Cristãos de origem hindu são submetidos a grande pressão, pois são vistos como traidores da fé dos ancestrais. Recém-convertidos e membros de igrejas protestantes também enfrentam pressão de família, amigos, comunidade e autoridades locais.
As igrejas católicas e igrejas onde estrangeiros congregam são as que enfrentam menos problemas. De tempos em tempos, grupos radicais hindus se aproveitam da instabilidade política do país para atacar cristãos e ficarem praticamente impunes.
Há relatos de igrejas atacadas, agressões físicas a cristãos e prisões arbitrárias. Alguns cristãos também precisaram fugir de casa e dos vilarejos por causa das ameaças. Outro agravante da perseguição é a legislação anticonversão, aprovada em 2017, que causa diversas restrições aos cristãos a nível nacional.
Kabita Khatri (pseudônimo), cristã perseguida no Nepal
Em comparação à pesquisa da Lista Mundial da Perseguição 2022, houve uma queda na pontuação de violência e pressão. Desde a aprovação da nova Constituição em 2015, o governo também pressiona os cristãos. Mas grande parte da pressão que cristãos enfrentam vem de radicais hindu. Eles têm como objetivo fazer com que o Nepal volte a ser um Estado hindu. Esses grupos causam danos às igrejas, prisões de cristãos, agressões físicas e expulsão de famílias cristãs de casas ou vilarejos. A opressão afeta as esferas da vida privada, igreja e nacional.
O termo “tipo de perseguição” é usado para descrever diferentes situações que causam hostilidade contra cristãos. Os tipos de perseguição aos cristãos no Nepal são: nacionalismo religioso e opressão do clã.
Já as “fontes de perseguição” são os condutores/executores das hostilidades, violentas ou não violentas, contra os cristãos. Geralmente são grupos menores (radicais) dentro do grupo mais amplo de adeptos de uma determinada visão de mundo. As fontes de perseguição aos cristãos no Nepal são: oficiais do governo, líderes religiosos não cristãos, grupos religiosos violentos, parentes, partidos políticos, cidadãos e quadrilhas, líderes de grupos étnicos.
A pressão sobre cristãos de origem hindu é maior no interior do país do que nas áreas urbanas.
Apesar da sociedade multicultural no Nepal conquistar alguns avanços na liberdade religiosa com a Constituição de 2015, as leis anticonversão e a lei da blasfêmia continuam em vigor.
Há perigo para cristãos de origem hindu que revelam a fé publicamente. Quando isso acontece, as mulheres cristãs enfrentam várias formas de pressão. “Inicialmente, elas são torturadas emocionalmente e, depois, gradualmente a tortura física começa a aparecer. Ao fim, elas são subjugadas ao desprezo da família e da comunidade”, conta um especialista do país.
Os parentes mais próximos dessas cristãs podem trancá-las em casa, privá-las de necessidades básicas e de apoio financeiro. Em raras ocasiões, as famílias fazem acordos pré-nupciais para casar as filhas com homens não cristãos com objetivo de salvar a reputação da família. Nesses tipos de casamentos, as mulheres são intensamente pressionadas a deixar a fé cristã.
Se uma mulher já era casada quando se torna cristã e o marido não apoia a escolha de fé, ela pode perder os direitos legais individuais e de custódia dos filhos e, em alguns casos, pode terminar em divórcio.
Na nação cuja história e cultura estão enraizadas no hinduísmo, mulheres e meninas usufruem de poucos direitos. Os desafios mais persistentes são os assédios físicos, sexuais e emocionais que cristãs de origem hindu enfrentam.
Os homens e meninos cristãos são mais vulneráveis à perseguição quando são recém-convertidos, especialmente se são vistos em público nos cultos ou acompanhados de líderes cristãos. Eles também são as principais vítimas de abusos físicos e mentais por parte da família e da sociedade. Com frequência, eles são marginalizados socialmente.
Cristãos de origem hindu no Nepal também têm o acesso a herança da família e outros direitos básicos negados, como certidão de nascimento. Eles também são vítimas de assédio em locais públicos, como mercados, e no ambiente de trabalho.
Muitos homens cristãos de origem hindu costumam migrar para novas cidades ou áreas para recomeçar e evitar os problemas econômicos. Homens e rapazes também são vítimas de falsas acusações e denúncias que resultam algumas vezes em prisões.
