O que é o grupo extremista Boko Haram?

Desde 2002, o grupo mantém a iniciativa de estabelecer um Estado totalmente islâmico por meio de ataques violentos

Portas Abertas • 14 mai 2024


Cristão sobrevivente posa diante das ruínas da casa destruída pelo Boko Haram

Cristão sobrevivente posa diante das ruínas da casa destruída pelo Boko Haram

A opressão islâmica tem se tornado o tipo de perseguição mais dominante na Nigéria, especialmente após a intensificação da violência instigada pelo grupo militante islâmico Boko Haram. O grupo tem, nos últimos anos, realizado uma campanha sistemática contra o Estado nigeriano, alvejando especificamente cristãos com ideologias, retóricas e ações com a intenção de estabelecer um Estado islâmico.

Desde 2002, o grupo Boko Haram atua na Nigéria, apesar dos oficiais nigerianos repetidamente alegar vitória sobre o grupo. A insegurança é continua e, de acordo com relatório publicado, mais de sete milhões de pessoas continuam dependendo de ajuda alimentar. O pior é que o trauma não permaneceu apenas dentro das fronteiras da Nigéria. Chade, Níger e Camarões compartilham as atrocidades do grupo. Hoje, cerca de 50% dos ataques do Boko Haram ocorrem nesses países.

De acordo com o escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA, da sigla em inglês), aproximadamente dez milhões de pessoas, ou metade da população atingida pelo conflito na região precisa de ajuda humanitária enquanto o conflito se arrasta. Cerca de 2,5 milhões de pessoas estão desabrigadas apenas nessa área. Os níveis de fome e desnutrição também permanecem altos.

O que é o Boko Haram?

Segundo a BBC, o grupo militante islâmico Boko Haram tem causado estragos na Nigéria, país mais populoso da África, por meio de uma onda de bombardeios, assassinatos e sequestros. Além disso, luta para derrubar o governo e criar um Estado islâmico. O Boko Haram promove uma versão do islamismo que torna proibido para muçulmanos tomar parte em qualquer atividade política ou social associada com o Ocidente. Isso inclui votar em eleições, receber educação secular ou restringir vestuário.


O grupo Boko Haram deixa um rastro de destruição por onde passa

O Boko Haram considera o Estado nigeriano controlado por descrentes – independentemente do presidente ser muçulmano ou não – e tem estendido sua campanha militar alvejando países vizinhos. O nome oficial do grupo é Jamaatu Ahlis Sunna Liddaawati wal-Jihad, que em árabe significa “Pessoas Comprometidas em Propagar os Ensinamentos do Profeta e a Jihad”. Porém, moradores da cidade nigeriana de Maiduguri, onde o grupo tem sua sede, o apelidaram de Boko Haram, que traduzido de forma livre significa: “a educação do Ocidente é proibida”.

Desde que partes do que agora é o Nordeste da Nigéria, Níger e Sudeste de Camarões, estiveram sob controle britânico, em 1903, houve resistência entre alguns muçulmanos da área quanto à educação ocidental. Muitos recusavam enviar os filhos para as “escolas ocidentais”, dirigidas pelo governo. Contra esse cenário, o clérigo muçulmano, Mohammed Yusuf, formou o Boko Haram em Maiduguri, em 2002. Ele criou um complexo religioso, que inclui uma mesquita e uma escola islâmica.

Muitas famílias muçulmanas pobres de toda a Nigéria e de países vizinhos matricularam seus filhos na escola. Mas o grupo não estava apenas interessado na educação. Sua meta política era criar um Estado islâmico e tornar a escola um campo de recrutamento para jihadistas, militantes da guerra islâmica.

Ataques do grupo Boko Haram

Em 2009, o Boko Haram realizou uma série de ataques a delegacias de polícia e outros prédios governamentais em Maiduguri, capital do estado de Borno. Centenas de apoiadores do grupo foram mortos e milhares de moradores fugiram da cidade. As forças de segurança da Nigéria finalmente confiscaram a sede do grupo, capturando seus combatentes e mataram o então líder Yusuf. O corpo foi mostrado na televisão estatal e as forças de segurança declararam o Boko Haram acabado.

Mas seus combatentes se reagruparam sob o comando de um novo líder, Abubakar Shekau, e intensificaram sua revolta. Em 2013, os Estados Unidos designaram o grupo como organização terrorista, com medo de que os militantes nigerianos tivessem desenvolvido ligações com outros grupos, como a Al-Qaeda, para promover uma jihad global.


Ainda de acordo com a BBC, a marca oficial do Boko Haram originalmente eram atiradores em motocicletas, matando policiais, políticos e qualquer um que os criticasse, incluindo clérigos de outras tradições muçulmanas e pregadores cristãos. O grupo, então, começou a realizar ataques mais audaciosos, incluindo bombardeio a igrejas, ônibus, bares, quartéis militares e até mesmo polícia e escritório da Organização das Nações Unidas (ONU) na capital, Abuja. Em meio à crescente preocupação sobre o aumento da violência, o governo declarou estado de emergência em maio de 2013 nos três estados onde o Boko Haram era mais forte: Borno, Yobe e Adamawa.

