A perseguição mais severa é reservada para os cristãos de origem muçulmana, hindu, budista ou tribal. Esses cristãos podem enfrentar restrições, discriminação e até ataques. As reuniões com outros cristãos geralmente são feitas em segredo.
As igrejas protestantes que estão engajadas no evangelismo em comunidades muçulmanas também podem enfrentar perseguição. A prisão de líderes de igrejas pode desestabilizar as comunidades cristãs e fazê-las sentir medo de se reunir para o culto. Mesmo outras denominações que historicamente enfrentaram menos perseguição em Bangladesh, como as afiliadas à Igreja Católica Romana, enfrentam cada vez mais ataques e ameaças de morte.
Jashim, cristão perseguido atacado por uma multidão de 60 pessoas
Apesar de uma ligeira queda nos relatos de incidentes de violência contra os cristãos, a pressão na vida privada aumentou e os convertidos foram submetidos a mais pressão do que nos anos anteriores. No geral, a perseguição aos nossos irmãos e irmãs de Bangladesh continua em um nível severo.
O termo “tipo de perseguição” é usado para descrever diferentes situações que causam hostilidade contra os cristãos. Os tipos de perseguição aos cristãos em Bangladesh são: paranoia ditatorial, opressão islâmica, nacionalismo religioso e hostilidade etno-religiosa.
Já as “fontes de perseguição” são os condutores/executores de hostilidades, violentos ou não violentos, contra os cristãos. Geralmente são grupos menores (radicais) dentro do grupo mais amplo de adeptos de uma determinada visão de mundo. As fontes de perseguição aos cristãos em Bangladesh são: líderes religiosos não cristãos, cidadãos e quadrilhas, parentes, oficiais do governo, partidos políticos, grupos religiosos violentos, líderes de grupos étnicos, grupos paramilitares, redes criminosas.
A região norte de Bangladesh é o lar de muitas minorias étnicas e um local difícil para os cristãos viverem. Há perseguição tanto da maioria muçulmana quanto da minoria budista, bem como das comunidades tribais.
Nos últimos anos, mais de 700 mil refugiados islâmicos chegaram de Mianmar, com a maioria localizada no distrito de Cox Bazar, na ponta sudeste do país. Entre os refugiados está uma pequena minoria de convertidos rohingya, que podem enfrentar pressão por sua fé, mas não têm meios de escapar.
A sociedade de Bangladesh continua patriarcal, apesar de o país ser liderado por políticas mulheres há muitos anos. As cristãs são altamente vulneráveis à perseguição por parte da família e comunidades locais. As convertidas são consideradas como traidoras da cultura e da religião. Essa perseguição pode incluir assédio, abuso sexual, físico e emocional, casamento ou divórcio forçado, prisão domiciliar e sequestro.
Muitos homens cristãos de origem islâmica são atacados e a pressão comunitária, inclusive de líderes muçulmanos, força alguns a fugir de suas casas. Os seguidores de Jesus também podem ser falsamente acusados de subornar pessoas para se tornarem cristãs e até de tráfico de drogas como forma de incluir a polícia no caso. Os líderes de igrejas correm o risco de serem presos, embora a prisão seja rara.
A Portas Abertas trabalha por meio de igrejas locais parceiras para oferecer treinamento bíblico, distribuição de Bíblias, projetos de desenvolvimento socioeconômico e alfabetização e ajuda emergencial.
Além de orar por eles, você pode ajudar de forma prática doando para projetos que apoiam cristãos perseguidos. Doando para esta campanha, sua ajuda vai para locais onde a perseguição é extrema e a necessidade é mais urgente.
Senhor Jesus, obrigado porque muitas pessoas estão se entregando ao Senhor, apesar da perseguição em Bangladesh. Oramos para que as conversões aconteçam ainda mais e pedimos que até aqueles que perseguem tenham um encontro transformador com o Senhor. Fortaleça, encoraje e proteja seu povo diante de tais desafios. Derrame nova esperança em seus corações e dê-lhes novas revelações de seu amor. Cure todos aqueles que foram atacados, dê-lhes força para perseverar e a certeza de que o Senhor transformará essas situações para o bem. Amém.
