Portas Abertas • 06 jun 2020
Cristã refugiada que precisou fugir de sua casa no Iraque após a violência causada por combatentes do Estado Islâmico
O grupo jihadista Estado Islâmico (EI) surgiu no cenário internacional em 2014, quando tomou várias áreas de território na Síria e Iraque. Ele se tornou notório por sua brutalidade, que inclui mortes em massa, sequestros e decapitações. Embora o grupo tenha apoio em outras partes do mundo muçulmano, uma coalizão, liderada pelos Estados Unidos, se comprometeu a destruí-lo.
De acordo com artigo da BBC, em junho de 2014, o grupo declarou formalmente o estabelecimento de um califado – um estado governado de acordo com a lei islâmica, sharia, por um representante de deus na terra, ou seja, o califa. Isso exige que muçulmanos de todo o mundo jurem fidelidade ao seu líder, até então Ibrahim Awad Ibrahim al-Badri al-Samarrai, mais conhecido como Abu Bakr al-Baghdadi, e migrem para territórios sob seu controle.
O EI também disse a outros grupos jihadistas que deveriam aceitar sua autoridade suprema. O grupo busca erradicar obstáculos para restaurar a lei de deus na Terra e defender a comunidade muçulmana mundial contra infiéis e apóstatas. O grupo optou por um confronto direto com a coalizão liderada pelos Estados Unidos, vendo isso como o prenúncio de um confronto dos finais dos tempos entre muçulmanos e seus inimigos, descrito no islamismo como profecias apocalípticas.
Em 2019, o então líder do grupo extremista se matou durante uma operação militar dos Estados Unidos no Noroeste da Síria, próximo à fronteira com a Turquia. Enquanto era perseguido por cães do exército norte-americano em um túnel no vilarejo de Barisha, em Idlib, Abu Bakr al-Baghdadi detonou seu colete suicida, como anunciou o então presidente norte-americano, Donald Trump.
O sucessor, Abu Ibrahim al-Hashimi al-Quraishi, também foi morto, na madrugada do dia 3 de fevereiro de 2022, durante ação das Forças Especiais dos Estados Unidos na Síria. O líder jihadista ao ser cercado por soldados das Forças Especiais detonou os explosivos que tinha consigo. O andar do prédio onde estava foi destruído. O atual presidente norte-americano, Joe Biden, disse em discurso que o líder do EI “foi retirado do campo de batalha” e que o “ato foi de covardia desesperada”.
Em 2004, um ano após a invasão americana no Iraque, Abu Musab al-Zarqawi, um jordaniano, prometeu aliar-se a Osama Bin Laden e formar a Al-Qaeda no Iraque (AQI), que se tornaria uma grande força de insurgência. Após a morte de Zarqawi, em 2006, a AQI criou uma organização central, o Estado Islâmico no Iraque (ISI, da sigla em inglês). Porém, o ISI foi enfraquecendo continuamente por conta do aumento repentino das tropas americanas e a criação da Sahwa, um conselho de indígenas árabes sunitas que rejeitavam sua brutalidade.
Vista de Bagdá, capital do Iraque, país onde o Estado Islâmico teve início
O antigo líder do grupo, Baghdadi, que já tinha sido detido pelos Estados Unidos, assumiu essa posição em 2010 e começou a reconstruir as capacidades do ISI. Em 2013, o grupo realizou novamente dezenas de ataques, em um mês, no Iraque. O grupo também se uniu a rebeldes que lutavam contra o presidente Bashar al-Assad, na Síria, estabelecendo então a Frente Al-Nusra. Em abril do mesmo ano, Baghdadi anunciou uma junção de forças no Iraque e Síria, criando o “Estado Islâmico do Iraque e do Levante” (ISIS, da sigla em inglês). Os líderes da Al-Nusra e da Al-Qaeda rejeitaram o movimento, mas combatentes leais a Baghdadi se separaram da Al-Nusra e ajudaram o ISIS a permanecer na Síria.
No fim de dezembro de 2013, o ISIS mudou seu foco de volta ao Iraque e explorou um impasse político entre o governo xiita e a comunidade minoritária sunita. Auxiliado por tribais e antigos seguidores de Saddam Hussein, o ISIS tomou o controle da cidade central de Faluja. Em junho de 2014, o ISIS invadiu o Nordeste da cidade de Mossul e avançou para o Sul, em direção a Bagdá, massacrando adversários e ameaçando erradicar minorias étnicas e religiosas do país. No final do mesmo mês, após consolidar seu domínio sobre dezenas de cidades, o ISIS declarou a criação de um califado e mudou seu nome para Estado Islâmico.
Segundo a rede de notícias BBC, em setembro de 2014, o então diretor do Centro Nacional de Contraterrorismo dos Estados Unidos (NCTC, da sigla em inglês), Matthew Olsen, disse que o EI controlava boa parte da bacia do rio Tigre-Eufrates – uma área similar ao tamanho do Reino Unido ou cerca de 210 mil km².
