Portas Abertas • 9 mai 2023
O pastor Jean e sua família tiveram sua casa atacada com um míssil por membros das Forças Democráticas Aliadas na República Democrática do Congo
Em 2019, o pastor Jean (pseudônimo) foi chamado para servir em uma congregação em Beni, na República Democrática do Congo. Embora soubesse dos problemas que os cristãos no Nordeste do país enfrentam, o pastor Jean tinha muitos planos em como servir ao novo rebanho. Em 30 de junho de 2021, tudo teve um fim trágico e abrupto. As Forças Democráticas Aliadas (ADF, da sigla em inglês) atacaram o local onde o pastor Jean atuava. “Era perto das 17h quando chegaram, mas ficaram apenas observando, não atacaram naquele momento. Perto das 23h, ouvimos o primeiro tiro bem perto de nós.”
A casa do pastor Jean ficava no meio do complexo da igreja. De um lado era o prédio da igreja, que ainda estava em construção, e do outro, a escola. De dentro da casa, o pastor Jean ouvia os vizinhos gritando durante o ataque. “Nós oramos: ‘Deus nos ajude’.” A partir daquele momento, os tiros foram incessantes. “Eu olhei e vi muitas pessoas no complexo da igreja. Havia cerca de 500 pessoas.”
O pastor Jean acredita que elas foram em busca dele e de outro líder religioso. “Quando pararam na minha porta, discutiam para saber se eu estava em casa. Eles tentaram abrir a porta, mas não conseguiram.” Do outro lado da porta, o pastor Jean protegia a esposa e os filhos, de dois anos e de seis meses. Um dos homens tentou dissuadir o grupo de entrar na casa, dizendo que seria um desperdício atirar um míssil em uma casa vazia.
“Eu sussurrei: ‘Deus, receba nossas almas agora’, e na mesma oração falei: ‘O Senhor nos disse que lhe serviríamos até o fim de nossos dias, mesmo na velhice. Agora que começamos o ministério, o Senhor já está nos dizendo para ir? As almas que o Senhor planejou salvar por meio de nós realmente estão salvas? O Senhor disse que todas as coisas são possíveis, então, cumpra sua vontade’. Depois disso, lançaram o míssil. Nós ouvimos algo que parecia areia no telhado. Nossos ouvidos zumbiam. Perdemos a consciência por cerca de 45 minutos.”
Perto das 6h, o pastor Jean ouviu vozes, com algumas delas parecendo familiares. Mesmo hesitando, espiou pela cortina. Foi quando viu dois idosos da igreja que foram ver se eles estava bem. Ele e a família foram para fora de casa, com gratidão, mas com dor no coração ao ver a destruição que ocorreu no local. Naquele dia, 15 pessoas morreram e pelo menos seis eram da igreja do pastor Jean. Sete casas e diversas lojas foram destruídas e saqueadas e pelo menos 20 pessoas, principalmente meninas novas, foram dadas como desaparecidas. “É apenas pela graça de Deus que estamos vivos”, disse o jovem pastor.
O pastor e sua família sobreviveram ao incidente sem nenhum ferimento físico. Entretanto, não saíram ilesos. A dor emocional e psicológica é profunda. Enquanto o pastor Jean tentava lidar com o próprio trauma, não se sentia preparado para ministrar à igreja e achava que qualquer tentativa disso os desapontaria. Então ele foi transferido, deixando uma congregação de quase 280 pessoas.
O pastor Jean carrega um grande sentimento de culpa. Ele questiona por que a mesma graça que o salvou não salvou os seis membros de sua igreja que foram mortos. Mas agora Deus está restaurando-o aos poucos, motivo pelo qual é grato a Deus. “Já se passaram quase dois anos e, embora não estejamos totalmente curados, Deus tem nos ajudado”, ele disse.
Em momentos de estresse, ele encontra consolo na palavra de Deus, principalmente quando lê o relato da vida de Jó. “O livro de Jó me dá coragem porque não alcançamos o sofrimento que veio sobre Jó. Todos os filhos dele foram mortos, mas os meus ainda estão aqui. Ele perdeu tudo, mas Deus nos deu fôlego de vida, que é uma riqueza. Somos consolados porque não chegamos nem mesmo a um quarto do sofrimento dele. A Bíblia fala para não termos medo porque Deus está conosco. Essa é minha consolação. Eu sempre digo isso na igreja, mesmo se somos perseguidos, nossas lágrimas serão enxugadas. É por isso que tenho esperança de que um dia tudo acabará e nós veremos a Cristo.” O pastor Jean está convencido de que com o apoio das orações que recebe, o caminho para a cura se completará. “Todas as vezes que oram por nós, essa oração nos fortalece”, conclui.
Cristãos na África Subsaariana são vítimas de diversas formas de violência apenas por seguirem a Jesus, como o pastor Jean, por causa do trauma, muitas vezes deixam casa e cidade. Com uma doação, garanta cuidados pós-trauma e itens de sobrevivência, como comida, roupas, cobertores, fraldas, primeiros socorros e ajuda médica.
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