As implicações religiosas e políticas da Insurreição tibetana

Portas Abertas • 5 abr 2009


A China aumentou a segurança na fronteira com o Tibete na véspera do 50º aniversário da revolta dos tibetanos contra o domínio de Pequim, informou a agência oficial de notícias Xinhua. "Aumentamos os controles nos portos fronteiriços e nas zonas-chave ao redor da fronteira com o Tibete", assegurou Fu Hongyu do departamento de controle de fronteiras pertencente ao Ministério da Segurança Pública.
 
"Tomaremos medidas enérgicas em atividades criminosas que sejam realizadas na fronteira com o Tibete e que possam representar uma ameaça para a soberania da China e do Governo", sentenciou Fu durante a sessão anual da Assembleia Nacional Popular (ANP, Legislativo). O dalai-lama disse que os líderes chineses se sentem "ameaçados" pelo "budismo tibetano" e tachou de "triste" a atual situação no Tibete.
 
Sucessão
 
Meio século depois de deixar o Tibete e se refugiar na Índia, data que será comemorada na terça-feira, o dalai-lama começa a desenhar a sua própria sucessão, na tentativa de garantir a continuidade do movimento pela autonomia da região e a unidade do governo tibetano no exílio. Vencedor do Prêmio Nobel da Paz de 1989 e dono de um prestígio internacional sem paralelo entre seus seguidores, o dalai-lama é o líder espiritual dos tibetanos que vivem dentro e fora da China e um personagem central na busca de maior autonomia para a região.

Ele é recebido por presidentes e primeiros-ministros de quase todo o mundo, tem entre seus seguidores alguns dos mais célebres atores de Hollywood e possui o poder de atrair multidões - e uma ampla cobertura de imprensa - por onde passa. Mas desde 1959 está impedido de voltar ao Tibete, onde suas fotos e imagens são proibidas.

Os exilados temem que sua morte leve à desarticulação dos tibetanos e ao gradual esquecimento de sua causa pelo restante do mundo. Aos 73 anos e com uma saúde frágil, o dalai-lama discute abertamente o assunto, na tentativa de defini-lo enquanto estiver vivo. "A questão da sucessão está sendo debatida seriamente entre os exilados", disse ao Estado o jornalista indiano Saransh Sehgal, que mora em Dharamsala.

O líder religioso repete que o futuro tem de ser decidido pelos próprios tibetanos, mas apenas os exilados terão a chance de manifestar suas posições. Entre os prováveis caminhos a seguir não está descartada nem mesmo a extinção da figura do dalai-lama, que existe desde o século 15. Segundo a tradição tibetana, o atual dalai-lama é a 14ª reencarnação do Buda da Compaixão e, quando morrer, vai reencarnar em uma criança. Se a tradição for mantida, haverá um vácuo de poder, até que o futuro líder espiritual cresça e possa assumir a liderança dos tibetanos.

A alternativa seria a escolha de um sucessor adulto, que não seria um dalai-lama, mas contaria com a legitimidade de ter sido escolhido por ele. Nesse cenário, o mais cotado é o karmapa-lama, que fugiu do Tibete para a Índia há nove anos. Considerado um buda vivo pelos tibetanos, karmapa ocupa o terceiro lugar na hierarquia religiosa, depois do dalai-lama e do panchen-lama. É carismático, fala inglês e mandarim, usa iPod e conta com a chancela do governo chinês, que o reconheceu em 1992 como o 17º karmapa-lama.

O governo chinês poderá apontar um dalai-lama dentro do Tibete, o que fatalmente levará a divisões dentro do budismo tibetano, ainda que o dalai-lama tenha declarado que vai reencarnar fora da China. De qualquer maneira, o karmapa-lama encontra menos hostilidade de Pequim do que o dalai-lama. Outra iniciativa para tentar manter a unidade dos tibetanos foi a criação de um governo democrático no exílio. Em 2001, houve a primeira eleição em Dharamsala para um Parlamento e a consequente escolha de um primeiro-ministro, Samdhong Rimpoche.

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