Estima-se que existam 150 gangues de crime organizado no México. Elas são financiadas por cartéis de drogas poderosos. Os cristãos que vivem nas regiões onde esses grupos dominam vivem ameaçados. Os líderes cristãos são particularmente vistos como ameaças ou desafios para a autoridade e a estabilidade das gangues.
Quando cristãos se recusam a atender os pedidos das gangues ou pregam contra a criminalidade, as igrejas se tornam alvos das gangues. A impunidade e a instabilidade política contribuem para o sistema falho de justiça. Muitos pastores e líderes cristãos foram sequestrados e ficaram presos até o pagamento de resgates. Outros sofrem agressões físicas graves e são assassinados.
As regiões negligenciadas pelo governo são comandadas pelas gangues, que exigem o pagamento de taxas das igrejas e extorquem os líderes cristãos para ter acesso aos valores que a igreja levanta.
Esses grupos ilegais diversificaram e fortaleceram uma rede de contatos por todo o país. Dessa forma, líderes cristãos, especialmente os que trabalham na defesa de direitos humanos ou em defesa do meio ambiente, enfrentam alto risco de morte, recrutamento, assédio sexual, sequestro, deslocamento forçado e outras formas de violência. Os familiares também estão em risco.
Nas áreas rurais, cristãos recém-convertidos, que saem de um contexto ancestral e tradicional (a maioria ligada à fé católica romana), podem ser agredidos, multados, assediados, rejeitados, forçados a deixar a comunidade e ter o acesso a serviços públicos negado.
A intolerância e a vigilância sobre as falas dos cristãos em questões sociais têm aumentado, já que o processo de secularização do México avança rapidamente.
Pastor Cazares, cristão perseguido no México
No período de pesquisa da Lista Mundial da Perseguição 2023, o número de denúncias de violência contra cristãos no México foi recorde. Grupos criminosos continuam ameaçando os cristãos. Onde quer que a presença cristã ameace as atividades ilegais das gangues, há perseguição. Os criminosos aproveitam a fraqueza das autoridades estaduais para manter a corrupção e a impunidade.
Cristãos em comunidades indígenas também enfrentam hostilidade crescente porque se recusam a seguir princípios e costumes religiosos tradicionais (a maioria relacionado a práticas católicas). Em outros lugares, a intolerância religiosa também está aumentando por causa de ações de grupos ideológicos radicais que se opõem à expressão pública da fé cristã.
O termo “tipo de perseguição” é usado para descrever diferentes situações que causam hostilidade contra cristãos. Os tipos de perseguição aos cristãos no México são: corrupção e crime organizado, opressão do clã e intolerância secular.
Já as “fontes de perseguição” são os condutores/executores das hostilidades, violentas ou não violentas, contra os cristãos. Geralmente são grupos menores (radicais) dentro do grupo mais amplo de adeptos de uma determinada visão de mundo. As fontes de perseguição aos cristãos no México são: redes criminosas, oficiais do governo, líderes de grupos étnicos, líderes religiosos não cristãos, cidadãos e quadrilhas, parentes, grupos de pressão ideológica.
Líderes cristãos são os mais vulneráveis à violência das gangues e do crime organizado. Algumas comunidades indígenas também perseguem e excluem cristãos recém-convertidos.
A violência doméstica é um problema que atinge mulheres em todo o México. Quando uma mulher ou menina se torna cristã, indo contra a vontade e tradição de algumas famílias, elas enfrentam abusos para fazê-las mudar de ideia.
O México também tem uma das maiores taxas de tráfico humano do mundo. As gangues de crime organizado raptam mulheres que são vendidas como escravas sexuais. Alguns grupos procuram meninas cristãs, pois elas são vistas ou como pessoas facilmente influenciáveis, ou como inimigas dos cartéis de drogas.
Mulheres que são casadas com membros da gangue ou têm algum outro envolvimento com eles e decidem conhecer Jesus enfrentam duras ameaças de violência. As gangues querem evitar a todo custo que elas deixem o grupo, o que inclui o risco de morte.
Meninos e jovens vivem sob alto risco de ser recrutados à força para grupos criminosos poderosos. Aqueles que tentam resistir à imposição, seja por motivos religiosos ou qualquer outra razão, enfrentam ameaças e risco de serem sequestrados e assassinados. Alguns grupos recrutam especificamente meninos e adolescentes.
Gangues ameaçam homens cristãos, que são líderes das famílias e das igrejas, para intimidar as comunidades. Um grande número de rapazes é morto pelas gangues. A perda de homens jovens também enfraquece famílias, comunidades e igrejas por todo país.