De acordo com a lei do Nepal, os cidadãos não podem ser intimidados por oficiais públicos por motivos religiosos. No entanto, na prática, esse tipo de perseguição acontece com frequência, especialmente nas Forças Armadas, em que cristãos já perderam promoções de trabalho por causa da fé em Jesus.
Nas áreas rurais, há relatos de hindus que excluíram cristãos das decisões da comunidade e fóruns públicos. Para ingressar no exército, ocupar posições no governo e na polícia, cristãos são obrigados a participar de rituais hindus, o que inclui comer alimentos dedicados aos ídolos ou usar a pintura vermelha no rosto característica das festas hindu.
Pastores de igrejas locais e líderes cristãos são os principais alvos de assédio. Radicais hindus focam os ataques nesse grupo de homens para servirem de exemplo para as igrejas que lideram e para os cristãos na região. Eles escolhem os pastores porque consideram que eles são responsáveis pelo aumento das conversões ao cristianismo. Um especialista do país explica que “líderes de grupos étnicos, especialmente no Norte e no extremo Sul do Nepal, demonstram intolerância religiosa. Isso resulta em incidentes sérios, que têm como objetivo perseguir evangelistas, pastores e igrejas recém-plantadas”.
Os pastores também são vítimas de falsas acusações de crimes, ameaçados com agressões físicas e, em algumas ocasiões, são forçados a deixar a comunidade. Um exemplo desses perigos aconteceu em maio de 2021, quando um líder cristão foi falsamente acusado de traficar drogas. Ele ficou preso durante 48 horas e sofreu abusos físicos e psicológicos da polícia. Por causa da agressão severa, ele perdeu o movimento das pernas.
Como os homens e meninos cristãos são vítimas de agressão física extrema ou marginalizados, eles encontram poucas oportunidades de trabalho para sustentar as famílias. A maioria dos homens são considerados os responsáveis pela provisão da família na região, portanto, quando são perseguidos e discriminados, toda a família enfrenta problemas econômicos e vulnerabilidade social.
Além de orar por eles, você pode ajudar de forma prática doando para os projetos da Portas Abertas de apoio aos cristãos perseguidos. Doando para esta campanha, sua ajuda vai para locais onde a necessidade é mais urgente.
Peça a Deus que ajude os homens e rapazes cristãos a encontrarem empregos e assim levar o sustento para as famílias no Nepal.
Interceda pelos pastores e líderes cristãos que são vítimas de falsas denúncias.
Rogue ao Senhor que transforme o coração dos radicais hindus que perseguem os cristãos no Nepal e mostre a eles o grande amor de Jesus.
HISTÓRIA DO NEPAL
A pré-história do Nepal consiste principalmente de tradições lendárias de uma comunidade indígena do Vale de Katmandu. Uma possível história de dinastia do Vale de Katmandu se torna possível, mesmo com grandes lacunas, a partir do crescimento da dinastia Licchavi, nos séculos 4 ou 5. Em meados do século 7, começa o contato do Nepal com a China a partir da troca de várias missões.
O período médio na história nepalesa é geralmente considerado coincidente com o governo da dinastia Malla (séculos 10 a 18) no Vale Katmandu e áreas do entorno. De 1775 a 1951, as políticas nepalesas foram caracterizadas por confrontos entre a família real e diversas famílias nobres.
A conquista da Índia pelos britânicos no século 19 figurou uma séria ameaça ao Nepal e deixou o país sem nenhuma alternativa além de buscar a ajuda dos britânicos a fim de preservar sua independência.
A introdução de um sistema político democrático no Nepal, país acostumado a autocracia e sem tradição ou experiência democrática profunda, provou ser uma tarefa formidável. A Constituição foi finalmente aprovada em 1959, nas quais as eleições gerais para a Assembleia Nacional foram mantidas. Essa Constituição foi abolida em 1962, e uma nova foi promulgada, que estabeleceu a coroa como a real fonte de autoridade. O rei Mahendra morreu em janeiro de 1972 e foi sucedido pelo filho Birendra, que foi coroado em 1975.
Em fevereiro de 1990, uma coalizão de forças opositoras de centro e esquerda começou uma campanha exigindo reformas políticas básicas. Em novembro do mesmo ano, após dois meses de debates vigorosos sobre diversas questões importantes – incluindo o papel do rei, o desenvolvimento de um Estado secular e poderes emergenciais – uma versão alterada da Constituição foi promulgada pelo rei Birendra, que garantiu uma monarquia constitucional e um sistema político parlamentar multipartidário.