HISTÓRIA DE BANGLADESH
Embora Bangladesh exista como um país independente apenas desde o final do século 20, seu caráter nacional dentro do contexto sul asiático mais amplo data do passado antigo. A história do país, então, está interligada com a da Índia, Paquistão e outros países da área.
Bangladesh tem uma longa história de agitação e é um Estado relativamente novo, tendo obtido independência do Paquistão em 1971, o que significa que celebrou seu 50º aniversário apenas em 2021. Desde então, governos civis e militares têm se revezado no poder. Eleições, no geral, são acompanhadas de violência, com a oposição denunciada como tendo fortes ligações com grupos extremistas islâmicos e em anos recentes quase não existindo mais.
O país tomou uma direção de autoritarismo desde 2015 e não tem oposição parlamentar efetiva desde que o Partido Nacionalista de Bangladesh (BNP) boicotou as eleições nacionais de 2014. Ao invés do debate parlamentar, em 2015, o BNP foi às ruas e o governo da líder da Liga Awami, Sheikh Hasina, reprimiu a livre expressão da sociedade civil. Líderes-chave de oposição foram presos, acusados de sérias ofensas, algumas das quais foram inventadas. Muitos permaneceram escondidos, temendo ser presos. A líder de oposição Khaleda Zia e seu filho foram presos e condenados em fevereiro e outubro de 2018. Em março de 2020, Zia foi temporariamente solta por questões de saúde e a soltura se estendeu por mais seis meses até setembro de 2020. Forças de segurança cometeram sérios abusos, inclusive mortes, “desaparecimentos” e prisões arbitrárias, com pouca investigação ou processo legal sendo realizados.
As eleições de dezembro de 2018 não foram melhores — ao menos 17 pessoas foram mortas em todo o país e observadores reportaram incidentes de fraude eleitoral, prejudicando os resultados e a oposição. Consequentemente, Sheik Hasina ganhou seu terceiro mandato consecutivo como primeira-ministra e não precisou temer nenhum controle do parlamento, pois seu partido ganhou 96% dos votos. A oposição foi então efetivamente eliminada.
Cristãos geralmente não são ativos na política e tentam não se envolver em questões políticas, mas é claro que estão na mesma situação política polarizada e enfrentam a mão pesada das autoridades e dos serviços de segurança como ninguém mais. Como uma minoria religiosa, são cada vez mais vulneráveis devido à falta de recursos de apoio e ligações políticas; por isso, podem ser usados facilmente como bodes expiatórios.
HISTÓRIA DA IGREJA EM BANGLADESH
O cristianismo fez suas primeiras incursões na região agora chamada Bangladesh no final do século 16 e início do século 17. Os comerciantes portugueses e os missionários católicos romanos alcançaram suas costas perto da cidade de Chittagong, no que foi chamado de “Sultanato de Bengala”, e construíram suas primeiras igrejas.
O missionário batista William Carey chegou a Serampore de Bengala Ocidental em 1793. Esse inglês anunciou uma nova era missionária em Bengala, traduzindo e imprimindo a Bíblia em bengali e o primeiro dicionário da língua bengali. Ele também ajudou a desenvolver fontes tipográficas bengali para imprimir e estabelecer a Serampore Mission and College (primeira organização missionária e faculdade teológica no país), além de publicar jornais e periódicos. O sistema escolar em Bangladesh se deve ao trabalho de William Carey.
