* Em breve este perfil será atualizado com informações referentes à Lista Mundial da Perseguição 2023.
Os cristãos de origem budista ou hindu enfrentam a perseguição de forma mais forte. Eles estão sujeitos a assédio, discriminação e marginalização por parte da família e da comunidade. Eles são pressionados a negar o cristianismo, pois a conversão é considerada traição, já que espera-se que todos os cingaleses étnicos (a maioria no Sri Lanka) sejam budistas.
Da mesma forma, dentro da população minoritária tâmil no Nordeste, espera-se que todos sejam hindus, exceto aqueles pertencentes a comunidades cristãs históricas. A minoria cristã é parcialmente tolerada, mas os convertidos ao cristianismo não.
Além disso, as igrejas não tradicionais são frequentemente visadas pela comunidade local vizinha, vigiadas e perturbadas por monges budistas e autoridades locais. Elas são obrigadas a fechar seus prédios de igrejas, considerados ilegais. Essa oposição das autoridades acaba, inúmeras vezes, com multidões protestando e atacando igrejas, especialmente nas áreas rurais.
Relatos de tais incidentes vêm de toda a ilha. Esse padrão de perseguição antigo foi quebrado quando, no Domingo de Páscoa de 2019, houve grandes ataques realizados por um grupo islâmico radical pouco conhecido. Os ataques suicidas atingiram três igrejas cristãs e três hotéis internacionais, causando a morte de 259 pessoas, a maioria cristãos.
Com o retorno da família Rajapaksa ao poder e uma crise econômica causada pela pandemia de COVID-19, a paranoia ditatorial e a supremacia budista provavelmente se fortalecerão novamente. O processo de investigação lento e cheio de disputa de poder sobre a responsabilidade pelos ataques da Páscoa de 2019 está prejudicando novamente a minoria cristã, especialmente os parentes das vítimas.
Apesar do índice de violência ter aumentado, a pressão sobre os cristãos permaneceu basicamente a mesma em todas as esferas da vida. O maior aumento ocorreu nas esferas privada e familiar, refletindo o aumento da pressão sobre os convertidos devido às restrições da COVID-19 e a disseminação de intimidação para mais comunidades cristãs.
O termo “tipo de perseguição” é usado para descrever diferentes situações que causam hostilidade contra cristãos. Os tipos de perseguição aos cristãos no Sri Lanka são: nacionalismo religioso e paranoia ditatorial.
Já as “fontes de perseguição” são os condutores/executores das hostilidades, violentas ou não violentas, contra os cristãos. Geralmente são grupos menores (radicais) dentro do grupo mais amplo de adeptos de uma determinada visão de mundo. As fontes de perseguição aos cristãos no Sri Lanka são: oficiais do governo, líderes de grupos étnicos, líderes religiosos não cristãos, parentes, cidadãos e quadrilhas, partidos políticos e grupos religiosos violentos.
As províncias do Sri Lanka são: Norte, Central, Oriental, Ocidental, Centro-Norte, Noroeste, Uva, Sabaragamuwa e Sul. Não há pontos geográficos reconhecíveis de pressão e violência contra os cristãos, mas em áreas onde há menos diversidade, onde um grupo étnico é a maioria, tende a haver níveis mais altos. Algumas áreas que poderiam ser consideradas mais perigosas são as Províncias do Sul e Leste, bem como algumas áreas da Província do Norte.
Mesmo em distritos que normalmente não são considerados perigosos para os cristãos, há certas aldeias onde a perseguição é mais intensa, por exemplo, quando a aldeia é inteiramente budista cingalesa. No entanto, os problemas para os cristãos provenientes da minoria hindu ocorrem principalmente nas províncias do Norte e Leste.
Embora o Sri Lanka tenha tomado medidas positivas recentes para abordar a proteção das mulheres (como a criação de um serviço para pessoas desaparecidas e um serviço de reparações), o risco de violência sexual continua alto e os agressores frequentemente ficam impunes.