A Portas Abertas fortalece cristãos perseguidos no México por meio de treinamentos bíblicos, suporte legal, cuidados pós-trauma e ajuda socioeconômica.
Além de orar por eles, você pode ajudar de forma prática doando para os projetos da Portas Abertas de apoio aos cristãos perseguidos. Doando para esta campanha, sua ajuda vai para locais onde a perseguição é extrema e a necessidade é mais urgente.
Santo Deus, proteja nossos irmãos e irmãs em Cristo que vivem sob o domínio das gangues no México. Ajude-os a suportar a violência com coragem e a se posicionarem contra a corrupção no país. Que eles sejam exemplos de integridade e amor para aqueles que os perseguem. Oramos também para que as autoridades sejam capazes de restabelecer a justiça e a segurança no México. Amém.
HISTÓRIA DO MÉXICO
Presume-se que os primeiros habitantes da América Central foram os índios americanos, de origem asiática. A data da chegada deles na região central do México permanece especulativa. De acordo com a lenda asteca, do começo do século 12 ao início do século 13, os astecas vagaram em busca de um novo local para se estabelecer. Na época, os astecas estabeleceram morada próximo às ruínas de Tula, onde melhoraram seus métodos agrícolas e outros conhecimentos tecnológicos.
Em 1517 e 1518, Diego Velásquez, governador de Cuba, enviou expedições que exploraram as costas de Yucatán e o Golfo do México. Um dos comissionados por Velásquez, Hernán Cortés chegou ao México e então se libertou do senhorio de Velásquez, ao fundar a cidade de Veracruz. A conquista foi realizada em nome do rei Carlos II, da Espanha. Após tomar as posses do império asteca, os espanhóis rapidamente subjugaram a maioria das outras tribos indígenas no Sudeste do país.
Em 16 de setembro de 1810, o padre católico romano, Miguel Hidalgo, chamou os exércitos que desencadearam a guerra da independência mexicana. Em 27 de setembro de 1821, o Exército das Três Garantias entrou na Cidade do México e o Ato da Independência do Império Mexicano foi assinado no dia seguinte, mas só foi reconhecido pelo governo espanhol em 1836. Em outubro de 1824, Guadalupe Victoria foi declarado o primeiro presidente do México.
Após o mandato de Enrique Peña Nieto, de 2012 a 2018, um dos governos pertencentes ao Partido Revolucionário Institucional (PRI) mais criticado na história republicana, uma nova liderança surgiu. Andrés Manuel López Obrador (AMLO) venceu as eleições presidenciais em julho de 2018, estabelecendo um marco na política mexicana. Ele é o primeiro presidente que não pertence ao PRI ou ao Partido de Ação Nacional (PAN), e foi eleito com o maior número de votos da história. Ele concorreu como líder da coalizão eleitoral Movimento Regeneração Nacional (MORENA) e desfruta de amplo apoio dos cristãos. Desde que AMLO assumiu a posição, ele prometeu combater a corrupção, mas tem enfrentado aumento na violência e uma tensa relação com os Estados Unidos devido principalmente à crise de migração da América Central.
Em maio de 2021, uma reportagem do jornal El Financiero acusou a Guarda Nacional e o governo de ter uma aliança com os líderes do narcotráfico e de violar os direitos humanos. A consequência disso foi que o partido MORENA perdeu a maioria no Congresso nas eleições de julho de 2021.
A pandemia de COVID-19 também resultou em uma das maiores crises políticas, sociais e econômicas e destacou a fragilidade do governo nesse momento crucial. Ao contrário de outros países latino-americanos, AMLO decidiu priorizar a economia em detrimento da saúde. Em nível estadual, as igrejas tiveram que seguir as regras impostas pelas autoridades que às vezes incluía o cancelamento dos cultos da igreja. Mesmo assim, as comunidades cristãs tornaram-se agentes de solidariedade aos mais necessitados, apesar dos riscos, especialmente em áreas não alcançadas pelas autoridades e muitas vezes dominadas por grupos criminosos.
HISTÓRIA DA IGREJA NO MÉXICO
O cristianismo chegou ao México durante a conquista espanhola da população nativa asteca (1519-1521). Foi parte da estratégia militar converter os moradores nativos da Nova Espanha para a fé católica romana. Da época até aproximadamente 1872, a Igreja Católica Romana foi a única denominação cristã presente no México e ainda é uma maioria no país. Entretanto, o México permite liberdade para adoração desde meados do século 18 e, desde então, denominações tradicionais protestantes se estabeleceram. O governo não reconhecia igrejas e associações religiosas como entidades legais até 1992. Isso só foi possível por meio de reformas no Artigo 130 da Constituição e a implementação da Lei das Associações Religiosas e Adoração Pública.