Eleições gerais ocorridas em 12 de maio de 1991, deram ao partido Congresso Nepalês a maioria no parlamento (110 dos 205 assentos), mas o moderado Partido Comunista do Nepal, com 69 assentos, surgiu como um forte partido de oposição.
Em 1994, um partido comunista governou por um curto período. De 1995 a 2006, uma violenta insurgência maoísta (movimento revolucionário comunista chinês) levantou-se a fim de abolir a monarquia. Em 1° de junho de 2001, houve um massacre no palácio real. O rei Birendra, a rainha Aishwarya e outros sete membros da família real foram mortos. O suposto infrator foi o príncipe herdeiro Dipendra, que cometeu suicídio. Essa explosão teria sido a resposta de Dipendra à recusa de seus pais em aceitar a esposa de sua escolha. No entanto, há especulações e dúvidas entre os cidadãos nepaleses sobre quem foi de fato responsável.
Após a carnificina, o irmão do rei Birendra, Gyanendra, herdou o trono. Em 1° de fevereiro de 2005, o rei Gyanendra rejeitou todo o governo e assumiu poderes executivos completos para anular a insurgência maoísta, mas a iniciativa não teve êxito. Em setembro de 2005, os maoístas declararam um cessar-fogo unilateral de três meses para negociar. Em resposta ao movimento democrático de 2006, o rei Gyanendra concordou em renunciar ao poder soberano.
Em 24 de abril de 2006, a Câmara dos Deputados dissolvida foi restituída. Usando sua autoridade soberana recém-adquirida, a Câmara dos Deputados votou por unanimidade para reduzir o poder do rei e declarou o Nepal um Estado secular em 18 de maio de 2006, encerrando seu status oficial como reino hindu. Em 28 de dezembro de 2007, um projeto de lei foi aprovado no parlamento para alterar o artigo 159 da Constituição — substituindo “Disposições relativas ao Rei” por “Disposições do Chefe de Estado” — declarando o Nepal uma república federal e, assim, abolindo a monarquia. O projeto de lei entrou em vigor em 28 de maio de 2008. Desde então, o Nepal é uma república parlamentar federal laica.
O Nepal foi atingido por dois grandes terremotos em abril e maio de 2015, deixando cerca de 9.200 pessoas mortas, tendo um prejuízo de cerca de dez bilhões de dólares, o que representava 50% do PIB anual do país. O que tem sido menos relatado, porém, é o fato de que o governo prometeu financiar a reconstrução dos prédios destruídos, mas não dos prédios das igrejas, que também foram destruídas.
Em maio de 2020, a Índia inaugurou uma nova estrada de 80 km na Cordilheira do Himalaia, conectando-se com China pela passagem Lipulekh, no Tibete. O governo nepalês protestou, dizendo que a estrada atravessou parte do seu território e acusou a Índia de infringir o território sem conversas diplomáticas. O primeiro-ministro Khadga Oli afirmou que essas áreas eram do Nepal.
HISTÓRIA DA IGREJA NO NEPAL
O primeiro registro de um missionário cristão em visita ao Nepal remonta a 1628, quando o rei Lakshminarasimha Malla recebeu o jesuíta português Juan Cabral. Ele foi premiado com uma Tamra Patra, uma placa de cobre, permitindo que ele pregasse o evangelho. Em 1661, Albert dOrville, um belga, e Johann Grueber, um austríaco, visitaram o Nepal como missionários, mas não ficaram muito tempo.
A primeira tentativa de uma presença mais permanente no Nepal foi quando os padres capuchinhos de Roma criaram uma estação missionária em Katmandu em 1715 e moraram entre os habitantes de Bhaktapur e Patan no vale de Katmandu por mais de 54 anos. Após a conquista de Prithvi Narayan Shah (primeiro rei do Nepal unificado) em 1769, os padres capuchinhos e 57 cristãos recém-convertidos foram exilados em Bettiah, na Índia. A partir de então, até 1950, os missionários foram proibidos no Nepal.
No início da década de 1950, os missionários podiam se dedicar ao trabalho de desenvolvimento, educação e cuidados de saúde. Durante as décadas de 1970 e 1980, as igrejas começaram a crescer no Nepal. Com esse crescimento, a perseguição aos cristãos cresceu e na década de 1980 centenas de líderes cristãos nepaleses foram presos; muitos proeminentes líderes cristãos tiveram de fugir do país naquele momento. Devido a violentos protestos de rua em 1990, o rei concordou com uma nova Constituição democrática. A igreja também experimentou alguma liberdade depois de 1990.
