Portas Abertas • 7 nov 2019
Cristãos enfrentam perseguição mesmo após o fim do regime
A Revolução Russa completa 102 anos e suas consequências foram além de econômicas e políticas, atingindo também a esfera religiosa do maior país em extensão territorial do mundo. Com a tomada do poder pelos trabalhadores russos em novembro de 1917, professar uma fé tornou-se um problema de Estado, capaz de levar os cidadãos para cadeias ou até sentenciá-los à morte, já que o fato de discordar da ideologia vigente era considerado uma oposição.
“O cristianismo é entendido como uma manifestação religiosa que ameaçaria esses valores, por ser entendido como uma religião ocidental e, portanto, inimiga. Deve-se considerar também o fato de que o cristianismo será sempre contracultural, esteja no Ocidente ou no Oriente. Sendo assim, a perseguição, mais intensa ou menos intensa, fará parte da caminhada da igreja cristã”, explica o pastor presbiteriano e historiador, Nilson Ribeiro Luz Junior.
Os novos governantes da Rússia, chamados de bolcheviques, ganharam a guerra civil no país e, em 1922, seus domínios se estenderam para 14 nações. Como os ideais da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) eram populares em todo mundo e a possibilidade de construir um futuro melhor atraía jovens a festivais, um deles aconteceria em Varsóvia em julho de 1955. Dentre os milhares de participantes do evento na capital da Polônia, estava Anne van der Bijl, jovem holandês que mais tarde seria conhecido como Irmão André.
Ao invés de participar da programação de doutrinação, ele saiu pela cidade em busca de conhecer igrejas sobreviventes e pessoas para entregar o livreto “O caminho da Salvação”. A partir daí, o Irmão André aceitou o desafio de levar Bíblias para cristãos que estavam isolados em países comunistas - assim nasceu a Missão Portas Abertas.
De mesma maneira que visitou a Polônia, Irmão André conseguiu pisar em solo russo pela primeira vez, ao acompanhar jovens da Holanda, Alemanhha e Dinamarca a um Congresso da Juventude Comunista. Mais tarde, ele retornou várias vezes de carro ao país com a missão de encontrar igrejas sobreviventes no coração da Cortina de Ferro, e distribuir Bíblias aos cristãos remanescentes. E assim foi durante todo tempo da existência da URSS.
Com o fim do regime comunista em 1991, os cristãos e missionários que estavam na região respiraram aliviados pela possibilidade de ter novamente uma liberdade religiosa. Mas, em 1997, o reconhecimento da Igreja Ortodoxa, islamismo, budismo e judaísmo como religiões verdadeiramente russas aumentaram a hostilidade contra as minorias religiosas vistas como ”estrangeiras”. Em junho de 2016, uma lei promulgada pelo presidente Vladimir Putin proibiu as pessoas de compartilharem a fé, classificando os indivíduos como “fundamentalistas radicais”. Ao ser enquadrado nesse delito, o cristão pode cumprir até seis anos de prisão, receber multas pesadas e os estrangeiros são deportados.
Em 2019, a Rússia entrou novamente na Lista Mundial da Perseguição com 60 pontos, ocupando a 41ª posição. Alguns países que fizeram parte da URSS também estão na mesma lista como: Uzbequistão (17º), Turcomenistão (23º), Tajiquistão (29º), Cazaquistão (34º)
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