A agressão sexual é uma arma usada contra todas as mulheres, independentemente da religião. Uma mulher cristã, no entanto, ela é duplamente vulnerável por causa de sua fé. Quando mulheres e meninas cristãs são submetidas a esse tipo de perseguição, suas famílias ficam mais relutantes em permitir que elas saiam para qualquer trabalho relacionado à igreja novamente.
Nos últimos anos, houve poucos casos de abuso relatados, mas o assédio sexual continua sendo um problema contínuo. Um especialista do país resume: “Se há algum tipo de agressão sexual devido à fé, na maioria das vezes é considerado uma vergonha para toda a família. Isso também afeta suas perspectivas de casamento”. Isso significa que, embora a agressão sexual continue sendo um problema, esses casos raramente são relatados.
As mulheres convertidas também correm o risco de ter o acesso negado a materiais e ensinamentos religiosos cristãos e também podem ser proibidas de participar das igrejas, que são uma fonte de comunidade e comunhão, bem como do ensino cristão. Uma das formas mais comuns de perseguição que afeta as mulheres convertidas ao cristianismo é o isolamento e/ou prisão domiciliar. Mulheres e meninas são particularmente vulneráveis ??na sociedade patriarcal do Sri Lanka.
Como resultado, as mulheres convertidas mais do que os homens novos convertidos acham difícil seguir a fé e superar o assédio verbal que recebem de suas famílias e comunidades. Uma cristã do Sri Lanka comenta: “Até seus próprios filhos vão se opor a ela. As mulheres que se convertem estão sob grande aflição porque toda a sua família as repreenderá”. Em raras ocasiões, elas podem até ser divorciadas pelo marido devido à conversão.
Os líderes cristãos muitas vezes sofrem o peso dos ataques contra uma igreja. Como os homens geralmente estão à frente, eles são mais frequentemente vítimas de ataques físicos e ameaças (embora o Sri Lanka tenha um número comparativamente alto de líderes de igrejas mulheres). Pastores e líderes cristãos (e seus familiares) que têm um ministério ou igreja em áreas dominadas por cingaleses são frequentemente visados e assediados por monges budistas e aldeões por motivos relacionados à fé.
Pastores têm sido alvos e intimidados em suas próprias casas e comunidades. A sociedade no Sri Lanka é patriarcal e dominada por homens. Como tal, quando um homem é agredido fisicamente, também cria-se um sentimento de vergonha na família em comunidades rurais.
Eles também podem ser alvos das autoridades. Um pastor compartilha: “Pastores em [algumas] áreas não recebem as escrituras da terra. Eles moram em concessões de funcionários do governo para garantir que não construam igrejas... Os pastores também enfrentam desafios ao tentar obter a aprovação dos planos de construção de suas casas pelo serviço responsável do governo. As autoridades ficam relutantes em aprovar os planos por suspeitarem que os pastores tentem construir uma igreja”.
A perseguição a homens e meninos afeta particularmente o sustento das famílias cristãs. Especialmente nas comunidades rurais, os homens são os provedores financeiros da família, então perder um emprego ou sustento afeta financeiramente toda a família e cria medo.
Principalmente os homens sofrem assédio verbal no local de trabalho. Os relatórios indicam que os comércios dos seguidores de Jesus foram danificados e os homens cristãos tiveram empregos negados.
Além de orar por eles, você pode ajudar de forma prática doando para os projetos da Portas Abertas de apoio aos cristãos perseguidos. Doando para esta campanha, sua ajuda vai para locais onde a necessidade é mais urgente.
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HISTÓRIA DO SRI LANKA
Os primeiros moradores do território do Sri Lanka eram os Vedas, e por volta do século 6 a.C, o povo cingalês migrou a partir da região indiana de Bengala. O território foi disputado diversas vezes por tâmeis e cingaleses. Mas no século 15, a ilha foi invadida pela China e os monarcas tiveram que pagar impostos para o imperador chinês durante 30 anos.