Um ano depois, o Departamento de Defesa dos Estados Unidos declarou que as linhas de frente, em parte do Nordeste e Centro do Iraque e Nordeste da Síria, tinham diminuído significativamente por conta das operações de solo e ataques aéreos da coalizão liderada pelos americanos. O Estado Islâmico não pode mais operar livremente em aproximadamente 20 a 25% das áreas habitadas no Iraque e Síria.
Situação de algumas casas e ruas em Bartella, no Iraque, totalmente danificadas ou destruídas por causa dos combates com o Estado Islâmico
O Departamento de Defesa estima que o grupo radical perdeu cerca de 15 a 20 mil km² de território no Iraque, ou seja, cerca de 30 a 37% do que controlava em agosto de 2014, e de 2 a 4 mil km² na Síria, o que corresponde a cerca de 5 a 10%. Apesar disso, o grupo conquistou novos territórios de valor estratégico no mesmo período, incluindo a cidade de Ramadi, na província de Ambar, no Iraque, e Palmira, na província de Homs, na Síria.
Analistas também notaram que os números americanos não refletem necessariamente a situação na região. Na realidade, militantes do Estado Islâmico exercem controle completo apenas sobre uma pequena parte do território, que inclui cidades, rodovias principais e instalações militares. Eles usufruem de liberdade de movimento nas grandes áreas inabitadas, o que o Instituto para o Estudo da Guerra chama de “zonas de controle”.
Também não é inteiramente claro como as pessoas vivem sob controle total ou parcial do grupo extremista na Síria e Iraque. Dentro dessas áreas, mulheres são forçadas a se cobrir totalmente, as decapitações públicas são comuns e os não muçulmanos são forçados a escolher entre pagar uma taxa especial, se converter ou morrer.
Em fevereiro de 2015, o Diretor de Inteligência Nacional americano, James Clapper, disse que o EI reunia “algo em torno de 20 a 32 mil combatentes” no Iraque e Síria. Mas observou que há “atrito substancial” em suas hierarquias desde que os ataques aéreos liderados pelos norte-americanos começaram, em agosto de 2014. Em junho de 2015, o então vice-secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, disse que mais de 10 mil combatentes foram mortos.
Para ajudar a reduzir a perda de homens, o Estado Islâmico passou a recrutar em algumas áreas. O historiador iraquiano, Hisham al-Hashimi, acredita que apenas 30% dos combatentes do grupo são “idealistas”, o restante se une ao grupo por medo ou coerção. Um número significativo de combatentes do grupo islâmico não são iraquianos nem sírios. Em outubro de 2015, o então diretor do Centro Nacional de Contraterrorismo, Nicholas Rasmussen, disse ao Congresso dos Estados Unidos que o grupo atraiu mais de 28 mil combatentes estrangeiros. Desses, há pelo menos 5 mil ocidentais, sendo que aproximadamente 250 deles são americanos.
Estudos do Centro Internacional para Estudo da Radicalização e Violência Política (ICSR, da sigla em inglês), com base em Londres, e do Grupo Soufan, com base em Nova York, sugerem que, enquanto cerca de um quarto dos combatentes estrangeiros são do Ocidente, a maioria é de países árabes próximos, como Tunísia, Arábia Saudita, Jordânia e Marrocos.
Ainda segundo a BBC, no final de 2015, o EI começou a reivindicar ataques fora de seu território. Um afiliado egípcio, o grupo Província do Sinai, disse ter derrubado um avião comercial russo na Península do Sinai, matando 228 pessoas a bordo. Eles não deram detalhes, mas Reino Unido e Estados Unidos disseram ser provável que uma bomba causou a queda – podendo estar ou não ligada ao Estado Islâmico.
O grupo radical também reivindicou duas explosões na capital libanesa, Beirute, que mataram ao menos 41 pessoas. Em 13 de novembro do mesmo ano, pelo menos 128 pessoas foram mortas em uma onda de ataques ao redor de Paris. O Estado Islâmico disse estar por trás da violência.
Os combatentes do grupo extremista têm acesso, e são capazes de usar, uma ampla variedade de armas leves e pesadas, incluindo caminhões com metralhadoras montadas, lançadores de mísseis, armas antiaéreas e sistemas de mísseis portáteis. Eles também capturaram tanques e veículos blindados dos exércitos sírio e iraquiano. Entre os veículos do exército iraquiano estão utilitários militares blindados e caminhões à prova de bomba, originalmente produzidos para o exército norte-americano. Alguns estão cheios de explosivos e são usados para efeito devastador em ataques suicidas.
