Portas Abertas • 15 nov 2005
Momento devocional no barco carregado com um milhão de bíblias do Projeto Pérola
A revista semanal americana Time referiu-se ao Projeto Pérola como "a maior operação de sua categoria na história da China". O chefe da filial da "Time" em Pequim descreveu o projeto como uma das operações mais audaciosas e bem-sucedidas do século XX.
Portas Abertas cuidou em sigilo dos preparativos dessa ousada expedição. A Igreja Chinesa estava passando por um reavivamento, depois de quase ter sido banida durante a Revolução Cultural. Com a morte de Mao Zedong, em 1976, a situação melhorou. A Igreja ainda dava sinais de vida e os cristãos começaram a sair das "catacumbas". Mas a religião continuou sendo vista como o ópio do povo e tinha de ser combatida. Os cristãos ainda precisavam ser prudentes e não podiam reunir-se livremente em qualquer lugar. Também havia escassez de Bíblias.
Ficou acertado que, na noite de 18 de junho de 1981, a Missão Portas Abertas entregaria um milhão de Bíblias na praia de Swatow, atualmente Shantou, cidade costeira no sul da China. Naquela noite, mais de 2 mil cristãos chineses aguardaram a chegada das Bíblias à praia, uns para escondê-las, outros para distribuí-las imediatamente. Essa operação exigiu considerável esforço de organização. Os participantes tiveram de ser encontrados e informados dos detalhes pessoalmente. Foi um milagre reunir tantas pessoas sem que as autoridades percebessem.
Temporada de tufões
As Bíblias foram carregadas em Hong Kong, no convés de um barco aberto, que seria puxado por um rebocador quando chegasse à praia de Shantou. As embarcações receberam os nomes de Gabriella e Michael. Ocorreram vários problemas e a operação acabou sendo marcada para junho, quando teve início a temporada de tufões. O capitão Tinsley protestou, dizendo que seria loucura realizar a operação nessa época. Nenhum integrante de sua tripulação sabia navegar. Seria arriscar demais a vida das pessoas. Mas não havia outra opção. Ele achava a missão tão importante que tocou a tarefa, a despeito de sua opinião.
Enquanto a embarcação aguardava no ancoradouro, o primeiro tufão da temporada se aproximou do porto, que não era exatamente seguro. O Mar do Sul da China sempre é atingido por tempestades tropicais, e são comuns os alertas de tufão. Quando se dá um alerta, significa que todos os navios devem encontrar um porto seguro ou definir um curso que os faça desviar da rota do tufão. Para o rebocador Michael e o barco Gabriella, que levavam a valiosa carga de mais de um milhão de Bíblias chinesas, não havia um local seguro na superpopulosa Hong Kong. Enquanto a tripulação, cada vez mais tensa, acompanhava os boletins meteorológicos, a frente local de intercessores foi convocada.
Um sinal a Portas Abertas mobilizou uma rede telefônica, com um efeito tão grande que, dentro de poucas horas, milhares de pessoas em todo o mundo já estavam orando pelo Projeto Pérola, codinome do arriscado empreendimento. Pouquíssimas pessoas sabiam exatamente o que estava acontecendo, portanto, pouquíssimas podiam orar pelo motivo específico. A maioria dos intercessores só sabia que precisava orar por um grande projeto em favor da Igreja na China.
Mar de calmaria
A uma distância segura de Hong Kong, o tufão mudou de curso subitamente. O barômetro, que atingira seu nível mais baixo em 11 de junho, voltou a subir. Na tarde do dia 15 de junho, o rebocador Michael rumou para Shantou. O mar, que vinha se mostrando agitado pela iminente chegada do tufão, ficou muito mais calmo.
No dia 16 de junho, quando o barômetro em Hong Kong voltou a indicar um nível normal, o capitão do Michael recebeu um boletim alertando para a chegada de outro tufão. Embora estivesse longe, ao leste das Filipinas, poderia causar grandes dificuldades no dia 18 de junho. A intenção era rebocar o barco, aproximando-o o máximo possível da praia. Depois, inúmeras válvulas seriam abertas para que o Gabriella afundasse e as Bíblias flutuassem pelo mar. Isso só poderia ser feito se as águas estivessem completamente calmas; caso contrário, o barco poderia ter o casco perfurado.
Hostes celestiais
A hora fatídica chegou. A "força silenciosa da oração", acionada quando o primeiro tufão estava se aproximando, foi usada novamente. Levantou-se um clamor ininterrupto de todas as partes do mundo em favor do Projeto Pérola. Ainda que não houvesse servo do profeta para ver a legião de anjos, esse clamor deve ter movido as hostes celestiais, porque a carga conseguiu se aproximar da praia. A temperatura estava excepcionalmente boa e o mar, absolutamente calmo.
O local de desembarque que os chineses escolheram estava na rota de navegação usada pela marinha. Botes-patrulhas chineses chegaram muito perto do Michael, mas a ronda não detectou nada de anormal.
Sereno, Michael chegou à praia, onde 2 mil cristãos chineses aguardavam, prontos para transportar a carga à moda chinesa - um longo travessão com dois cestos pendentes, um de cada lado. Algumas caminhonetes também aguardavam na praia para receber as Bíblias.
O capitão manobrou seu barco o mais próximo possível da costa. Em seguida, deu ordens para soltar as amarras para que o navio afundasse. As Bíblias foram embaladas em grandes fardos envoltos em plástico e presos a bóias. Quando a embarcação afundou, viam-se 232 pacotes de Bíblias flutuando no mar tranqüilo.
No último trecho do percurso, botes de borracha com potentes motores rebocaram os pacotes, de uma tonelada cada um. Assim que chegaram à praia, os fardos foram carregados para dentro de cestos e os transportadores partiram rapidamente na escuridão da noite.
Graças ao mar extremamente calmo, foi possível realizar essa operação com sucesso. De todos os tripulantes, o capitão Tinsley, deve ter sido o único que percebeu que o mar estava excepcionalmente tranqüilo, o que só poderia ser explicado pela aproximação do tufão, como descreve em sua autobiografia*. Quando a polícia se deu conta da operação, horas mais tarde, o rebocador já estava a pleno vapor rumo às Filipinas.
Muitos cristãos que se envolveram com o Projeto Pérola sofreram. Houve três grandes punições pelo PSB após o Projeto Pérola, em 1983, 1987 e 1989. A Missão Portas Abertas foi informada de que a primeira e a terceira delas relacionavam-se ao Projeto Pérola. Até hoje, todas as pessoas envolvidas tomam cuidado ao comentar essa operação. Ainda se considera perigoso um cristão ser visto com uma Bíblia do Projeto Pérola.
Fontes afirmam que o Projeto Pérola acelerou a impressão ofi cial de Bíblias pelo governo. Podemos louvar a Deus pelo fato de mais Bíblias terem sido colocadas à disposição dos cristãos chineses poucos anos depois dessa espetacular entrega de Bíblias.
* Seadog, de William K. Tinsley
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