Com o movimento para a democracia começando em 2006 — e especialmente depois que o Nepal se tornou oficialmente um Estado secular em 2008 — a nova liberdade religiosa contribuiu para a proliferação de várias denominações e grupos cristãos. Os cristãos hoje participam de forma ativa da arena política e da tomada de decisão e o Natal é um feriado oficial do governo. No entanto, apesar de o Nepal ser considerado secular, a nova Constituição restringe a liberdade de evangelismo e conversão, considerando isso como uma infração.
Embora não existissem cristãos no país em 1951, o censo registrou 458 após 10 anos e 102 mil após quarenta anos. De acordo com o recenseamento de 2011, esse número já atingia 375 mil. O número de cristãos no Nepal continuou a crescer ao longo do tempo. Hoje, o país abriga mais de 8 mil igrejas e mais de um milhão de convertidos. Grupos minoritários como os dalits e os kirats têm sido particularmente atraídos pelo cristianismo. De acordo com a Federação Nacional dos Cristãos no Nepal, os dalits compõem 60% de todos os cristãos no país.
As igrejas de expatriados são menos afetadas pelo nacionalismo hindu, mas experimentam limitações. A maioria dos convertidos são de origem hindu. Os convertidos ao cristianismo enfrentam uma enorme pressão de suas comunidades, grupos hindus radicais, líderes religiosos locais e familiares.
CONTEXTO DO NEPAL
De acordo com o World Christian Database (WCD), a maior religião do país é o hinduísmo. O hinduísmo dominou o Nepal há séculos (começou a se desenvolver entre 500 e 300 a.C.) e foi a religião do Estado até o país se tornar uma república secular em maio de 2008.
Estimulados pelo sucesso de seus homólogos na vizinha Índia, os radicais hinduístas fizeram campanha para o retorno do hinduísmo como religião oficial. Assim como na Índia, suas atividades foram violentas. No Nepal, no entanto, eles não conseguiram alcançar seus objetivos. Pelo menos, até o momento.
Os convertidos do hinduísmo são os mais perseguidos já que são considerados traidores da fé dos antepassados. Igrejas de protestantes e cristãos de origem hindu estão particularmente sob pressão de familiares, amigos, comunidades e autoridades locais. Igrejas católicas romanas e igrejas onde os estrangeiros se reúnem experimentam os menores problemas. De vez em quando, os radicais hindus aproveitam a instabilidade política em curso para atacar os cristãos. Na maioria das vezes, eles não são punidos. Também há relatos de igrejas atacadas, cristãos agredidos, presos e condenados. Há também cristãos que precisaram fugir de suas casas e vilas por causa de ameaças.
O cristianismo no Nepal está em ascensão desde que o governo adotou a democracia secular em 2008. Missionários cristãos haviam sido proibidos de entrar no país antes que a monarquia absoluta chegasse ao fim.
Uma marca do hinduísmo como antiga religião do Estado é o sistema de castas — uma estratificação hierárquica da sociedade que remonta a muitos séculos. De acordo com a tradição chamada varna, existem quatro castas (brahmins, kshatriyas, vaishyas e shudras), além de uma lista de grupos, agora conhecidos como dalits, que foram historicamente excluídos do sistema varna, e ainda são condenados ao ostracismo como “intocáveis”. Muitos cristãos no Nepal são de origem dalit. A maioria dos cristãos no Nepal pertence aos estratos sociais mais baixos e têm escassez de rendimentos.
O país mantém práticas que inferiorizam as mulheres. A preferência por filhos do sexo masculino é um exemplo dessa realidade. Casamentos forçados acontecem com frequência para “proteger a honra da família, evitar relacionamentos indesejados e controlar o comportamento feminino”. Os níveis de violência doméstica também ameaçam mulheres e meninas. As denúncias de agressões aumentaram durante a pandemia da COVID-19.
Apesar de a lei e os policiais alegarem que o casamento de crianças foi proibido, na prática, essa realidade se manteve, com 40% das meninas e 10% dos meninos com menos de 18 anos casados. O estupro e a violência doméstica são ilegais, mas não há uma lei específica sobre a violência contra mulheres. De acordo com o Humans Rights Watch, “falhas legais e falta de políticas favorecem a violência sexual, principalmente se as vítimas forem parte de minorias”.
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