Com ele veio a Sociedade Missionária Batista (britânica) em 1793, seguida pela Sociedade Missionária da Igreja (britânica) em 1805, Conselho para a Missão Mundial (presbiteriano britânico) em 1862, Missão Batista Australiana em 1882, Missão Batista da Nova Zelândia em 1886, Missão de Oxford (britânica anglicana) em 1895, Igreja de Deus (americana) em 1905, Adventista do Sétimo Dia em 1919, Assembleia de Deus em 1945, Missão de Santal (luterana) em 1956, Missão de Bangladesh da Convenção Batista do Sul (americana) em 1957 e Associação de Batistas para Evangelismo Mundial (americana) em 1958. Após a Guerra da Independência em 1971, houve o influxo de mais sociedades missionárias protestantes em Bangladesh.
CONTEXTO DE BANGLADESH
Lar de quase 150 milhões de muçulmanos de maioria sunita, até recentemente Bangladesh conseguiu manter-se livre do tipo de radicalismo que atormentava outras partes do mundo e Sul da Ásia. Mas, infelizmente, há fortes sinais de que isso está mudando. A decisão do governo, em janeiro de 2017, de tornar os livros didáticos mais ajustados aos grupos islâmicos conservadores é um sinal nesse sentido. Nos livros didáticos da primeira série está impressa a letra “o”, representando o orna, que é o véu usado na cabeça a partir do início da puberdade por uma menina muçulmana devota — isso é apenas um exemplo de uma tendência ao islamismo.
Um livro didático da sexta série substituiu um relatório de viagem ao Norte da Índia (país vizinho) por um relatório sobre o rio Nilo, no Egito. Outros livros também foram alterados, como por exemplo não mais usando nomes que soam como hindus ou cristãos. No entanto, essa nova tendência não apoia a violência — o governo decidiu banir os capítulos que falavam sobre jihad (guerra santa) dos livros didáticos do Ensino Fundamental 2. Entretanto, em maio de 2018, o partido no poder, Liga Awami, aceitou um pacote de um bilhão de dólares da Arábia Saudita para construir 560 mesquitas em todo o país. Como o fundo não se materializou, o Estado de Bangladesh interveio, um fato que levou líderes católicos a pedir por fundos iguais para todos os prédios e instituições religiosas.
Cerca de 9% da população é hindu e sofre ataques de muçulmanos radicais. Budistas e religiões étnicas completam a mistura de religiões em Bangladesh, e apesar de pequeno em número, convertidos dessas religiões podem estar sob forte pressão de suas famílias e comunidades. Os cristãos são uma pequena minoria, experimentam marginalização e, se também pertencem a minorias étnicas, enfrentam dupla vulnerabilidade.
Os cristãos de origem muçulmana vivem sob pressão de grupos islâmicos radicais ou da cultura islâmica em seus bairros. Eles enfrentam muita violência. As igrejas e todas as religiões minoritárias se esforçam para se manter afastadas da política, embora notem um crescente conservadorismo islâmico no país. As minorias cristãs e outras estão gerando vários grupos de lobby.
Os cristãos de origem muçulmana, hindu, budista ou tribal enfrentam a perseguição mais severa em Bangladesh. Eles frequentemente se reúnem em igrejas domésticas pequenas ou em grupos secretos devido ao medo de ataques. Igrejas evangelísticas — muitas delas pentecostais — que trabalham entre a maioria muçulmana enfrentam perseguição, mas mesmo igrejas históricas como a Igreja Católica Romana são cada vez mais confrontadas com ataques e ameaças de morte.
Os cristãos tribais, como os da tribo shantal, enfrentam dupla vulnerabilidade, pertencentes a uma minoria étnica e religiosa, vivenciam constante violência contra eles. Os cristãos rohingya de origem muçulmana que fugiram de Mianmar para Bangladesh também enfrentam intimidação e forte pressão da comunidade.
Famílias e comunidades são fontes de perseguição e monitoram as atividades dos convertidos, sobretudo nas áreas rurais, isso restringe a vida cotidiana deles mais do que os grupos radicais no momento. O fato de o governo estar combatendo grupos islâmicos que são conhecidos por ter conexões com o partido da oposição não ajuda a acalmar a situação política volátil.