Enfraquecimento do Boko Haram

A implantação de tropas e a formação de grupos de vigilantes levou muitos militantes para fora de Maiduguri, recuando para a floresta de Sambisa, para o Sul e para as Montanhas Mandara, próximas à fronteira com Camarões. De lá, os combatentes lançaram ataques em massa a vilas e cidades, saqueando, matando, sequestrando mulheres e crianças e recrutando homens e garotos para seu exército.

Em abril de 2014, o Boko Haram sequestrou mais de 200 alunas na cidade de Chibok, no estado de Borno, dizendo que as trataria como escravas e os militantes se casariam com elas – em referência a uma crença islâmica ancestral na qual mulheres capturadas em conflito são consideradas espólio, ou seja, bens tomados do inimigo em uma guerra. O grupo também mudou sua tática, mantendo-se no território em vez de se retirar após um ataque.

Grupo de sobreviventes do Boko Haram

Em agosto do mesmo ano, o novo líder, Shekau, declarou um califado nas áreas sob controle do Boko Haram, com a cidade de Gwoza como sede do seu poder. “Nós estamos em um califado islâmico. Não temos nada a ver com a Nigéria, não acreditamos no governo desse país”, disse Shekau, cercado por combatentes mascarados e com armas. Depois, o líder prometeu formalmente lealdade ao grupo Estado Islâmico, virando as costas para a Al-Qaeda. O Estado Islâmico aceitou sua lealdade, nomeando o território sob o controle do Boko Haram como Estado Islâmico da Província da África Ocidental, uma parte do califado global que tentava estabelecer.

Mas, em março de 2015, o Boko Haram perdeu todas as cidades que estavam sob seu controle após uma coalizão regional – formada por tropas de Nigéria, Camarões, Chade e Níger – ser formada para combatê-lo. Novamente, o Boko Haram recuou para a floresta Sambisa, onde militares nigerianos os perseguiram, livrando centenas de cativos.

Troca de poder no Boko Haram

Conforme artigo da BBC, em agosto de 2016, o grupo aparentemente se dividiu, com um vídeo do Estado Islâmico anunciando que Shekau fora substituído por Abu Musab al-Barnawi. Shekau contestou, insistindo que continuava no comando. Em meio a tudo isso, 21 das meninas de Chibok, vistas como bens preciosos para Shekau, foram libertas em outubro do mesmo ano, após conversas envolvendo militantes, os governos nigeriano e suíço, e o Comitê Internacional da Cruz Vermelha. Apesar disso, a Anistia Internacional afirma que cerca de duas mil crianças permanecem cativas e muitas outras precisam ser libertas.

Por causa da violência, famílias inteiras vivem em campos de deslocados internos

Enquanto muitos combatentes são mortos e armas são confiscadas, alguns analistas dizem que é muito cedo para descartar o Boko Haram. O grupo tem sobrevivido mais que outros militantes no país e tem construído uma presença em estados vizinhos, onde realiza ataques e recruta combatentes.

Oficiais da Agência Central de Inteligência (CIA) dos Estados Unidos estimam que ele tem cerca de nove mil homens e células especializadas em bombardeios. Devido a ataques a bases militares e bancos, tem ganhado controle de grandes quantidades de armas e dinheiro. Por isso, as chances de ser derrotado em breve – apesar do presidente Buhari alegar que foi “tecnicamente derrotado” – são pequenas, já que a pobreza crônica da região e o fraco sistema educacional o ajuda a ganhar novos recrutas.

De acordo com a agência de notícias Reuters, Abubakar Shekau morreu em maio de 2021. O líder do Boko Haram detonou um dispositivo explosivo quando foi perseguido por soldados do grupo Estado Islâmico da Província da África Ocidental (ISWAP). De acordo com os rivais, os líderes do Estado Islâmico queriam retirar Shekau da liderança e até o convidaram a participar do ISWAP, mas o jihadista considerou isso uma humilhação e se matou. 

A Nigéria tem sido assolada por ataques do Boko Haram e é inegável o fator religioso dos conflitos, que já causaram a morte e o deslocamento de milhares de cristãos. Apenas durante o período de pesquisa da Lista Mundial da Perseguição 2024 (1 de outubro de 2022 a 31 de setembro de 2023), em que o país ocupa a 6º posição, 4.118 cristãos foram mortos por causa da fé. Com isso, muitos cristãos perdem seus entes queridos e bens como casa e propriedade, ao fugirem dos ataques. Eles acabam por fugir para acampamementos com barracas improvisadas e sem alimentação, água potável e saneamento básico. 

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A Portas Abertas é uma organização cristã internacional e interdenominacional, fundada pelo Irmão André, em 1955. Hoje, atua em mais de 60 países apoiando cristãos perseguidos por causa da fé em Jesus.

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