistão, testemunhas de Jeová foram registradas como vindas do Cazaquistão a Ghulja, mas, conforme o que o Forum 18 pode estabelecer, eles não eram capazes de estabelecer uma comunidade religiosa em Ghulja.

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