Bangladesh é densamente povoado: é a oitava nação mais populosa do mundo, com cerca de 171 milhões de pessoas, e a terceira nação muçulmana mais populosa, depois da Indonésia e do Paquistão. Ele continua entre os países mais pobres do mundo, apesar de um progresso notável nos últimos anos.
Apesar de todo crescimento econômico, a distribuição de renda é desigual e a pobreza ainda é um grande problema. Essa desigualdade já existia antes da crise da COVID-19 chegar, mas as consequências da pandemia podem ter levado mais de 16 milhões de pessoas de volta à categoria da pobreza em 2020. Embora os números ainda sejam difíceis de encontrar, milhões de trabalhadores da indústria do vestuário e outras perderam o emprego. Isso coloca as áreas rurais sob um problema duplo: famílias em áreas rurais conseguiam sobreviver devido ao recebimento de dinheiro enviado por membros da família que trabalham nas cidades, entretanto, esse dinheiro não está mais disponível. E o plano B de voltar para as áreas rurais para trabalhar nas plantações foi severamente limitado pelos desastres naturais que atingiram o país em 2020. É provável que os 38,6% dos trabalhadores da agricultura tenham dificuldade para pagar as contas.
Alfabetização e educação continuam sendo os maiores desafios para Bangladesh e mesmo o número de matrículas estando alto, assim também é o número de desistências, mesmo se tratando de nível primário (18%). A taxa de desistência é de 30% no nível secundário. E enquanto, por um lado, o Banco Mundial está louvando esse progresso, por outro, é preciso lembrar que ainda há muito a ser feito.
Aproximadamente um milhão de refugiados muçulmanos rohingya do vizinho Mianmar têm colocado a estrutura social e econômica do país sob um enorme estresse desde 2017, principalmente no distrito de Cox’s Bazar. Em um desenvolvimento muito positivo, as autoridades de Bangladesh anunciaram, no fim de janeiro de 2020, que ofereceriam educação formal para crianças refugiadas rohingya, em colaboração com a UNICEF. Porém, esses programas foram afetados pelas restrições da COVID-19 e o processo de realocação voluntária de refugiados para um campo localizado em uma ilha chamada Bhashan Char, que observadores descrevem como “propensa à inundação”, criou muita ansiedade na comunidade de refugiados. Entretanto, o local foi visitado por oficiais da ONU em maio de 2021 que endossaram a realocação de mais de 100 mil pessoas.
Apesar de ser etnicamente homogêneo em grande proporção, com 98% da população sendo bengalesa, também existem minorias em Bangladesh, como o povo chakma. Além disso, há os chamados “povos tribais do monte” em Chittagong Hill Tracts, como os garo e os shantal, povos que incluem um grande número de cristãos. Os povos tribais do monte são negligenciados e discriminados pelas autoridades e intimidados pela comunidade majoritária, por exemplo, com apropriação de terras. Os cristãos entre eles enfrentam dupla vulnerabilidade, por serem tribais e cristãos.
Bangladesh é uma sociedade profundamente patriarcal na qual espera-se que homens e mulheres assumam papéis de gênero tradicional; como reflexo disso, mais de 50% dos homens em Bangladesh pensam que é inaceitável que uma mulher tenha um trabalho assalariado. É extremamente desafiador para homens e mulheres cristãos encontrarem aceitação em suas famílias e comunidades; a conversão é vista como uma traição a cultura e religião nacional.
Devido às normas do patriarcado, homens sempre se convertem primeiro e são agredidos por traição a sua religião e cultura. Mulheres também enfrentam violência física e são comumente violentadas sexualmente. Há uma ampla aceitação na sociedade para a violência baseada em gênero. De acordo com o Human Rights Watch, 70% das mulheres casadas experimentam alguma forma de abuso do parceiro. Apenas 3% das vítimas exigem ações legais, o que reflete como é difícil para as vítimas obterem justiça devido ao estigma social vinculado à violência sexual.
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