A localização geográfica do Sri Lanka fez com que fosse um dos pontos estratégicos da antiga Rota da Seda. Em 1505, os navegantes portugueses desembarcaram na ilha e já encontraram os setes reinos em guerra. Mais tarde, os holandeses tomaram o território e, por fim, a Inglaterra tornou o Sri Lanka uma de suas colônias até 1948, quando o país se tornou independente a partir de tratados militares feitos com a Grã- Bretanha.
Porém, a independência não trouxe paz para a população, já que guerrilheiros da etnia tâmil reivindicaram um território para o seu povo. A violência e atentados contra as tropas cingalesas resultou em uma guerra civil de quase 16 anos, com a morte de 100 mil pessoas. Os conflitos acabaram em 2009, durante o governo de Percy Mahendra Rajapaksa, que durou de 2005 até 2015. Com um governo diferente eleito em 2015, Rajapaksa perdeu o poder e alguns grupos budistas radicais, como Bodu Bala Sena, perderam apoio aberto. Mas ainda eram publicamente ativos e têm dado apoio aos ataques às minorias, que têm como alvo a minoria muçulmana do país. Já o nível de violência contra os cristãos permaneceu mais baixo do que no governo anterior, que era mais permissivo.
O Sri Lanka não fez nenhum progresso tangível em termos de reconciliação nacional, tão necessária após uma guerra civil de uma geração. Dado que a maioria das redes na sociedade são baseadas em filiação religiosa e étnica, o desafio é imenso, pois os grupos étnicos e religiosos precisam superar a desconfiança.
No entanto, não está claro quem pode liderar esse processo. Com o novo governo iniciado em novembro de 2019, fortes tons nacionalistas e foco em questões de segurança se tornaram a norma. O fato de a família Rajapaksa ter vencido as eleições de 2019 com uma vitória esmagadora silenciou efetivamente todos os esforços de reconciliação e mostrou que a busca por segurança superou todas as outras necessidades que os eleitores podem ter.
Os cristãos ainda são afetados pelos ataques da Páscoa de 2019 e, embora as comissões de investigação tenham descoberto algumas deficiências e falhas de inteligência, há a sensação de que os ataques foram usados ??com fins políticos, em vez de melhorar a situação das minorias cristãs. Três anos após os ataques, ainda há mais perguntas do que respostas, levando o cardeal Ranjith a ameaçar pedir uma investigação internacional se não houver progresso pelas autoridades do país.
Por fim, o Sri Lanka luta para controlar a pandemia de COVID-19 e gerenciar e mitigar suas consequências econômicas e sociais.
HISTÓRIA DA IGREJA NO SRI LANKA
De acordo com a tradição da Igreja, o cristianismo foi apresentado no Sri Lanka pelo apóstolo Tomé, que foi para a Índia. Os cristãos nestorianos viveram no país por muito tempo antes do catolicismo romano ser introduzido na ilha por comerciantes portugueses no início do século 16.
No século 17, comerciantes holandeses levaram o protestantismo. Os missionários metodistas foram particularmente ativos no final do século 19, especialmente na fundação de escolas. Os cristãos são um dos poucos grupos da sociedade que incluem uma mistura de grupos étnicos cingaleses e tâmeis, embora a etnia também seja um problema entre eles.
Os cristãos podem ser encontrados em todo o país, mas estão mais concentrados nas partes leste, oeste e norte do país e são menos representados no Sul. Quando os portugueses chegaram ao Sri Lanka, construíram igrejas católicas romanas ao longo da costa leste e oeste e em algumas cidades.
Há menos igrejas católicas romanas nas áreas rurais, elas estão espalhadas por 12 dioceses. No entanto, as igrejas da Assembleia de Deus podem ser encontradas em muitas partes do país agora, especialmente nas áreas rurais. Há também missões anglicanas e igrejas metodistas em algumas áreas rurais.
O Conselho Nacional Cristão do Sri Lanka compreende as igrejas Anglicana, Protestante do Sul da Índia, Metodista, Batista, Reformada, Exército de Salvação, Presbiteriana, Igreja do Ceilão, Assembleia Deus e Igreja do Evangelho Quadrangular. Já a Aliança Evangélica Cristã Nacional do Sri Lanka representa principalmente grupos evangélicos e possui mais de 200 igrejas, representando mais de 200 mil cristãos.
