Um ano após o terremoto, oportunidades diminuem em Sichuan

Portas Abertas • 3 jul 2009


O terremoto que atingiu a Província de Sichuan em 12 de maio de 2008 atraiu cerca de um milhão de voluntários estrangeiros – muitos deles, cristãos. O momento foi uma rara oportunidade de chineses e estrangeiros compartilharem o amor de Jesus às pessoas traumatizadas.

Mas essa oportunidade parece ter acabado. A Portas Abertas ouviu relatos de cristãos chineses de outras províncias que foram convidados a deixar Sichuan. Igrejas não-registradas têm recebido a visita do Comitê de Segurança Pública, que as pedem para encerrar suas atividades. Um culto para 5 mil cristãos na Páscoa foi revogado no último minuto. O que está acontecendo em Sichuan e por quê?

Samuel (pseudônimo), colaborador da Portas Abertas que trabalha com as igrejas de Sichuan, dá algumas explicações.

O que aconteceu com o culto de Páscoa que havia sido previamente autorizado pelas autoridades?

Quando cheguei a Chengdu, capital da Província, dois dias antes do evento, tive dificuldades de entrar em contato com meus colegas pastores. O celular de todos eles parecia estar desligado. Mandei mensagens de texto, e recebi umas duas respostas, totalmente incompatíveis com as perguntas que eu havia enviado. Comecei a suspeitar que algo estava errado. No dia seguinte, recebia recados de que o evento estava de pé, depois que ele havia sido cancelado, e assim por diante. Resolvi não me arriscar e não fui.

Na segunda-feira seguinte, soube que o culto foi mesmo cancelado. Mas, antes disso, a polícia anotou os dados das pessoas que foram até o lugar.

Como era de se esperar, havia muitos policiais para fazer segurança. Quem estava do lado de fora, na fila, ouviu dizer que a polícia anotaria os dados de quem fosse participar do culto. Muita gente não quis mais entrar. Quem já estava do lado de dentro era impedido de sair.

O caos foi aumentando. O pessoal lá fora estava tenso e, no calor do momento, houve algumas discussões. A fim de acalmar os ânimos, um grupo começou a cantar músicas de louvor. Pode ter parecido uma boa solução na hora, mas não foi a mais sábia aos olhos das forças de segurança, nada espirituais. Creio que foi o comportamento imprevisível da multidão que levou as autoridades a cancelar o evento.

As igrejas não-registradas da área sofreram alguma repressão depois disso?

As igrejas com as quais trabalho me informaram que o Comitê de Segurança Pública as visitou e pediu com educação que não realizassem mais cultos, principalmente os novos grupos que surgiram após o terremoto.

Eu não acho que isso esteja diretamente ligado ao incidente na Páscoa, porque esse tipo de repressão já havia começado meses antes.

Como essas igrejas estão reagindo às mudanças?

Como as igrejas não-registradas não têm lugar fixo para se reunir, elas não pretender acabar com os cultos. Há novos líderes que precisam de treinamento a fim de cuidar dos novos convertidos e necessitam se firmar na Palavra de Deus.

O Irmão Chen é um novo convertido de uma etnia minoritária de Sichuan. Ele e sua esposa viviam nas montanhas. Quando houve o terremoto, ele perdeu a esposa e a casa. Quando mais precisava, um grupo de cristãos voluntários que distribuía barracas foi até ele. Comovido mais pelo amor e cuidado do que pela ajuda material, Chen conheceu Jesus, como dezenas de outras pessoas. Ele decidiu construir uma casa bem grande, onde cristãos podem se reunir.

Soubemos que voluntários e ONGs cristãs, que ainda estão em Sichuan, receberam ordens de sair. Mas jornais estatais chineses afirmam que ainda necessitam de voluntários. Se esse for o caso, como o governo vai suprir as necessidades daqueles que ainda precisam de ajuda?

No momento, a maioria dos milhares de voluntários que vieram a Sichuan um ano atrás já voltou para casa. Os que ficaram estendem a mão para ajudar, emprestam o ouvido para escutar, dão aconselhamento. Eles vivem em casas temporárias junto aos chineses, são amigos de seus vizinhos. Há alguns cristãos entre eles. Esses voluntários cristãos receberam visitas de autoridades locais, que gentilmente agradeceram a ajuda prestada e lhes disse que era hora de voltar para casa.

Um grupo cristão estrangeiro que atuava na região soube que a Cruz Vermelha chinesa assumirá o cuidado das pessoas traumatizadas. Esse próprio grupo foi substituído por mil voluntários da Liga Jovem Comunista.

Em sua opinião, por que o governo está fazendo isso?

Uma situação dessa diminui o controle do regime. Com os problemas sociais crescendo, preservar a estabilidade se tornou a ordem do dia para o governo local. Grupos e pessoas estrangeiros, difíceis de controlar, são vistas como fatores potenciais de instabilidade. Assim, vemos que o governo está aumentando pouco a pouco sua supervisão sobre grupos e indivíduos voluntários.

Por um lado, é aceitável que o governo queira remover quem não está contribuindo genuinamente para o processo de reconstrução. Mas, por outro, é lamentável que os grupos envolvidos com o cristianismo estejam entre os convidados a se retirar, a despeito de esses grupos abençoarem a comunidade local. Os cristãos de fora de Sichuan que continuam lá são aqueles que se comprometeram de corpo e alma a servir as comunidades atingidas, ao longo dos próximos anos.

Também soube, entretanto, que alguns líderes cristãos estão vendo de forma positiva o controle do governo sobre as ONGs. Isso porque algumas seitas se infiltraram na ajuda humanitária e desviavam as pessoas. Portanto, um controle mais efetivo sobre a ajuda voluntária acaba sendo um tipo de proteção para os não-cristãos.
 
Como os cristãos podem orar por Sichuan agora?

Primeiro, podemos orar para que a Igreja em Sichuan permaneça unida em oração e propósito, a fim de que os planos de Deus possam se realizar por meio dela.

Em segundo lugar, interceda pelo povo de Sichuan que ainda precisa ouvir o evangelho da salvação. Até o terremoto, Sichuan era solo árido para a evangelização. A província é o lar de 47 minorias étnicas da China, e só uma delas foi alcançada pelo evangelho.

Em terceiro, peça sabedoria para o governo da província, que precisa gerenciar a reconstrução de Sichuan. Ore para que sejam diligentes, responsáveis, e para que temam a Deus. Ore para que os corações deles sejam tocados pelo amor de Cristo, expressado pelas vidas e pelos atos de muitos cristãos ao longo desse ano. Que as autoridades saibam diferenciar os que são “sal” e “luz” daqueles que procuram o mal.

Sobre nós

A Portas Abertas é uma organização cristã internacional e interdenominacional, fundada pelo Irmão André, em 1955. Hoje, atua em mais de 60 países apoiando cristãos perseguidos por causa da fé em Jesus.

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