A maior denominação cristã no México é a Igreja Católica Romana, representando 89,9% de todos os cristãos de acordo com as estimativas do World Christian Database. As igrejas protestantes estão ganhando força, principalmente nas áreas rurais do país e as pentecostais estão se tornando mais influentes, especialmente no contexto político.
CONTEXTO DO MÉXICO
Embora os cristãos sejam 95,7% da população do país, uma estimativa de 3% da população se identifica como agnóstico ou ateísta. Porém, o Instituto Nacional de Estatística e Geografia (INEGI) garante que o número de pessoas que não creem em Deus aumentou para 8,1% da população. Esse fenômeno é resultado das fortes tendências seculares conduzidas por antigas políticas do governo. O México não tem uma religião oficial e nenhuma aula de religião é ensinada em escolas estaduais. O Estado permanece exclusivamente secular e, até 1992, o governo mexicano não tinha relações formais com igrejas e não reconhecia oficialmente qualquer igreja. Em 1992, o governo de Salinas modificou a Constituição a fim de dar reconhecimento às várias religiões que existem no México.
Hoje, mexicanos têm o direito de exercer qualquer religião que quiserem. O governo federal coordena assuntos religiosos por meio da Secretaria de Governo (SEGOB, da sigla em espanhol) que, com a Direção Geral para Associações Religiosas (DGAR, da sigla em espanhol), promove tolerância religiosa, conduz a mediação de conflitos e investiga casos de intolerância religiosa.
A extensão e a implementação do princípio de separação entre igreja e Estado continua a ser um desafio para os grupos religiosos do país. Por um lado, o presidente AMLO declarou-se cristão apenas dois dias antes das últimas eleições, por outro lado, o partido e outras autoridades governamentais tentaram repetidamente impedir a igreja de falar sobre assuntos públicos, especialmente durante o período de campanha eleitoral, sob o argumento de que se trata de uma interferência na vida política e uma violação da separação entre igreja e Estado.
No entanto, após receber um aviso do governo, a arquidiocese da Cidade do México emitiu um comunicado, em maio de 2021, defendendo o direito da igreja de falar sobre questões públicas. Vale a pena mencionar que organizações de sociedade civil têm criticado medidas governamentais sem punição, mas assim que os líderes da igreja falam em apoio aos mais necessitados da sociedade, são imediatamente acusados de apoiar a oposição.
Muitos grupos cristãos que inicialmente apoiaram o presidente, como a CONFRATERNICE (Aliança das Igrejas Evangélicas), desde então se tornaram menos interessados no assunto. Isso foi consequência dos interesses políticos do partido no poder a favor do aborto, eutanásia, censura de líderes religiosos, casamento entre pessoas do mesmo sexo, modificação da Lei de Assuntos Religiosos etc., e fez com que algumas igrejas retirassem seu apoio ao partido de AMLO.
Grupos de pressão ideológica continuaram a visar os valores cristãos, tentando oficialmente marginalizar visões baseadas na fé. Eles exigiram que os líderes das igrejas não se envolvessem em debates públicos sobre questões relacionadas a aborto, casamento entre pessoas do mesmo sexo, educação sexual abrangente etc. Houve até tentativas de censurar políticos que dão seus pontos de vista baseados na fé ou que defendem publicamente os valores cristãos.
Ações de grupos ideológicos têm se tornado cada vez mais agressivas, como pode ser visto nos incidentes envolvendo vandalismo de propriedade cristã, que tornou a manutenção de locais de culto ainda mais difícil. Diante de atos de vandalismo de grupos feministas radicais, os líderes cristãos viram a necessidade de apresentar queixas às autoridades.
Durante os anos de 2020 e 2021, alguns estados mexicanos aprovaram reformas para criminalizar “terapias de conversão” por considerá-las como atividades que vão contra a livre autodeterminação em questões de gênero. Isso significa que os líderes da igreja ou grupos cristãos podem enfrentar ações legais se oferecerem apoio a qualquer pessoa que — mesmo de boa vontade — deseje lidar com questões de identidade de gênero ou orientação sexual de uma perspectiva cristã.
