Jovens vivem como cristãs secretas no Marrocos

Após se converterem, Nadeen e Fatima "voltaram para o islamismo" por conta da pressão familiar

Portas Abertas • 28 dez 2018


Nadeen continua usando o hijab (véu islâmico) mesmo sendo cristã (foto representativa)

Nadeen continua usando o hijab (véu islâmico) mesmo sendo cristã (foto representativa)

No sul do Marrocos, duas jovens se encontram com frequência em profundo sigilo. As duas estudantes são seguidoras de Jesus, mas suas famílias pensam que voltaram para o islamismo, após as ameaçarem. Encontrar com as duas significa ouvir a história de muitos cristãos marroquinos – pessoas que deixaram o islamismo para seguir a Jesus. Alguns anos atrás, as garotas se converteram. A igreja no Marrocos consiste, principalmente, de cristãos de orgem muçulmana. De acordo com estimativas da Portas Abertas, há cerca de 2 mil cristãos marroquinos no país, que se encontram em igrejas domésticas. Há mais cristãos estrangeiros, que vivem e moram no país e podem se encontrar nas igrejas oficiais, onde cristãos marroquinos não podem ir.


Uma mulher contou às famílias que elas tinham se tornado cristãs. “Minha família ficou muito brava e meu pai me bateu”, disse Nadeen*, de 21 anos. Sua amiga Fatima, de 20 anos, teve a mesma experiência. Sob a pressão da família, Fatima rapidamente ‘voltou ao islamismo’. “Por dentro, eu sou cristã”, ela disse. O mesmo aconteceu com Nadeen. Quando a pressão aumentou, ela decidiu viver como muçulmana novamente, fingindo para sua família e pessoas a sua volta que tinha voltado ao islamismo. Nadeen ainda usa o hijab (véu islâmico), seguindo a interpretação tradicional do islamismo de seus pais. Fatima não usa o véu: “Meus pais não acham necessário usar o hijab”. As duas continuam estudando.


Como as famílias monitoram as garotas de perto, elas não podem ir aos encontros de domingo da igreja doméstica. “Mas, graças a Deus, nós encontramos uma forma de nos encontrarmos com alguns cristãos em outro dia da semana. Nós organizamos isso de uma forma que minha família não suspeite”, disse Nadeen. “É tão bom ter esses momentos juntos”, acrescenta Fatima. Manter esse segredo significa ambas estarem sempre alertas. “Eu tenho tanto medo que meus pais descubram. Meu pai me mataria”, disse Nadeen. E a frase ‘me mataria’ não é só um jeito de falar, mas um perigo real. Por isso ela é supercuidadosa ao se encontrar com cristãos na rua. “Recentemente eu estava conversando com uma senhora que é conhecida como cristã e vi uma parente passando. Eu tentei me esconder atrás da senhora, para não ser vista. Até onde eu sei, ela não me viu ou pelo menos não disse nada para meus pais”. Com o que acabou de dizer, Nadeen descreveu a situação de muitos cristãos marroquinos.


Reação familiar


“Marroquinos são considerados muçulmanos. Não existe reconhecimento de que há cristãos marroquinos e quase todos consideram o país muçulmano. Cristãos são incomodados, ameaçados ou impedidos em suas vidas diárias por questões relacionadas à fé. Como em outros países predominantemente muçulmanos, convertidos são vistos como ‘infiéis’, traidores da religião dos pais. É claro, algumas conversões são aceitas pela família. Em geral, não se fala sobre a conversão, já que é considerada uma vergonha para a família”, disse Collin, um colaborador da Portas Abertas que coordena o trabalho em grande parte do Norte da África. “Mas outras famílias não aceitam a conversão, como as famílias da Nadeen e da Fatima. As famílias delas as ameaçaram, se tornaram violentas e fizeram tudo que podiam para que suas filhas voltassem ao islamismo”, concluiu.


Quando um convertido rejeita voltar para o islamismo, eles podem ser expulsos da família, perdendo tudo. Em geral, seus amigos também os rejeitam, acabando com a amizade. As duas jovens pensaram em sair de casa e se mudar para uma cidade maior para viverem juntas. “Nós realmente achamos que isso poderia funcionar, mas pensando melhor, pareceu ser um plano maluco”. Na cultura marroquina, jovens mulheres solteiras não saem para viver por conta, normalmente uma mulher só deixa a casa da família quando se casa.


Essas mulheres têm uma vida difícil como cristãs secretas, mas essa parece ser a única forma de seguir a Jesus. Graças a Deus, elas estão conectadas a uma pequena igreja doméstica e são discipuladas pelo casal que lidera a igreja. É encorajador saber que, com o seu apoio, nós trabalhamos com as igrejas domésticas no Marrocos e no Norte da África para ajudar mulheres como Nadeen e Fatima.


*Nomes alterados por segurança.

Sobre nós

A Portas Abertas é uma organização cristã internacional e interdenominacional, fundada pelo Irmão André, em 1955. Hoje, atua em mais de 60 países apoiando cristãos perseguidos por causa da fé em Jesus.

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