Portas Abertas • 2 jan 2025
Após a morte da mãe, o pai de Joo Min se entregou ao alcoolismo, deixando-a responsável por prover para a família, o que era um fardo pesado para ela
Joo Min* nasceu e foi criada na Coreia do Norte. Em sua infância, comida, roupa e casa eram fornecidas pelo governo de Kim Il-sung. Na época, era difícil encontrar comida suficiente, mas a família tentava sobreviver. Na escola, ela aprendeu sobre disciplina e que morava no melhor país do mundo. Ela também conheceu os inimigos de seu país, descobrindo que a Coreia do Sul era um fantoche dos Estados Unidos, o país mais fraco de todos. “Eu aprendi a ficar longe da Bíblia e de missionários, que eram como lobos que fingiam ser ovelhas”, relembra. Seus livros didáticos recontavam histórias de missionários que eram espiões americanos enviados para sequestrar crianças e vendê-las para a escravidão.
Nos anos 1990, iniciou-se a Marcha Árdua na Coreia do Norte, uma chamada à solidariedade que se tornaria uma fome massiva. Estima-se que mais de três milhões de pessoas morreram por falta de comida e suprimentos básicos. Joo Min e sua família lutavam para encontrar comida e a dor da fome se tornou algo diário. As coisas pioraram para Joo Min quando a mãe morreu e o pai começou a beber muito. “Quando eu era jovem, o alcoolismo do meu pai levava à violência. Eu tinha medo constante”, relembra.
Isso piorou quando o pai trouxe a nova namorada e os dois filhos dela para viver com eles. Quando Joo Min percebia sinais de ira gerada pela bebida, tentava sair de casa. Quando não conseguia, era agredida. O pai começou a culpá-la pela falta de comida. O alcoolismo dele não permitia que provesse a quantidade necessária para alimentar sua família. “Durante aqueles anos turbulentos, a falta de comida era uma preocupação cada vez maior. Meu pai disse que eu tinha que prover para nossa família, o que era uma carga pesada sobre meus ombros”, relembra.
Quando as coisas chegaram ao limite, a única opção dela era fugir para um país onde conseguisse algum dinheiro e comida. “Movida pela necessidade, cruzei a fronteira em busca de trabalho”, disse. Foi assim que chegou à margem do rio, esquivando-se da patrulha da fronteira. Quando saiu do outro lado, estava determinada a encontrar provisão para sua família.
Apesar de sair da Coreia do Norte ser ilegal, em tempos de crise alimentar, as autoridades faziam vista grossa a tais passagens. Mas Joo Min poderia ser presa se fosse pega
Se Joo Min fosse pega, seria forçada a voltar, onde enfrentaria prisão. As coisas pioram se a pessoa que fugiu se encontrou com cristãos. Norte-coreanos capturados são questionados diretamente sobre isso e a punição é severa para os que ouviram sobre Jesus. A Portas Abertas tem casas seguras na fronteira com a Coreia do Norte. São lugares de refúgio e apoio onde norte-coreanos têm acesso a itens básicos e podem ouvir o evangelho. Ali é fornecida instrução espiritual e provisão de necessidades básicas. Quando Joo Min cruzou a fronteira, não sabia bem o que fazer. Então encontrou um colaborador de campo da Portas Abertas que disse que poderia ajudar.
Ele a levou a uma casa segura, onde ela recebeu comida e cuidados médicos, além de encontrar outros refugiados norte-coreanos. Depois, conseguiu um trabalho para enviar ajuda à família e continuou indo à casa segura para apoio e comunhão com outros norte-coreanos. “Na casa segura, ouvi o evangelho pela primeira vez”, relembra. No início, ela não estava interessada no cristianismo, pois sabia que, se fosse deportada, enfrentaria consequências severas.
Porém, havia algo de diferente nas pessoas que encontrou na casa segura. Elas não eram sádicas ou como os missionários que leu em seus livros. Eram bondosas, amorosas e ofereceram ajuda sem exigir nada em troca. Lentamente, o coração de Joo Min amoleceu ao aprender sobre Jesus. “Apesar do que aprendi, aceitei a Jesus como meu salvador. Comecei a participar de estudos bíblicos e treinamentos semanalmente”, conta.
Após anos de treinamento e discipulado, Joo Min sentiu um chamado para compartilhar o que aprendeu com outros cristãos na Coreia do Norte
Anos se passaram e Joo Min descobriu que tinha uma ferida aberta. Embora se encontrasse regularmente com cristãos e sua fé tivesse crescido, ela nunca mencionou seu pai ou sobre o que deixou para trás na Coreia do Norte. “Durante um treinamento, finalmente, coloquei tudo para fora. Admiti que não perdoei meu pai. Ao aprender sobre a Bíblia soube que precisava perdoá-lo. Senti um peso sair de meus ombros e desejei orar por ele”, compartilha. A vida de Joo Min mudou novamente. A fé em Jesus tornou-se preciosa para ela e agora estava livre do fardo de ódio que teve em seu coração por tantos anos.
Ela decidiu se batizar e abraçou sua identidade como filha de Deus. Ela também decidiu contar ao pai e à família sobre Jesus. Mas o Senhor tinha outro plano, um que a colocaria em perigo. Após anos de treinamento e discipulado, Joo Min sentiu o Espírito Santo dizer: “Volte para a Coreia do Norte”. “Eu me senti chamada para compartilhar tudo que aprendi com outros cristãos secretos na Coreia do Norte, minha terra natal. Então tomei a decisão de cruzar novamente o rio”, conta.
Joo Min partiu para a fronteira e, dessa vez, sabia que era uma decisão ainda maior do que a primeira. Dessa vez, não era por necessidade, mas por ter a vida transformada ao encontrar a esperança e o amor de Jesus. A cristã agora vive na Coreia do Norte onde atua como líder em uma igreja secreta.
A Portas Abertas estima que há cerca de 400 mil cristãos na Coreia do Norte. Todos arriscam ser presos ou mortos. Joo Min sabe o que pode acontecer se for descoberta. “Se for pega, posso acabar em um campo de trabalho forçado, pagando um preço alto por ser cristã”, disse. Ainda assim, pelo poder do Espírito Santo, continua seu ministério, sabendo que Deus pode oferecer paz e esperança aos norte-coreanos.
*Nome alterado por segurança. A história de Joo Min foi criada a partir de duas histórias reais de cristãos norte-coreanos. Detalhes específicos foram alterados e combinados para proteger as identidades, pois as pessoas reais vivem e ministram na Coreia do Norte.
Apesar da perseguição aos cristãos, nada nem ninguém pode impedir a igreja de crescer. Ajude cristãos norte-coreanos a sobreviverem física e espiritualmente. Com uma doação, você garante casa segura e ajuda emergencial para uma família de refugiados norte-coreanos fugindo da perseguição extrema.
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