Um deputado do MORENA (Movimento de Regeneração Nacional) apresentou, em outubro de 2020, um projeto de lei que visa reformar o inciso IV do artigo 29, correspondente ao capítulo sobre infrações e sanções da Lei das Associações Religiosas e Cultos Públicos. A proposta buscava sancionar expressamente as associações religiosas e líderes de igrejas cujos ensinamentos ou expressões discriminassem a identidade ou a expressão de gênero das pessoas. Além disso, instituições governamentais, como o Conselho Nacional para Prevenir a Discriminação (CONAPRED) continuaram a chamar a atenção de cristãos e líderes cristãos, pedindo-lhes para evitar discurso de ódio ou qualquer coisa que limite os direitos das mulheres quando fazem declarações públicas baseadas em valores bíblicos sobre a vida desde a concepção ou casamento.
A perseguição acontece também dentro de comunidades indígenas, pois a religião é um componente importante da cultura e da identidade e molda as relações entre as pessoas e o cuidado dos recursos naturais. Como em muitas comunidades indígenas na América Latina, as práticas religiosas estão relacionadas principalmente às práticas sincretistas adaptadas dos ritos católicos romanos, em alguns casos, os indígenas se identificam como católicos e as lideranças indígenas tendem a ser mais receptivas à presença da Igreja Católica Romana. No entanto, qualquer tipo de pregação ou atividade religiosa requer permissão dos líderes. Qualquer coisa que vá contra os costumes do grupo étnico será punida. Devido à aceitação geral das tradições da Igreja Católica dentro das comunidades indígenas, a maioria das “formas não aceitas de cristianismo” são de origem protestante ou evangélica.
Nas comunidades indígenas, os cristãos enfrentam oposição porque rejeitam as práticas religiosas e costumes da etnia a que pertencem. Isso faz com que os líderes indígenas muitas vezes vejam as influências cristãs como um elemento desestabilizador. Uma vez que os líderes étnicos são aqueles que administram a justiça em seus territórios, a liberdade religiosa dos povos indígenas não é devidamente garantida pelas autoridades locais (estatais) quando se trata de uma religião diferente da comunidade.
A população indígena, que compõe cerca de 68 comunidades, está localizada principalmente em áreas rurais ao longo da fronteira sul do país (Oaxaca, Yucatán e Chiapas) e região centro-oeste (Hidalgo, Guerrero, Puebla e Jalisco). Devido à localização geográfica, eles são mais vulneráveis à ineficácia da ação do Estado e abuso pelo crime organizado, que às vezes obriga os membros dessas comunidades a fugir e isso aumenta as dificuldades deles. As comunidades indígenas gozam de autonomia e são regidas por seus próprios costumes, e isso causa situações de intolerância religiosa.
De acordo com o CIA Factbook a população do México é composta pelos seguintes grupos étnicos: 62% mestiços (espanhóis e ameríndios), 28% de ameríndios e 10% de europeus. Outro dado é que 81% da população vive em centros urbanos. Cerca de 95% da população é alfabetizada, 96% dos homens e 94% das mulheres.
O México não experimentou uma forte redução na desigualdade ao longo do século 20. Na verdade, a desigualdade de renda é extrema ao longo dos séculos passados ??e presentes. No setor de saúde, as deficiências de infraestruturas, materiais e recursos tornaram-se evidentes. No setor da educação, a lacuna digital tornou-se visível. A vulnerabilidade aumentou em empregos informais, especialmente para as comunidades indígenas e migrantes, que mais sofreram com as consequências econômicas das medidas de bloqueio.
Diante desse cenário, o presidente do México anunciou perante o Conselho de Segurança da ONU que seu país pretende propor à Assembleia Geral um Plano Mundial de Fraternidade e Bem-estar. A iniciativa busca garantir o direito a uma vida digna para os 750 milhões de pessoas que sobrevivem com menos de dois dólares por dia.
No contexto patriarcal do México, espera-se que homens e mulheres assumam papéis tradicionais, especialmente em áreas rurais e comunidades indígenas. Pesquisas de opinião recentes indicam que atitudes em relação ao gênero estão mudando, à medida que os mexicanos mais jovens adotam visões mais igualitárias. Refletindo isso, a agitação social em relação à violência de gênero aumentou nos últimos anos.
Em março de 2020, milhões de mulheres saíram às ruas para protestar contra os níveis crescentes de violência de gênero. A representação feminina no parlamento também melhorou, o que foi recebido como um desenvolvimento positivo. No entanto, a violência doméstica e a violência contra as mulheres continuam elevadas.
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