Portas Abertas • 06 jun 2024
Cristãos nigerianos enfrentam severa perseguição de extremistas entre os fulanis
Entre a etnia fulani existem extremistas islâmicos que atuam sobretudo em vilarejos cristãos na região do Cinturão Médio, na Nigéria. Com frequência, atacam os moradores indiscriminadamente à noite. Mas a questão não é nova – confrontos entre diferentes grupos fulanis, que tradicionalmente são criadores de gado, e agricultores têm matado milhares de pessoas na Nigéria nas últimas décadas.
De acordo com o Índice de Terrorismo Global de 2023, os extremistas entre os fulanis são o 4º grupo mais mortal do mundo. Em duas grandes ondas de violência em 2023, 160 aldeias foram invadidas pelo grupo e mais de 500 cristãos foram mortos. Além disso, duas mil casas e 28 igrejas foram destruídas, levando ao deslocamento interno de 30 mil seguidores de Jesus, que precisaram fugir para salvar sua vida.
Entretanto, é difícil generalizar qualquer coisa relacionada aos fulanis porque, na maioria dos casos, esses extremistas nômades nem mesmo se conhecem e cuidam de suas atividades de forma independente. Não há evidência de que extremistas fulanis possuem uma meta política. Então é impreciso descrevê-los como um grupo militante unificado. Isso torna difícil para as autoridades formularem um plano para acabar com os conflitos.
Acredita-se que os fulanis sejam o maior grupo nômade (que não tem casa fixa) do mundo, encontrado por todo o Oeste e Centro da África – do Senegal à República Centro-Africana. Na Nigéria, alguns continuam a viver como criadores de gado seminômades enquanto outros se mudaram para as cidades. Diferente daqueles que se integraram às cidades, os grupos nômades passam o maior tempo de sua vida migrando no deserto e estão mais envolvidos com os confrontos.
Como precisam de amplas áreas para pastorear seu gado, os extremistas confrontam comunidades com terras agrícolas. Com frequência, eles estão ligados a outras etnias, como os hausas, vivendo juntos por um longo tempo. Alguns se referem a eles como hausas-fulanis, mas são grupos diferentes. Os fulanis tiveram um papel-chave no renascimento do islã na Nigéria, no século 19.
Os fulanis são considerados o maior grupo nômade do mundo e, tradicionalmente, são criadores de gado
Segundo a BBC, desentendimentos sobre o uso de recursos essenciais, como terras agrícolas, áreas de pastagem e água entre fulanis e agricultores locais são tidos como a maior causa dos conflitos. Criadores de gado fulanis viajam centenas de quilômetros em grande número com seus rebanhos a procura de pasto. Eles estão sempre armados como forma de proteger seu gado.
Com frequência, os extremistas confrontam agricultores, que os acusam de danificar suas plantações e não estabelecer limites para o pasto dos animais. Os confrontos costumavam se limitar à região central da Nigéria, principalmente contra cristãos da comunidade agrícola no estado de Plateau. Mas o efeito contínuo da mudança climática nas terras de pastagem levou os nômades fulanis a avançar para o Sul, em busca de pasto e água.
Essa situação expandiu o alcance do conflito, com mais incidentes mortais sendo relatados nas partes do Sudeste do país. Isso aumentou o medo de que a violência ameace a frágil unidade que existe entre os diversos grupos étnicos na Nigéria.
Além dos conflitos com agricultores, há alegações de que os extremistas entre os fulanis estiveram envolvidos em roubos armados, abuso sexual e violência comunitária, especialmente no Centro e Nordeste da Nigéria. Acusações parecidas foram feitas contra eles em Gana e Costa do Marfim. Muito da violência no Centro da Nigéria vem desde os confrontos de 2002 e 2004 em Yelwa, na área de Shendam, estado de Plateau, em que milhares perderam suas vidas. Na época, a polícia anunciou a prisão de diversos militantes fulanis armados com “armas perigosas” fora da capital, Abuja. Associações fulanis negam constantemente qualquer ligação com militantes, dizendo que são culpados por crimes cometidos por outros.
Os criadores de gado fulanis dizem que são atacados e seus rebanhos são roubados por bandidos
Ainda de acordo com a BBC, a natureza mortal da violência tem feito muitas pessoas se questionarem sobre a fonte das armas usadas para realizar os ataques. De acordo com um antigo comissário da polícia federal, Abubakar Tsav, as armas mais usadas nesses tipos de conflitos são metralhadoras AK47. Disse ainda que conflitos na Líbia e Mali têm aumentado a proliferação de armas no país porque as fronteiras permeáveis da Nigéria são incontroláveis. Outra teoria é que os extremistas entre os fulanis conseguem armas do mercado negro, por todo o Oeste e Centro da África.
O conflito custou à Nigéria, maior economia da África, mais de 14 bilhões de dólares entre 2012 e 2015, de acordo com a organização humanitária Mercy Corps. Isso impediu “o desenvolvimento do mercado e crescimento econômico ao destruir recursos produtivos, impedindo comércio, dissuadindo investimentos e desgastando a confiança entre os que atuam nos mercados”, informou em um dos relatórios.
O aumento da atuação violenta dos extremistas entre os fulanis também representa um desafio para a segurança de uma nação já desgastada pelo grupo Boko Haram, no Nordeste do país. Diferente da crise do Boko Haram, que está concentrada a uma fração do país, o conflito com os extremistas entre os fulanis ocorre em quase todas as partes das nações mais populosas da África. A Organização das Nações Unidas (ONU) disse estar preocupada pela “completa impunidade desfrutada por responsáveis por ataques anteriores” e pediu ao governo que fizesse mais para proteger os cidadãos.
Relatos na mídia local dizem que o governo está trabalhando em uma lei para estabelecer áreas de pastagem por todo o país, como forma de acabar com a tensão entre os grupos agrícolas e agropecuaristas rivais. Porém, o movimento se mostra impopular entre muitos, especialmente no Sul. “Os criadores de gado fulanis estão comandando um negócio com seus rebanhos, por que nós deveríamos desistir de nossas terras pelos interesses deles?”, um agricultor disse no X (antigo Twitter).
Os cristãos são alvos de ataques violentos dos extremistas entre os fulanis. Comunidades cristãs são invadidas, bens e terras são incendiados e pessoas são mortas. Como resultado desses incidentes, milhares de cristãos foram forçados a se deslocar e agora vivem em barracas improvisadas, sem produtos de higiene, alimentação e água potável.
A Portas Abertas está envolvida com os cristãos africanos há muitos anos. Uma das áreas de atuação é capacitar igrejas para que estejam prontas a socorrer e discipular cristãos em circunstâncias muito difíceis. Outra forma é oferecer cuidados pós-trauma para os cristãos atacados e capacitar com treinamento para que resistam à perseguição e continuem a ser discípulos de Jesus em suas comunidades.
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