Portas Abertas • 27 dez 2024
Além do trauma do sequestro, as mulheres enfrentam preconceito e discriminação da família e da comunidade (foto representativa)
O sequestro é uma arma utilizada para perseguir cristãos no mundo. De acordo com os dados da Lista Mundial da Perseguição 2024, 3.906 cristãos foram sequestrados no mundo por motivos religiosos, 84,5% dos casos aconteceram na Nigéria. No entanto, essa tática costuma ser muito utilizada por grupos armados e de extremistas islâmicos em toda África Subsaariana.
Enquanto os radicais matam os homens, as mulheres são levadas repentinamente e mantidas presas contra sua vontade. Nesses locais, as cativas são pressionadas a renunciar à fé em Jesus, recitar orações islâmicas, memorizar o Alcorão, cozinhar, servir os captores e participar de execuções. Além de serem alvos de agressões físicas, psicológicas e sexuais e casamento forçado.
Esther (pseudônimo) lembra do corpo do pai no chão quando o Boko Haram atacou sua aldeia em Gwoza, no estado de Borno, Nigéria. Ela era adolescente e permaneceu três anos como refém até ser liberta por militares nigerianos.
Quando a cristã e outras mulheres foram levadas pelos extremistas, elas foram colocadas em fila e divididas entre os homens para serem suas esposas. As que se recusavam, eram vendidas como escravas. “Eu não queria casar e achei que seria melhor ser escrava. Então me colocaram em um carro e me levaram à casa de um dos líderes do grupo para trabalhar para ele, suas quatro esposas e seus filhos. Eu lavava as roupas e a louça, cozinhava, fazia tudo”, testemunha Esther.
Mas, por causa do ciúme das esposas do seu “dono”, Esther foi obrigada a se casar com outro líder, que já tinha três mulheres. Ela foi abusada sexualmente diversas vezes e chegou a questionar a fé por causa de tanto sofrimento. “A cada dia que passava, eu me odiava mais e mais. Eu sentia que Deus tinha me abandonado e estava brava com Deus, mas não conseguia negá-lo. Então começava a lembrar de suas promessas de nunca me deixar.”
Em 2015, o “marido” de Esther resolveu mudar de grupo extremista e levou as quatro mulheres para Camarões. Mas ele morreu em combate e todas fugiram juntas para a floresta. A cristã estava grávida de sete meses quando foi encontrada por oficiais do exército.
Após a libertação, a situação continuava difícil, pois as mulheres eram tratadas como apoiadoras dos terroristas e não vítimas. Esther ficou doente e foi enviada para um quartel, onde recebeu ajuda de um médico cristão e reencontrou sua família.
Quando retornou para a vila, Esther e sua filha Rebecca foram menosprezadas pela comunidade. Mas encontraram apoio na igreja local. A cristã recebeu cuidados pós-trauma de parceiros locais da Portas Abertas. Ela passou um tempo no Centro Shalom e iniciou seu processo de cura emocional e espiritual. “Depois de ouvir minha história, vocês não me desprezaram, mas me encorajaram e me mostraram o amor de Deus por mim e minha filha. Por causa de vocês, eu sei que a mão de Deus está na minha vida”, celebra.
Esther ainda agradece: “Se eu não tivesse participado, acho que teria sérios problemas de saúde. Não tenho palavras para agradecer. Quero que todos saibam que as mulheres daqui precisam de aconselhamento pós-trauma. E os que têm recursos podem ajudar para que muitas outras mulheres sejam ajudadas”.
Cristãs que foram raptadas, como Esther, precisam de cura física, emocional e espiritual. Esse apoio permite que elas recomecem suas vidas e tenham esperança de um futuro cheio de esperança. Doe e permita que cristãs sequestradas recebam cuidados pós-trauma na Nigéria.
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