Portas Abertas • 05 jul 2020
Os protestos populares na Argélia se estendem desde fevereiro de 2019. Há dois anos, país também passa por uma onda de fechamento de igrejas
No dia 5 de julho comemora-se a independência da Argélia, obtida em 1962, após 132 anos de colonização. No entanto, foi somente em 1991 que a Argélia realizou eleições multipartidárias e, quando os partidos islâmicos venceram, o exército suspendeu o resultado, e estabeleceu-se uma intensa guerra civil. Esse conflito só diminuiu em 1999, quando Abdelaziz Bouteflika assumiu a presidência no país.
Após 20 anos no poder, o presidente Bouteflika renunciou em abril de 2019. Depois de meses de protestos populares pacíficos, ele foi substituído pelo presidente interino Abdelkader Bensalah. Novas eleições foram realizadas em dezembro de 2019 e, no dia 13, Abdelmadjid Tebboune, ex-primeiro ministro de Abdelaziz Bouteflika, foi anunciado vencedor das eleições. Horas depois de anunciado o resultado, multidões foram às ruas da capital, Argel, para dar continuidade aos protestos iniciados em 22 de fevereiro de 2019, pedindo uma renovação política no país.
Em 2019, a minoria cristã da Argélia foi às ruas por seu direito de liberdade de religião
A Argélia, assim como todo o Norte da África, era parte do Império Turco Otomano, até ser conquistada pela França, em 1830. A independência da Argélia foi alcançada mais de cem anos depois, em 1962, após uma violenta guerra de oito anos liderada pela Frente de Libertação Nacional (FLN). O conflito ficou conhecido como "Guerra de Libertação Nacional", e foi de 1954 a 1962, matando milhares de europeus e argelinos.
Em 1961, a França iniciou as negociações com a FLN, depois de libertar os líderes da Frente das prisões. Em 1º de julho de 1962, foi realizado um plebiscito no qual seis milhões de argelinos votaram a favor da independência e apenas 16 mil foram contrários a ela. Em seguida, os políticos argelinos assumiram o poder em Argel e a maioria dos europeus deixou o país.
Nessa época, outros países do Norte da África já tinham obtido independência da França, como Marrocos e Tunísia, que se tornaram independentes em 1956. A Guerra da Argélia fez parte do intenso movimento de descolonização que atingiu os impérios ocidentais após a Segunda Guerra Mundial.
No dia 3 de julho de 2020, a França devolveu à Argélia os restos mortais de 24 combatentes argelinos mortos entre 1838 e 1865, em batalhas contra a colonização francesa no norte da África. Segundo a agência France 24, os corpos foram sepultados na comemoração do país aos 58 anos de independência. O retorno faz parte de uma tentativa de reaproximação entre França e Argélia.
Quando os corpos chegaram à capital Argel, o presidente Tebboune se inclinou em reverência a cada um dos 24 combatentes. Desde a independência, a Frente de Libertação Nacional está no poder. A Frente proibiu a criação de outros partidos políticos e se declarou como o único partido legal no país.
O cristianismo chegou à Argélia no século 2. A igreja cresceu rapidamente e muitos romanos e bérberes se tornaram cristãos, apesar dos períodos de perseguição severa. Agostinho, um dos pais da igreja, nasceu onde hoje é a Argélia, e exerceu grande influência sobre a igreja em seu próprio tempo e até hoje. A forte presença cristã cedeu ao islã após a invasão árabe no século 8.
Quando a França conquistou a Argélia, em 1830, houve uma renovação da influência cristã na Argélia, já que 100 mil cidadãos franceses se estabeleceram no país. Missionários católicos e, em menor quantidade, protestantes, estabeleceram igrejas. A maioria veio expatriada da França, mas também da Grã-Bretanha e outros lugares. Tudo isso foi revertido quando os colonos foram forçados a sair do país em 1962, após a independência da Argélia.
Hoje, a Argélia é um país 98,2% muçulmano sunita e somente 0,3% da população é cristã. Segundo a Constituição, o islã é a religião oficial do país, que tem 43,9 milhões de habitantes. Nenhuma ação é planejada para o exercício da liberdade religiosa, apesar da criação de instituições destinadas a proteger liberdades fundamentais dos cidadãos. A lei limita, e às vezes proíbe, a prática de outras religiões além do islã.
Mulheres cristãs protestam contra o fechamento de igrejas na Argélia
O relatório anual 2020 da Comissão Americana de Liberdade Religiosa Internacional (USCIRF, da sigla em inglês) divulgou em abril de 2020 que, pela primeira vez, a Argélia estava oficialmente no radar da USCIRF. A comissão colocou a Argélia em sua "Lista de Observação Especial". Os 15 países dessa lista, no julgamento da comissão, "praticaram ou toleraram violações graves" do direito à religião ou crença em 2019.
As condições nesses países não correspondem exatamente às "violações sistemáticas, contínuas e flagrantes da liberdade religiosa” que caracterizam os 14 “países de particular preocupação", que a comissão considera os piores em termos de violações à liberdade de religião. Ainda assim, a nova inserção da Argélia na Lista de Observação Especial coloca-a ao lado de Afeganistão, Cuba, Cazaquistão e outros países onde os cristãos enfrentam forte pressão por causa da fé.
O governo da Argélia aumentou a pressão sobre as minorias religiosas em 2019, disse a comissão dos EUA em seu relatório: "O governo reprimiu sistematicamente a comunidade evangélica protestante, em particular por meio de uma série de incursões e fechamentos de igrejas".
Como esta, muitas igrejas foram fechadas na Argélia entre janeiro de 2018 e janeiro de 2020
A Argélia estar na Lista de Observação Especial significa que a comissão, que é um órgão consultivo do presidente, quer que o Departamento de Estado dos EUA questione diretamente o governo da Argélia sobre suas regras para o registro de comunidades religiosas minoritárias e comece a condicionar o intercâmbio cultural entre religiões.
Se o Departamento de Estado dos EUA designar a Argélia como um país de particular interesse, Washington seria obrigado pela lei dos EUA a impor sanções econômicas caso os esforços diplomáticos para melhorar as condições falhem. A Argélia ocupa a 22ª posição na Lista Mundial da Perseguição 2022, duas posições acima da Lista do ano anterior, o que revela que a perseguição aos cristãos no país aumentou ainda mais no último ano. Ore pela Argélia, para que haja paz no coração da população, justiça e liberdade que só podem ser encontradas em Jesus.
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