CONTEXTO ATUAL DO SRI LANKA
Devido à história da guerra civil no Sri Lanka, o nacionalismo religioso prosperou. Grupos budistas radicais surgiram em todo o país e foram usados por governos anteriores como meio de manter as minorias religiosas sob controle. Com o novo governo Rajapaksa, eles podem ver um renascimento.
A principal vítima ainda é a minoria muçulmana, considerada uma ameaça particular caso ocorra a radicalização islâmica. O aumento da violência levou ao assassinato de muçulmanos em 2014 e novamente em março de 2018 em Kandy, quando vários negócios pertencentes a muçulmanos foram destruídos por radicais budistas.
Os cristãos também têm enfrentado ataques de grupos locais, frequentemente liderados por monges budistas. No período de pesquisa da Lista Mundial da Perseguição 2022, que viu restrições para conter a COVID-19, foram registrados mais de 80 ataques e incidentes de assédio em diferentes níveis.
Budistas radicais usaram o ataque do Domingo de Páscoa contra cristãos por militantes islâmicos em abril de 2019 como pretexto para atacar a minoria muçulmana. Observadores do país ficaram surpresos com o movimento perigoso do presidente Sirisena em perdoar o monge budista linha-dura Gnanasera Thera, chefe do radical Bodu Bala Sena em maio de 2019, um mês após o ataque de Páscoa. Ao conceder a anistia, o governo do Sri Lanka estava permitindo que ele ditasse o que deveria ser visto como “extremismo” na sociedade. O fato do presidente Rajapaksa deixar esse monge liderar a força-tarefa presidencial na tentativa de unir o país mostra o quanto esse governo está inclinado ao nacionalismo religioso e à paranoia ditatorial.
Apesar de sua promoção a um país de “renda média-alta”, os desafios sociais continuam a persistir, especialmente nas áreas rurais e devastadas pela guerra no Norte e Nordeste do Tamil. Os números da linha da pobreza, equivalente a menos de 5,50 dólares por dia, parecem administráveis em 12,3%, mas esses dados são de 2016.
Os 30,3% de desemprego juvenil relatados e 39% de emprego vulnerável parecem se aproximar da realidade e mostram os desafios sociais com que o governo precisa lidar. Esses desafios foram exacerbados pela chegada da COVID-19 em 2020 e pelas consequências econômicas que ela causou. Embora a migração sempre tenha sido forte, a COVID-19 levou a uma tendência reversa temporária, já que muitos trabalhadores migrantes retornaram ao Sri Lanka. Isso aumentou a pressão econômica e social no país.
Embora o Sri Lanka tenha as normas patriarcais profundamente enraizadas, a guerra civil deixou muitas mulheres viúvas e as tornou chefes de família. Em 2017, uma em cada quatro famílias era chefiada por mulheres, embora essas mulheres supostamente enfrentem pressões sociais e desafios contínuos no acesso a programas governamentais e na posse de propriedades.
A população muçulmana é estimada em 9,3%. De acordo com a sharia (conjunto de leis islâmicas), considera-se que uma esposa pertence à família de seu marido. Dentro desse contexto islâmico, as mulheres continuam a assumir posições subservientes aos homens. A violência doméstica, que já era comum, aumentou durante a pandemia de COVID-19 e pode ser usada como um meio de punir as mulheres convertidas.
Os cristãos, especialmente nas áreas rurais, lutam com empregos vulneráveis ??ou com desemprego, mas outra questão importante para eles é ter sua voz ouvida em uma sociedade cingalesa e budista dominante. Outro sinal de mais restrições na sociedade é que o serviço das ONGs do governo foi colocado sob o Ministério da Defesa pelo governo de Rajapaksa, de modo que os direitos humanos e as preocupações das minorias ficam em segundo plano.
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