O Curdistão iraquiano foi uma das áreas tomadas pelo grupo Estado Islâmico
Acredita-se que o grupo possua uma cadeia de abastecimento flexível que garante um constante abastecimento de munição e armas leves para seus combatentes. Seu poder de fogo considerável os ajudou a invadir posições do exército curdo, no Nordeste do Iraque, em agosto de 2014, e do exército iraquiano em Ramadi, em maio de 2015.
Acredita-se que o grupo militante é o mais rico do mundo. Inicialmente, recebia recursos de grandes doadores e caridades islâmicas do Oriente Médio, interessados em destituir o presidente al-Assad, da Síria. Apesar do dinheiro continuar sendo usado para financiar viagens de combatentes estrangeiros para a Síria e Iraque, o grupo agora se autofinancia.
O Tesouro americano estima que em 2014, o EI pode ter conquistado milhares de dólares por semana, chegando a 100 milhões de dólares no total, da venda de petróleo e produtos refinados para intermediários locais, que por sua vez contrabandeiam para a Turquia e Irã ou vendem para o governo sírio. Mas, ataques aéreos da coalizão liderada pelos Estados Unidos a estruturas relacionadas ao petróleo foram considerados responsáveis pela diminuição de tal rendimento.
Sequestros também geraram ao menos 20 milhões de dólares em pagamentos de resgate em 2014. Além disso, o Estado Islâmico arrecada milhões de dólares por mês por meio da exportação de pessoas que vivem em áreas sob seu controle total ou parcial, de acordo com o Tesouro norte-americano. Acredita-se que o grupo também arrecade milhões de dólares por mês roubando, saqueando e extorquindo. Pagamentos ainda são obtidos daqueles que transitam, conduzem negócios ou simplesmente vivem em território do grupo extremista.
Minorias religiosas são forçadas a pagar taxas especiais. O Estado Islâmico também lucra com assaltos a banco, venda de antiguidades, roubos e controle da venda de gado e produtos agrícolas. Já meninas e mulheres sequestradas são vendidas como escravas sexuais.
Membros do EI são jihadistas que aderiram a uma interpretação extrema do islamismo sunita e se consideram os únicos e verdadeiros fiéis. Eles acreditam que o resto do mundo é feito de infiéis que buscam destruir o islamismo, o que justifica os ataques contra outros muçulmanos e não muçulmanos. Decapitações, crucificações e tiroteios em massa têm sido usados para aterrorizar seus inimigos. Membros do grupo islâmico justificam tais atrocidades citando o Alcorão e o Hádice, um conjunto de leis, lendas e histórias sobre a vida de Maomé.
O Estado Islâmico é conhecido por ter como alvo minorias religiosas, sendo responsável por sequestros e mortes. Apesar do grupo ter perdido território no Iraque, a ideologia do EI continua viva e não limitada a um espaço geográfico. Em um esforço para provar que continua relevante, o grupo extremista continua executando e inspirando ataques no Ocidente e Oriente Médio. Enquanto isso, milhares de militantes fugitivos “desapareceram” em meio à população civil da Planície do Nínive, o que aumenta o sentimento de insegurança para minorias religiosas, como os cristãos.
Meghrik (pseudônimo) é um cristão sírio de Alepo que foi sequestrado pelo Estado Islâmico
Muitos líderes de igrejas dizem que viver sob o terror do Estado Islâmico e ser expulso de suas casas foi a pior perseguição que a igreja na região já experimentou. A derrota do grupo radical deve trazer uma melhora na situação dos cristãos no Iraque. O risco é que como agora o grupo é considerado derrotado no país, a perseguição aos cristãos será ignorada ou classificada como questão secundária. Manter a fé em Cristo quando tudo foi destruído ao redor só pode ser uma ação do Espírito Santo nos corações. Isso só acontece porque crianças e adultos têm acesso às palavras de vida eterna contidas na Bíblia. Contribuir para a distribuição das Escrituras e literatura cristã é capacitar irmãos e irmãs na fé a cumprirem a missão de reconstruir o Iraque com os valores do Reino de Deus. Sua doação permite que cristãos iraquianos tenham acesso a Bíblias e livros cristãos.
Na Síria, autoridades governamentais restringem as atividades de cristãos evangélicos para prevenir que haja instabilidade. Eles são, muitas vezes, interrogados e monitorados. Discursos de ódio contra cristãos por líderes islâmicos ocorrem, mas não são permitidos em áreas controladas pelo governo. Cristãos na Síria precisam de esperança e propósito para permanecerem no país. Com sua ajuda, queremos transformar igrejas locais em Centros de Esperança. Neles, os cristãos são beneficiados por diversos projetos que transformam diretamente suas vidas. Entre eles, assistência médica e distribuição de remédios e alimentos. Sua doação proporciona assistência médica, remédios e alimentos a um cristão atendido nos Centros de Esperança da Síria.
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